Mariana 09/02/2014Quem não conhece Tarzan, minha gente? Descobri um dia desses que a história do homem-macaco é um clássico e que deu na telha do autor escrever 24 (ou 25, se não me engano) livros sobre esse personagem tão único. Acabei dando a sorte de encontrar o primeiro da série em inglês, texto integral, na livraria lá do colégio e como sempre fui fã dos filmes dele da Disney resolvi ler.
Pra começar: não tem nada a ver com o filme da Disney. Tá, a ideia principal do menininho que cresceu na selva tá lá mas o conteúdo do livro é bem mais adulto (incluindo morte, sangue e tal).
Os primeiros capítulos contam da viagem "across the ocean" do nobre inglês Lorde Greystoke com sua esposa Lady Alice para algum lugar longíquo na costa da África, quando de repente, os marinheiros-malvadões-bandidos ("cutthroats") fazem um motim e tomam o navio das mãos dos oficiais.
Para poupar a vida do casal (lê-se: para se livrar dos dois sem ter que matá-los), o chefe dos bandidos deixa os dois numa praia deserta ao lado de uma foresta tropical gigantesca e ameaçadora. Lá, sem muita esperança de resgate, John Greystoke reúne forças para lutar pela sobrevivência dele e, principalmente, da sua esposa que está grávida de um menininho. Ele leva meses para construir uma confortável casa na árvore que os protege de predadores. Certo dia eles são atacados por um gorila assustador e Alice é obrigada a usar uma arma de fogo pra salvar o marido. Apesar de demonstrar coragem, o trauma foi tão grande que ela nunca mais foi a mesma. John agora tinha duas preocupações: o bebê recém-nascido e a esposa frágil e mentalmente instável. Um ano depois que o bebê nasceu, Lady Alice falece dormindo e Lorde Greystoke é atacado por uma tribo de gorilas. Esse momento é a chave do livro.
Enquanto Lorde Greystoke morre atacado pelo gorila-chefe, a gorila Kala (cujo filhotinho acaba de morrer) encontra na cabine da árvore a estranha criatura branca e sem pêlo que ela passa a adotar e chamar de Tarzan.
Tarzan desde pequeno achou que era um macaco e ao longo da sua infância sempre se perguntou porque o reflexo dele na água era diferente dos outros, porque ele não era tão forte e feroz (muito embora muito mais veloz e de pensamento incrivelmente mais evoluído) ou porque ele não tinha pêlos. Embora os gorilas da tribo o achavam meio esquisito, Kala mantinha com ele uma relação verdadeira de mãe e filho, e ele dedica à gorila todo o amor que poderia ter sido para a graciosa e bela Alice.
Na adolescência, Tarzan descobre seu tesouro particular: a cabine na árvore e seus inúmeros objetos desconhecidos apenas esperando para serem explorados. Cabine na árvore que ele nem imagina ter sido onde nasceu e o leito de morte de seus verdadeiros pais. O alvo principal da curiosidade do menino-macaco são os livros. Aqueles traços e códigos nunca fizeram sentido pra ele e ele não tinha a mínima ideia da ideia da ideia do que tudo aquilo poderia significar. Mas, por mais coincidência que pareça (e esse livro é realmente cheio de coincidências), ele encontra o livro do alfabeto com o qual ele tava aprendendo a ler quando era apenas um bebê, e começa a associar figuras com aqueles conjuntos estranhos de traços (por exemplo, ele sabia que "tree" significava árvore e por aí vai). Anos se passam e Tarzan continua indo para a cabine, se distanciando cada vez mais da tribo, para desvendar o segredo daquelas páginas.
Há um ponto no livro em que ele já reconhece várias e várias palavras a ponto de saber ler em inglês e fazer uma tentativa à escrita. Nesse meio-tempo ele também lida com os conflitos da tribo dos gorilas e uma estranha tribo africana (vale dizer, de canibais) de homens que instala sua vila no meio da floresta. É o primeiro contato que ele tem com a raça humana depois de mais de uma década vivendo no meio de macacos.
Tarzan começa a pensar na possibilidade que talvez ele não seja um primata e sua superioridade em relação aos animais começa a ficar mais clara pra ele... o que o acaba levando ao posto de chefe da tribo dos gorilas. Talvez a falta de pêlo, o rosto fino e a inteligência que busca o conhecimento dos livros na cabine queiram dizer algo mais.
Mas a certeza só chega mesmo quando certos viajantes aportam na costa africana. Dessa vez, ao invés de canibais, Tarzan faz contato com um civilizado grupo de brancos que cruzaram oceanos e continentes em busca de um tesouro. Não é só isso, é também a primeira vez que Tarzan vê de perto uma (linda e arrasadora) moça americana, por quem ele se apaixona de vez.
É aí que o livro diverge muuuuuuito do filme da Disney. Acontece muita coisa mas o que mais me prendeu foi a vontade de saber o que ia acontecer com o amor de Tarzan por Jane. Uma frase da sinopse que eu gosto muito é "Now suddenly, Tarzan had to choose between two worlds..." e realmente: iria um homem, nascido filho de um nobre inglês porém com coração selvagem e criado na mata por uma tribo de gorilas se adaptar à vida na cidade? Ou iria uma jovem civilizada, deixar de lado um possível casamento com algum rico senhor de terras para viver no meio da selva com esse "god-like man"?
Outra coisa que te prende muito ao livro é a curiosidade de saber como e se Tarzan vai descobrir seu passado, quem são seus pais e quem ele realmente é.
Não quero dizer mais pra não dar (mais) spoiler mas o fim do livro deixou claro pra mim (depois dos meus sucessivos chiliques sobre a frase final) que Tarzan agregou em sua personalidade o melhor das duas raças. A inteligência e pensamento rápido do homem mas, principalmente, o coração despretensioso e sincero dos animais selvagens.
Tô louca pra ler os próximos 24 livros!