Viniciuse009 01/06/2020
Ai que 50 tons: calma lá.
Caso você esteja lendo esta resenha para saber se vale a pena ler esse livro, te digo logo: você precisa levar algumas coisas em consideração. (Não vou fazer resumo)
Carne em Delírio é um romance simples: do ponto de vista da linguagem como da história em sim.
É um livro escrito por uma mulher, sobre uma mulher. É uma obra sobre a libertação da sexualidade da mulher; a mulher se libertando das amarras sociais que impões regras sobre seu corpo. É um romance sobre a liberdade feminina. Cristina, o típico estereótipo romântico (alva, curvilínea, rica), nada tem de recatada e do lar. Ela não se curva à sociedade; apesar de se casar duas vezes sem amor verdadeiro, pois ela ainda está inserida nesse sistema, não se restringe sexualmente a seus maridos; a vinda de Alexandre (uma versão menos sadomasoquista e que mais bruta e o Sr. Grey), é o fator libertador: por esse amor, por esse prazer erótico que ele a faz sentir, ela corre atrás. Então, se você estiver a procurar uma pimenta, esse livro é uma boa pegada.
É um romance importante, visto ter sido escrito por uma mulher em tempos de grande opressão às artes, em especial à mulher escritora. Junta essa opressão a uma escrita erótica, homoafetiva? Pronto... um prato cheio para a perseguição. Cassandra foi uma das escritoras mais vendidas e também mais perseguidas de seu tempo. Mas aí eu te pergunto: quantas vezes já ouvimos falar dela (na escola ou na faculdade?). Ler Cassandra é mais que ato de pessoal, é político, cultural. Leiamos mulheres, resgatemos nossa história e vamos dar vozes àqueles cuja opressão quis calar. A voz destas figuras não pode e não deve morrer.
Agora... se você vem para aqui querendo encontrar o melhor da literatura brasileira, talvez se decepcione. É um romance sem complicações (e isso não é sinônimo de ruim). Mas é falho, especialmente se o considerarmos uma obra pós-modernista. É bem romantizado: os personagens, os diálogos; acontecimentos, falas, não de uma mulher de seus 25 anos ou de um homem de seus 28, mas ambos parecem dois adolescentes de 14. Cenas dramáticas, estereótipos (claro, precisamos considerar a época, o público, a temática), mas ainda assim, para um romance pós 40, ainda é muito europeizado, e romantizado,