Paula 16/04/2022
Uma peleja! ... É sobre Lampião mesmo?
Tive a impressão de que esse é um livro escrito para ser estudado, analisado e referenciado em meio acadêmico. É um livro técnico. Muito dificilmente uma pessoa leiga, que vai lê-lo por mera curiosidade assim como eu, vai se deliciar com essa leitura, mas posso estar enganada.
Também tive a impressão de que Lampião não parece ser o foco desse livro. Se algum curioso for fazer o levantamento da quantidade de parágrafos que remetem diretamente ao cangaceiro (principalmente na primeira metade do livro), muito provavelmente vai chegar a uma porcentagem bem abaixo do comum. Isso me leva a crer que esse livro tem como foco o contexto histórico, político e social que circundava a figura de Lampião, mas não o Lampião em si, o que me deixou confusa e, de certa forma, frustrada, porque eu adquiri o livro principalmente por causa desse título: "Apagando o Lampião: vida e morte do rei do cangaço"... e por causa dessa sinopse que diz: "um rico retrato dessa figura emblemática da nossa história".
Se eu quisesse me aprofundar nos contextos supracitados ou no cangaço de uma maneira geral, eu teria buscado por outro título e consequentemente, adquirido outro livro. Busquei por Lampião, mas este não veio, pelo menos não do modo como o título e a sinopse elucidavam. Não vi coerência. Agora eu me pergunto: que critérios utilizar ao comprar um livro se não o título e a sinopse?
Além disso, elenco aqui mais alguns pontos que me causaram um certo incômodo. Foram quatro:
O primeiro é a quantidade infindável de nomes próprios, gente que não acabava mais, e eu sinceramente lia sem saber quem era quem, e depois de certo tempo, já nem me importava mais.
O segundo foi a quantidade de parágrafos com mais de 10 linhas, às vezes 15, e ouso dizer que tem alguns até com mais! Um exemplo básico é a página 214 do meu exemplar em que há um parágrafo com 21 linhas, cheio de nomes próprios destacados em negrito no meio do texto. Se isso não cansa o leitor, não sei mais o que pode cansá-lo.
O terceiro foi o uso recorrente de algumas palavras mais rebuscadas que acabaram por reduzir ainda mais a acessibilidade do leitor comum ao texto.
O quarto foi que, sinceramente, eu não entendi o porquê de a parte da iconografia estar posta exatamente no meio do livro e não ao final, escolha essa que ensejou na quebra de um parágrafo no meio de um capítulo, interrompendo a leitura e reduzindo ainda mais a sua fluidez.
Infelizmente lutei muito para ler esse livro inteiro, se não o abandonei foi por pouco, provavelmente porque me senti na obrigação, de como nordestina, não desistir de conhecer essa figura tão emblemática que é Lampião. Porém a leitura se tornou tão maçante PARA MIM que eu abri o livro sabendo pouco sobre Lampião e terminei essa experiência com muito pouco conhecimento acrescido, isso porque dado certo tempo, eu já estava saturada, não me sentia encorajada a me consumir por mais de 300 páginas penando para, ao menos, entender o que o autor estava querendo dizer. Ou seja, foi demasiado esforço tentando "traduzir" e compreender o texto quando eu poderia estar aplicando esse mesmo esforço numa reflexão crítica.
Contudo, apesar de achar o texto prolixo e de também achar a abordagem sobre Lampião bem rasa e incompatível com a apresentação dada pelo título e pela sinopse, esse é um livro que tem o seu lugar e o seu público específico, é baseado num vasto trabalho de pesquisa científica que passa segurança com relação às informações fornecidas. Mas ainda assim, eu prefiro a leitura de um texto mais simples, mais fluido, menos catedrático, que seja capaz de fazer uma leitora comum como eu compreendê-lo em sua quase totalidade sem grandes intercorrências, o que não foi o que aconteceu. Portanto, eu não pertenço ao público ao qual esse livro foi direcionado, desde já afirmo que tenho a plena consciência de que eu não sou o público-alvo aqui, mas se por um acaso houver alguém que esteja lendo esta resenha antes de adquirir esse material, recomendo uma autoanálise primeiro, para só depois ver se se enquadra no perfil de leitores para o qual esse livro é voltado.
"Para o brasileiro em geral, o do Nordeste com especialidade, Lampião é o emblema social de um tempo e de um chão em que o estado não conseguia andar montado no cangote do povo, a lhe sugar até o sangue. Não estranha que sua legenda reluza tanto, para o que há de contribuir também a condição de vencedor de desafios que ninguém lhe recusa, para além das vitórias à bala." (pg. 297)