Luíza | ig: @odisseiadelivros 03/02/2020“[...] como perecemos, cada qual a sós.”[Tentarei não elogiar muito a Virginia nesta resenha]
Que escritora incrível! Cada experiência com um livro dela é algo único. É, de certa forma, aconchegante lê-la, porque ela traduz em uma linguagem poética sentimentos puramente humanos.
A história, como é comum na narrativa de Woolf, não é grandiosa. Inicia-se com uma família, os Ramsay, em sua casa de veraneio, com os oito filhos e alguns convidados. Por meio do fluxo de consciência, somos transportados para uma paisagem tranquila ao noroeste da Escócia, ao mesmo tempo em que somos levados por meio de uma linguagem muito primorosa para o interior da mente das personagens. Durante a narrativa, o leitor é exposto a temas relacionados ao casamento, às convenções sociais, à vida e à morte.
No início, é difícil se acostumar tanto com a narrativa quanto com os inúmeros nomes de personagens. No entanto, conforme se vai absorvendo os sentidos – porque, na prosa virginiana, os sentidos ficam, em sua maioria, a encargo do leitor –, tudo fica mais claro e você é levado a uma verdadeira viagem interior – não só das personagens, mas também a seu próprio interior.
A segunda parte, “O tempo passa”, é o ponto alto do livro. Os acontecimentos, destacados em colchetes, parecem irrelevantes diante às descrições da passagem do tempo e das estações. O que não impede que o leitor sinta com pesar esses acontecimentos. Cabe lembrar aqui que a história possui traços autobiográficos, há um pouco de Virginia – talvez em Lily Briscoe, em James e em Cam – e seus pais no casal Ramsay. Mas são traços, não representam a integridade, embora o posfácio de Hermione Lee, presente na edição do livro da editora Autêntica, tenho provado que o processo de criação desse livro, para Virginia, foi um expurgo para suas memórias mais íntimas, da relação com/dos pais e os fantasmas que a assombravam até então.
Um último adendo: a tradução do Tomaz Tadeu, como sempre, está impecável. Consegue traduzir – literalmente – com maestria uma maestra da linguagem.