Tuca 25/01/2020Os primeiros comentários que li acerca desse livro foram sobre ele ser uma mistura de A Bela e a Fera com O fantasma da ópera e foi isso que me atraiu pra ele. Mesmo não sendo fã do último, sou apaixonada por releituras do primeiro e é realmente na Bela e a Fera a base do enredo, com apenas algumas referências ao Fantasma da Ópera e uma pitada de O quebra-nozes, com muita força dos amores trágicos e uma dose grande da singularidade de Mia Sheridan.
Em dois tempos diferentes, duas histórias de amor que carregam certas similaridades. Clara muda-se para Nova Orleans pra seguir seu sonho no balé e conhecendo a maldição que prendia os espíritos de Angelina, uma moça escravizada no século XIX, e John, um soldado que mais tarde partiria para lutar na guerra de secessão, nas terras Chamberlain, ela se aproxima do homem a quem ela chama de o colecionador de desejos, Jonah Chamberlain. Jonah aprisionara-se nas antiga propriedade de sua família logo após ter sido deformado por um bomba e ter perdido seu irmão. Ele se enxergava como um vilão e entendia que tudo o que ele sofria era merecido, pois era resultado de sua ganância e ambição na época em que trabalhara como advogado. Jonah vivia nas sombras por medo e culpa. Angelina fora obrigada a viver nelas pela escravidão. Clara queria mostrar a luz que existia em Jonah. John tentou através de sua luta trazer esperança para vida de sua amada. Nos tempos atuais, o muro da mansão Chamberlain é onde os moradores de Nova Orleans depositam seus desejos, acreditando que Angelina vá concedê-los. Mas quem concederia o dela? Quem a libertaria? Tanto em vida quanto em morte? É a história de Angelina e John que leva Clara até Jonah, será possível então que Clara e Jonah consigam levar Angelina de volta a John?
Não é um livro para ser lido rapidamente. Ele tem um ritmo lento, acho que propositalmente para imitar um balé, bonito, delicado, vagaroso até as mudanças bruscas de tom que trazem dramaticidade ao enredo e nos deixam sem fôlego. Além disso, ele porta sentimentos demais, que precisam ser absorvidos a um certo compasso, com temas difíceis de serem encarados, entre eles a escravidão no sul dos Estados Unidos no pré-guerra, o racismo dela decorrente e o medo do diferente e da exclusão social. O tempo divide dois amores que se encontram na coragem de lutar por um mundo melhor, dois homens que se tornam heróis em momentos de injustiça.
“Não devemos nunca escolher segurança em vez do que é certo. Segurança é o cobertor debaixo do qual os covardes dormem. Segurança suaviza a esperança e extingue toda a luta.” (Tradução minha)
Minha crítica ao livro surge apenas no fim. Queria ter visto mais detalhes do desenrolar da trama de Angelina e John, mais acerca da sua conclusão, assim como da jornada da irmã de Angelina. Queria entender o processo de aprendizado de sua dor. Havia muito desse passado que poderia ter sido explorado. Angelina e John são a cola inicial entre Jonah e Clara e o leitor merecia ter uma compreensão melhor do amadurecimento e da luta desses personagens. Ainda assim é um livro maravilhoso com uma dramaticidade e ritmo próprios junto ao encanto dos amores de corações nobres.
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