Lay 21/03/2021Seguindo com minha missão de ler mais clássicos, chegou o momento de um livro nacional e nada melhor do que começar com a Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira romancista negra brasileira. É verdade que até pouco tempo não se tinha noção da existência deste livro até que um pesquisador descobriu uma edição fac-símile em um sebo e trouxe essa obra para que todos nós tivéssemos a oportunidade de lê-la.
Neste romance a autora nos apresenta Úrsula, uma jovem que vive sozinha com a mãe enferma na fazenda da família com poucos escravos. A vida dela é dedicada ao cuidado da mãe, que vive acamada, mas, como era esperado das jovens do século XIX, sonhava em casar e constituir uma família. Mas Úrsula não é a primeira personagem que conhecemos nesta história.
Tancredo passou por uma grande decepção amorosa e por isso acredita que não é mais possível encontrar outro amor. Provavelmente em algum momento ele se case, mas nunca mais será a mesma situação. Entretanto, em uma viagem de trabalho, fica entre a vida e a morte e é salvo por Túlio, um escravo. Salvando o homem, Túlio o leva para a casa de sua senhora, e Úrsula passa a cuidar também deste enfermo.
Enquanto cuida de Túlio, Úrsula percebe que sente uma afeição por ele que cresce a cada dia e, Tancredo, ao se ver melhor, também sente-se encantado com a jovem. A afeição que cresceu também foi entre Tancredo e Túlio e, enquanto Tancredo é extremamente grato a Túlio por ter salvado sua vida, Túlio tem certeza de que Tancredo é uma boa pessoa e não apenas porque ele quer recompensá-lo por sua boa ação.
Porém, enquanto Tancredo, recuperado, segue sua viagem na esperança de voltar logo para perto de Úrsula, outro personagem aparecerá para atrapalhar o romance.
Ainda que seja um romance da ambientado no Brasil do século XIX enquanto a escravidão era uma realidade, outros personagens se destacam nesta história: Túlio e Susana. Dois personagens negros fundamentais em Úrsula. Túlio e seu coração puro; Susana e sua história de vida, lembrando de quando era livre em sua terra natal e o que escravidão tirou dela e o que jamais conseguiria tirar. Além disso, mais importante do que um romance, é o fato de este livro ter sido escrito em uma época de escravidão por uma mulher negra e nordestina que, sabendo que dificilmente conseguiria publicar seu livro, ainda assim o escreveu e colocou, em meio ao romance, assuntos de extrema importância: o que levou os homens brancos a acreditarem que tinham direito sobre a vida dos negros? Por que tirá-los de sua terra natal e fazer deles escravos? E de onde vinha o direito do homem sobre a mulher?
Com certeza neste livro vocês encontrarão mais do que um romance do Brasil escravocrata; encontrarão muito o que refletir a cerca dos direitos humanos, escravidão, machismo e vejo também como uma busca pela realização de um objetivo, mesmo que lhe digam que você não pode fazer algo, afinal, quem esperava que uma mulher negra e nordestina publicasse um livro no Brasil escravocrata? Mas aqui estamos nós, no século XXI, ainda lutando pelos mesmos direitos e tendo a oportunidade de divulgar esta obra de suma importância para nossa sociedade. Um obrigada especial à diagramação que colocou Susana e Túlio na capa assim como o cavalo (que também é importante para a história), destacando o que realmente é importante aqui.
site:
http://www.detudoumpouquinho.com/2021/03/resenha-ursula-maria-firmina-dos-reis.html