spoiler visualizarisa 25/05/2021
Definitivamente o pior livro que li em 2020
De início, é importante salientar que adorei a premissa da história e esse foi o motivo do meu maior desejo de lê-lo. A ideia de narrar a vivência de centenas de milhões de mulheres que são submetidas a usar contadores de palavras em seus pulsos para impedi-las de falar e cortarem seus direitos e saber que haveria uma "heroína" que iria contra todo esse sistema foi motivador para mim.
Entretanto, um pouco depois que o livro começou a personagem central, Jean McLellan, consegue, convenientemente, ficar sem o seu contador em toda maior parte do livro e recebe todos os direitos que outras mulheres não conseguem. E esse é um dos principais problemas: o leitor nunca consegue sentir e "viver" como o patriarcado opressor afeta a vida de Jean (e, consequentemente, das outras mulheres), justamente por ela estar sob nenhum controle. Ela dirige, ela trabalha, ela tem liberdade para falar, ela faz comentários sarcásticos para seu supervisor incrivelmente misterioso que não a pune de forma alguma. É como uma versão infantil da opressão patriarcal, onde a autora quer fazer dela a vítima para que ela possa ser solidária, mas não quer realmente vitima-la.
Outra incômodo é que a Jean não faz absolutamente NADA pela resistência e, no entanto, a primeira linha do livro é sobre ela sozinha sendo creditada por tudo como se fosse a salvadora da pátria e das mulheres. Ela trata o marido dela de uma forma terrível, mesmo quando foi revelado que ele arriscou a carreia, a própria vida e da família, indo contra o governo em busca de maior liberdade para as mulheres; enquanto isso, Jean passa o livro todo o xingando (dizendo que ele é um homem fraco e que ele não bateria em alguém por cuspir no carro dela, sendo que ele nem estava presente no momento) e morrendo de amores por seu amante italiano de 1,80 de altura. E, no momento em que ele morre, ela só diz "de muitas maneiras, gostaria que ele ainda estivesse vivo". MULHER???
Eu também odeio a relação dela com o seu filho mais velho, Stephen. Havia tanto potencial ali... O fato do seu filho estar alienado pelo governo, e acreditando que ele deve ser subumano é aterrorizante. Porém, ao invés de haver falas e discussões sobre mulheres precisarem e de terem mais direitos e a importância deste (o que engrandeceria muito mais a crítica do governo no livro), Jean simplesmente o chama de babaca e dá um tapa em sua cara. Meus parabéns, Jean, resolveu todos os problemas do mundo! Ícone feminista!
Para finalizar a minha lista de coisas que eu detesto no livro, é o fato dele ser resumido a "opressão para mulheres brancas de classe média". A única tentativa de interseccionalidade é uma cena ridiculamente ruim em que uma senhora negra atrevida estereotipada aparece, anuncia que a interseccionalidade é uma coisa, e então basicamente nunca aparece novamente.
E, por favor, vocês podem me explicar o que foi aquela cena do macaco? Aquilo simplesmente não faz sentido! Ela quis testar uma arma biológica no macaco antes de fazer no LeBron, mas ninguém gostava dele e certamente não faria diferença alguma se eles o matassem de imediato, então por que decidiram fazer isso?