Estórias abensonhadas

Estórias abensonhadas Mia Couto




Resenhas - Estórias abensonhadas


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Lipe 14/11/2020

Mia Couto mostra toda a sua sensibilidade poética diante da guerra, da solidão, do caos com contos "tão reais" com experimentos linguísticos que universalizam a vida africana. Suas obras me fizeram lembrar muito de João Guimarães Rosa e Clarice Lispector.
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Nara 12/07/2021

Nunca compare um romance a um livro de contos. Este é livro de contos. Bons contos, alguns complexos, quase um livro de poesia para quem não é da poesia.
Confesso que alguns contos sequer entendi, ou entendi pouco. E tem contos belíssimos. Todos permeados de magia. Poderia dizer realismo mágico, mas realmente esse livros está mais no mundo dos sonhos que no real.
Então, agora vou comparar. Gosto mais de O fio das missangas do mesmo autor. Mas não me arrependo nem um segundo da leitura deste aqui. Recomendo.
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Hera 21/04/2022

Coisa boa
São contos bem curtos, cheios de lirismos e com um clima mágico ou sobrenatural que acredito refletir culturas moçambicanas. São todos muito bons. Recomendo bastante.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 10/03/2020

Mia Couto - Estórias abensonhadas
Editora Companhia das Letras - 160 Páginas - Capa de Alceu Chiesorin Nunes - Ilustração de Angelo Abu - Lançamento no Brasil: 2016 (9ª reimpressão).

É sempre um prazer renovado ler o moçambicano Mia Couto, vencedor do prêmio Camões 2013 e primeiro autor em língua portuguesa a ser finalista do Booker International Prize na versão de 2015. A sua prosa poética é inspirada na rica tradição do folclore africano em contraste com a dura realidade das ex-colônias, depois dos efeitos devastadores de um movimento de guerrilhas pela independência de Portugal (1961 a 1974), sucedido por uma longa e violenta guerra civil (1977 a 1992) que deixou o país em destroços. Este livro, lançado originalmente em 1994, segundo Mia Couto, reúne contos escritos depois da guerra, "entre as margens da mágoa e da esperança", quando tudo parecia indicar que Moçambique não conseguiria superar a destruição, no entanto, ainda citando a linda introdução do autor: "Onde restou o homem sobreviveu semente, sonho a engravidar o tempo. Esse sonho se ocultou no mais inacessível de nós, lá onde a violência não podia golpear, lá onde a barbárie não tinha acesso."

Em Estórias abensonhadas novamente encontramos a força e a beleza da linguagem inventada por Mia Couto, cuja habilidade para produzir neologismos só é comparável ao do nosso grande João Guimarães Rosa. Assim, a chuva que cai depois de um longo período de seca é mais do que abençoada, é preciso criar uma nova palavra para imaginá-la de maneira completa: abensonhada. Essa chuva redentora é um símbolo do final do sofrimento do povo moçambicano, depois de anos de guerra a terra estaria "se lavando do passado".

"Estou sentado junto da janela olhando a chuva que cai há três dias. Que saudade me fazia o molhado tintintinar do chuvisco. A terra perfumegante semelha a mulher em véspera de carícia. Há quantos anos não chovia assim? De tanto durar, a seca foi emudecendo a nossa miséria. O céu olhava o sucessivo falecimento da terra, e em espelho, se via morrer. A gente se indaguava: será que ainda podemos recomeçar, será que a alegria ainda tem cabimento? Agora, a chuva cai, cantarosa, abençoada. O chão, esse indigente indígena, vai ganhando variedades de belezas. Estou espreitando a rua como se estivesse à janela do meu inteiro país. Enquanto, lá fora, se repletam os charcos a velha Tristereza vai arrumando o quarto. Para Tia Tristereza a chuva não é assunto de clima mas recado dos espíritos. [...]" - Trecho de "Chuva: a abensonhada" (p. 43)

Em O cego Estrelinho, um argumento inesquecível: um cego conhece o mundo por meio das descrições extraordinárias de seu guia, um mundo imaginado que se torna muito mais interessante do que o mundo real. Quando o guia é convocado para o serviço militar, deixa a sua irmã Infelizmina como substituta, mas que tristeza, ela "não tinha nenhuma sabedoria de inventar. Ela descrevia os tintins da paisagem, com senso e realidade." O cego perde toda a fantasia a que se acostumara com seu guia original, mas a vida lhe reserva uma surpresa.

"O cego Estrelinho era pessoa de nenhuma vez: sua história poderia ser contada e descontada não fosse seu guia, Gigito Efraim. A mão de Gigito conduziu o desvistado por tempos e idades. Aquela mão era repartidamente comum, extensão de um no outro, siamensal. E assim era quase de nascença. Memória de Estrelinho tinha cinco dedos e eram os de Gigito postos, em aperto, na sua própria mão. [...] Gigitinho, porém, o que descrevia era o que não havia. O mundo que ele minuciava eram fantasias e rendilhados. A imaginação do guia era mais profícua que papaeira. [...]" - Trecho de "O cego Estrelinho" (p. 21)

É claro que, mesmo durante a guerra, o amor tem um importante espaço na poesia de Mia Couto, ainda que seja um amor estranho e inadequado como o que é descrito no conto Os infelizes cálculos da felicidade sobre a paixão de um professor de matemática por sua aluna, "menina de incorreta idade". Júlio Novesfora era um homem que sempre pensara que "Do ponto de vista da álgebra, a ternura é um absurdo. Como o zero negativo", contudo ele perde totalmente o domínio da lógica e dos rigores da geometria ao se apaixonar pela menina.

"O homem desta estória é chamado de Júlio Novesfora. Noutras falas: o mestre Novesfora. Homem bastante matemático, vivendo na quantidade exata, morando sempre no acertado lugar. O mundo, para ele, estava posto em equação de infinito grau. Qualquer situação lhe algebrava o pensamento. Integrais, derivadas, matrizes: para tudo existia a devida fórmula. A maior parte das vezes mesmo ele nem incomodava os neurônios: '– É conta que se faz sem cabeça.' Doseava o coração em aplicações regradas, reduzida a paixão ao seu equivalente numérico. Amores, mulheres, filhos: tudo isso era hipótese nula. O sentimento, dizia ele, não tem logaritmo. Por isso nem se justifica a sua equação. Desde menino se abstivera de afetos. [...]" - Trecho de "Os infelizes cálculos da felicidade" (p. 93)
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Sara Sousa 21/11/2020

Contos
Mia Couto traz nessa obra lindos ensinamentos em cada pequeno conto. Utiliza o contexto de ausência de guerra para trazer histórias tão humanas e reais. A fantasia se mistura de forma singela à realidade, o sonho sobrepõem as mazelas de personagens que há muito não sabem o que é sonhar.
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Cleber.Laia 17/02/2023

Devo confessar minha dificuldade com os contos, mas Mia Couto autor africano, torna essa "tarefa" leve e divertida, com uma mistura de estorias que devem ser apreciadas em doses homeopáticas.
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Fer 12/10/2022

"Eu não quero subir para la, para as eternidades. Eu quero ser passaro é para voar a vida. Eu quero viajar é neste mundo. E este mundo, meu filho, é coisa para não se deixar por nada desse mundo."

Coisa mais linda esse livro! Mia Couto nos entrega, em "Estórias Abensonhadas", um compilado de contos que nos mostra o porquê de seu nome ter virado uma referência nas literaturas de língua portuguesa: ele faz das palavras poesia, criando neologismos carregados de sensações e sentimentos, nos trazendo histórias curtas cheias de riqueza.

Recomendo para todos. Uma leitura rápida e uma ótima porta de entrada para quem não conhece o autor ou literaturas de países africanos.
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Anna 28/03/2023

Livro de contos
Depois de muito tempo, finalmente vou fazer a resenha! Demorei porque:
1- estava com preguiça confesso
2- não sabia muito bem como descrever o livro
Vou tentar ser o mais prevê possível?
O livro possui vários contos que estão relacionados com a guerra civil que aconteceu mais ou menos na década de 70, em Moçambique.
A escrita não é fácil (porque o livro é cheio de metáforas), mas também não é impossível de entender.
Vou fazer um top 5 contos que eu mais gostei:
1- O perfume
2- Na esteira do parto
3- Sapatos de tacão alto
4- Noventa e três
5- O poente da bandeira
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Dans.Castelhano 01/12/2022

É bom quando você lê um livro onde te traz o prazer devora-lo.
O total de 26 contos e dois em especifico se destacam, sendo eles O PERFUME e A VELHA ENGOLIDA PELA PEDRA.

Ler Mia Couto faz com que você se sinta parte da obra.
Por diversas vezes você consegue visualizar tudo que está escrito e fazer parte do momento.

Uma leitura rápida e acima de tudo acolhedora.
Para aqueles que tem interesse de se aprofundar em autores Africanos, acredito que esse seja um ótimo começo.
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Dilso 13/09/2024

Incrivelmente lindo!
Tinha mesmo que ser Mia Couto para fechar esta centena de livros lidos até agora por mim neste ano. Desde ontem à noite estive relendo-o e, mesmo sabendo o ponto de cada conto, ainda me surpreendia. Este livro é uma clara alusão/homenagem ao "Primeiras Estórias", de Guimarães Rosa. Motivo de eu ter optado por reler os dois quase em sequência. Dá para perceber claramente o tom roseano misturado ao poético de Manoel de Barros ? autores, aliás, celebrado há muito pelo autor. Foi quase numa sentada, e num só suspiro... reli como quem vive, revivi como quem sonha, sonhei como quem morre, morri como quem ama...
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Janaina 05/04/2022

Contos de Mia Couto
Cheguei a este livro de contos de Mia para ler o conto A guerra dos palhaços. Um conto curtíssimo, sem as metáforas que costumam embelezar o texto do autor mas com uma carga reflexiva de cair o queixo. O texto nos leva a pensar sobre manipulações políticas e midiáticas que levam a consequências irreversíveis, sobre extremismo e inércias, que se repetem a cada dia e em cada canto do planeta, sobre a forma de constituição e desenvolvimento da violência. Sensacional!

Mas, além deste, o livro traz mais de 20 contos, escritos depois da guerra de Moçambique, a maioria anteriormente publicada em jornal, outros inéditos.

Em praticamente todos os textos encontramos as características que nos permite identificar a obra de Mia Couto: as metáforas, os neologismos, a utilização exacerbada da rica cultura moçambicana.

Apesar de curtinho, vale à pena ler devagar, para ter tempo de usufruir de toda beleza que cada texto nos traz.

Meus preferidos foram (além do que me trouxe ao livro): Noventa e três; O abraço da serpente; Sapatos de tacão alto; Os infelizes cálculos da felicidade e Jãotónio, no enquanto.
driesvansteen 10/02/2023minha estante
UAU! lindo saber disso tudo! linda resenha.




Leila 19/05/2012

Uma mostra cultural de um país em transição
Imagine um país em guerra; Agora imagine que a guerra terminou; Você sabe qual é o sentimento da população? Quais são as histórias que eles têm para contar?

"Estória abensonhadas" mostra um pouco do que acontece em um país pós guerra: Amores são feitos e desfeitos, algumas pessoas se afogam em mágoas e outras tentam construir uma nova vida.

Tudo isso é mostrado em vinte e seis contos que devem ser lidos sem pressa; para que você possa sentir e compreender os personagens. O autor escreve "numa prosa poética e carregada das tradições orais africanas", como você pode notar nessa frase:

"A mulher zululuava pela casa, num corre-morre, de aflição para susto, mosca em rabo de boi". - As flores de Novidade, pg. 17 -

No final do livro tem um glossário para ninguém ficar com medo do Mpfuvo (Hipopótamo) e as palavras que não estão no glossário ficam a cargo da sua imaginação e do seu entendimento da história.

O livro é uma mostra cultural de um país em transição, cercado de alegrias e tristezas.
Para se ler quando/se quiser uma prosa poética rica em história e cultura.

Resenha no blog: http://followthebookleaves.blogspot.com.br/2012/04/resenha-estorias-abensonhadas.html
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Melissa Padilha 21/07/2013

Estórias Abensonhadas
Sabe quando você gosta tanto, mas tanto de um livro que não sabe bem o que dizer ? Pois é, é o caso desta resenha, não sei bem o que dizer além de .... que livro maravilhoso!

Este é um livro de contos escritos por Mia Couto após o fim da guerra em Moçambique e foi publicado em 1994 pela primeira vez, mas no Brasil só chegou em 2012 nesta edição da Cia das Letras.

Eu nunca tinha lido Mia Couto, tive meu primeiro contato com os livros dele assistindo os vídeos da Denise Mercedes do blog Meus Olhos Verdes e da Juliana Gervason do blog O Batom de Clarice. São tantos elogios que, é impossível não ficar com aquela pulga atrás da orelha de curiosidade, a pulga ficou atrás da minha orelha e lá fui eu ler Mia Couto.

Comecei por Estórias Abensonhadas, ainda não li outros livros dele, mas acho que comecei pelo livro certo. Confesso que tenho minhas barreiras literárias com contos, acho que a razão de não gostar tanto de lê-los vem do fato de que as histórias acabam tão rápido que não tenho tempo para saboreá-las e me apegar a elas como se apega a um livro e suas personagens e nunca mais se quer larga-los. Foi aí que Mia Couto me fez ver os contos de uma forma diferente, eu me deliciei em cada uma das histórias, pequenos fragmentos fantásticos de retratos de vida que Mia Couto criou divinamente.

São 26 contos de pura poesia, Mia Couto tem uma forma de escrever que enfeitiça e apaixona, a delicadeza e a sutileza com a qual trata muitas vezes de assuntos delicados é impressionante. Desculpe se nessa resenha mais pareço uma leitora apaixonada do que uma simples leitora, mas fato é que a escrita de Mia me encantou de uma forma como pouquíssimos autores conseguiram.

O livro trata de assuntos como guerra, morte, dor, abandono, sofrimento, mas também a cada história a esperança de um novo começo é contada. São histórias de recomeço, que trazem lágrimas e sorrisos, as vezes separados mas, as vezes juntos.

As analogias com Gabriel Garcia Marquez e João Guimarães Rosa não são à toa, guardando as peculiaridades de cada autor, todos compartilham a criação de histórias que vagueiam entre o real e o fantástico, entre contar as histórias de seus povos, de sua cultura, crendices, mitos, daqueles detalhes que só quem sabe é quem os conhece, porque os vive ou os ouve. Nesses quesitos não vejo autores mais espetaculares do que estes três. Acho que parte da minha completa admiração por Mia Couto provém do mesmo tipo de leitura que Guimarães Rosa fazia do sertão brasileiro e Mia Couto faz de seu país Moçambique.

Por todo o livro há um jogo com as palavras, por vezes combinando-as ou criando nomes de personagens mais do que sugestivos. São trocadilhos, criações que dão um toque especial e querem dizer mais do que um simples trocadilho.

A leitura desse livro só pode produzir uma sensação : de encantamento, seja com a escrita poética e doce de Mia Couto, seja pela estórias cheias de esperanças e recomeços banhadas nas histórias orais, lendas e mitos de um povo, rasgando a sua essência e seu espírito na nossa frente, seja pelo que for é daqueles livros que a gente fica triste quando acaba, como se sentindo abandonada, abandonada pela sensação de conforto e carinho que cada palavra magnífica escrita nessas estórias pôde trazer.


site: http://decoisasporai.blogspot.com.br/2013/06/resenha-estorias-abensonhadas-de-mia.html
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Marcela Mosqueti 05/12/2020

São as histórias que nos abensonham para o bem viver depois de dilacerada a alma. São elas que nos devolvem ao corpo a vontade de continuar atravessando o rio da vida, mesmo depois de atrocidades indiziveis como a guerra. Um povo só existe pela memória de suas histórias e tradições que abençoam aos que não chegaram ainda na outra margem. Ainda que tentem apagar as práticas de um povo, sempre terá alguém que, ao dormir, sonha com elas para que sejam reavivadas. Essas são pequenas grandiosas histórias sobre Resistência e Renascer.

A força da semente que sonha em brotar é algo que nem a mais severa dor é capaz de extinguir.
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jesusa02 16/12/2020

Prosa poética
Série de contos concebidos pós guerra em Moçambique.
Os contos são recheados de metáforas, trocadilhos e jogos de palavras que brincam com o leitor de maneira provocante, misturando o fantástico da cultura africana e o mundo real, despertando uma reflexão sobre a verdadeira natureza humana.

"Existe afinal outra incurável doença: a síndrome da humanodeficiência adquirida. Proliferam as ciências desumanas e os cientistas ocultos"

"Mas o soldado é totalmente militar: está só cumprindo ignorância, jurista de chumbo, incapaz de distinguir um fora da lei de um lei de fora . A medidas que o soldados desfere mais violência , a bandeira parece perder as cores"

"Cada ser revela apenas luz que dele emana"

"O erro da pessoa é pensar que os silêncios são todos iguais. Há distintas qualidades de silêncio. É assim o escuro, este nada apagado que meus olhos tocam: cada um é um, desbotado á sua maneira"
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