fernandaugusta 18/08/2021Um desfecho digno da realeza"Paz, meu coração. Obedeça-me e deixe de viver. Pois eu já o fiz."
Assim, Cleópatra encerra o décimo pergaminho de suas memórias em "O Beijo da Serpente". A história pode nos mostrar os fatos crus, mas o romance de Margaret George, através do relato da Rainha em primeira pessoa, dá um colorido especial à vida da maior estadista da Antiguidade. Afinal de contas, quem poderia dizer que o Império Romano ia se encolher diante de uma Oriental?
Começamos este último volume com Cleópatra e Marco Antonio fundando um Império Romano Oriental, apartado de Roma. Ele, após anexar a Armênia, faz a doação de territórios romanos aos filhos e os nomeia reis, reconhece Cesarion como único herdeiro de César, e se divorcia oficialmente de Otávia.
O racha causado por estas atitudes leva Otávio a mobilizar todas as legiões e a frota romana contra Cleópatra e Marco Antonio. Mesmo com toda a preparação e com o dinheiro do Egito bancando tudo, é ladeira abaixo para o casal. Otávio faz uma propaganda pesada contra Marco Antonio e Cleópatra, e Agripa acaba cortando a rota de suprimentos do exército oriental com a esquadra romana, o que resulta em fome e deserções por todos os lados.
Em Áccio, nem houve batalha pelo poder. O que aconteceu foi uma fuga, a muito custo. A derrota e as traições deixaram Antonio fora de si, e Cleópatra teve que lidar com tudo sozinha de volta ao Egito.
Para evitar ser levada a Roma em Triunfo, ela planeja cuidadosamente sua morte, pretendendo trocá-la pela manutenção de seus filhos no trono e pelo tesouro do Egito.
Como eu disse, é ladeira abaixo. Alexandria é tomada após o avanço de Otávio. Antonio se suicida e 10 dias depois a Rainha também se mata com uma picada de serpente sagrada. É o fim da dinastia dos Ptolomeu, com o Egito sendo anexado como província romana.
Este livro tem um tom de despedida, melancólico, de muitas perdas e decisões mal calculadas. Marco Antonio e Cleópatra tem objetivos políticos diferentes: ele ainda é romano, afinal. Ela não consegue tê-lo por inteiro, só no final da história, após muito sofrimento. Apesar de ser muito inteligente e de ter os recursos, o fato de ser mulher e oriental a desqualificava aos olhos dos homens. Na verdade, a guerra foi declarada contra ela. Antonio não era César, César era muito mais experiente e equilibrado. Depois do romance entre Cleópatra e César eu cheguei a ficar com pena dela de tanto que ela teve que remar por causa do temperamento de Antonio. Mesmo assim, ela é leal e apaixonada por ele até o fim.
Cesarion, o primogênito dela, foi quem pagou o preço, afinal Otávio não aceitaria nenhum rival, então não houve clemência. O embate pessoal de Otávio e Cleópatra em Alexandria é uma passagem muito esperada e muito marcante. Ele a reconheceu como sua maior adversária, mesmo em seu Triunfo. E ela passou para a eternidade sob o manto de Ísis, e tornou-se ela própria deusa e mito.
Sofri demais em me despedir dela novamente nesta releitura. A Cleópatra desta obra é extremamente carismática e humana. As notas da autora e o embasamento histórico me fazem pensar que ela deve ter sido tudo o que está escrito e muito mais, para sobreviver tanto tempo na história e no imaginário popular. Eu lhe teria sido tão fiel quanto Olímpio, Mardian, Iras e Charmian, seus amigos na eternidade. A mais famosa da História, Salve, Rainha Cleópatra!