Naiana 26/05/2022
Linearidade ou flashbacks, não é bem assim que essa história é escrita...
Ganhei esse livro de brinde da Companhia das Letras no Projeto do Livro Imperfeito, e o defeito nem era nada demais, os livros que comprei e que me deram esse de brinde ainda nem li, 'Coisas que os homens não entendem' me chamou a atenção e quis começar com ele, saber se essa novidade que eu não escolhi seria algo que me surpreenderia, o título e a capa me chamaram a atenção e embarquei nele, mas... comecei errado, de início achei bem chato e confuso e deixei ele de lado enquanto ia para outras leituras mais fluídas...
Bem, sabe essa volta que dei aí em cima? Ler esse livro é mais ou menos isso, não comece achando que será uma leitura normal, fluída, talvez com um vai e vem entre presente e passado da forma que você está acostumado, não é bem assim que ela se desenvolve.
'Coisas que os homens não entendem' conta a história da Nita e de um assassinato, um assassinato que ela está diretamente envolvida, e isso não é spoiler, pois logo ao início isso nos é contado, mas o mais importante é saber que essa é a história da Nita, dela enfrentando seus fantasmas, em seu processo de racionalização dos fatos, de descobertas e redescobertas.
Como falei antes, não será um processo linear, ao mesmo tempo que achamos que ela nos está contando sua história, ou a algum outro personagem, percebemos que ela conta a história a si mesma, ela revive fatos e se perde em devaneios sobre aquele fato, e quando comecei a entender que a história era dela com ela mesma eu me encontrei na leitura, ela deixou de ser chata, e passou a ser muito interessante.
Eu tenho esse hábito da Nita, já fui chamada de prolixa inúmeras vezes, e me perco em devaneios fácil fácil quando discuto comigo mesma sobre algo que me incomoda enquanto falo com a pessoa que me trouxe esse desconforto, na minha cabeça, temos altas discussões, em que de repente percebo que estou em um caminho nada a ver com o assunto, mas sabe, ele tem a ver em algum ponto e nisso vou e volto, no meu caos interno e muito raramente essa conversa, quando se concretiza, é como foi idealizada.
Bem, mais uma vez, esse volteio foi para tentar demonstrar como será a leitura de 'Coisas que os homens não entendem', será assim, um vai e vem, com coisas aparentemente aleatórias entrando no meio da narrativa e ela sendo recontada novamente com novos fatos e diferentes dados, enquanto a Nita tenta se entender, entender se ela está indo ou vindo, se ela finalmente está chegando ou partindo outra vez, fugindo de si mesma, de seus sentimentos, se entorpecendo em sua dor.
É um livro de autorreflexão, e por mais que seja curto, não é para ser lido correndo, você tem que se permitir estar no lugar de Nita, refletir com ela, avaliar cada ponto da sua história e da história daqueles que compõe a sua história, tudo faz parte da trama e tem muita importância, se você estiver disposto a entrar com ela nessa reflexão.
E agora. enquanto escrevo, percebo que gostei muito do livro, inicialmente pensei em classificá-lo como bom, mas agora, pensando melhor sobre a experiência de lê-lo e de como a autora lhe enreda, lhe faz pensar e emergir na trama, bom, ela realmente fez com que eu me conectasse com a Nita, não concordo com todas as atitudes dela, mas consigo entendê-la. É um livro muito diferente de tudo que já li até hoje, e ao mesmo tempo muito familiar, pois parece se passar na minha cabeça. Um caos desorganizado e relativamente organizado, onde apesar da confusão, no final tudo faz muito sentido. Realmente gostei bastante.