rafazaakar 13/02/2020
EU NÃO ACREDITO QUE EU VOU TER QUE DESTRUIR A IGREJA!!!
#resenha - ?Boy Erased: Uma verdade anulada? (Garrard Conley, 2019) #12
Ai gente, que difícil. Quando postei que estava lendo esse livro recebi uma enxurrada de críticas negativas em relação ao livro e ao filme também. Como não havia visto nada de ambos, segui a leitura com receio. Realmente o livro me frustrou de muitas formas, me deixou bem nervoso com a narrativa e com a passividade do Garrard em relação a sua vida. Mas preciso dizer que o filme me surpreendeu positivamente.
Resenhas nada mais são que julgamentos, do meu olhar crítico, sobre o que achei da história. Fazer uma resenha crítica de um livro com esse tema, com essa veracidade, seria uma falta de respeito tremenda, levando em conta que o história nada mais é que um relato de um garoto que passou por um período de trauma causado pelo fanatismo religioso de seus pais e sua recém descoberta sexualidade. Ponto.
Num aspecto mais estrutural, posso dizer que a narrativa é realmente arrastada, detalhada ao ponto de lermos uma página inteira de uma descrição minuciosa sobre o cabelo da médica. A falta de diálogo e o excesso de pensamentos, súplicas por purificação, lembranças e trechos da Bíblia fazem a leitura ser cansativa ao extremo. E é isso. Foi basicamente isso que me deixou irritado com o livro.
De resto, precisamos exaltar a importância desse tipo de relato, de história, de validação, sabem?! Mostrar o quão destrutiva pode ser a forma como você julga e interpreta a sua crença e fé. Religião é um tema complicado de se discutir, mas em certos casos é necessário, sim, se falar a respeito. A partir do momento que uma crença, credo ou fé dissemina ódio e preconceito, você pode ter certeza que existe algo errado.
O que me irritou muito na história de Garrard era a sua passividade em relação a si mesmo. Cadê seu senso crítico, seu dissentimento, sua curiosidade em entender mais sobre o que ele era? Mas falar isso sem levar em conta que ele cresceu em uma família religiosa nível HARD, que se desenvolveu naquele mundo, tendo como certa as interpretações da Bíblia que lhe eram passadas, é muito errado. A leitura, o relato do autor, mostra o quão perdido ele estava em meio a dois mundos que se colidiam. O mundo em que ele foi criado, o de ?Deus?, e o mundo que ele começa a sentir dentro de si. Ficar com raiva da vítima e não do vilão, talvez seja a coisa mais comum nesse livro. Mas quem é o vilão? Seus pais? O centro de reabilitação para homossexuais? A Bíblia? Ou a interpretação errada e cega de um livro milenar?
O filme abriu a minha mente de uma forma que o livro não conseguiu. Me fez ver a história de um jeito diferente, me fez ter um pouco mais de orgulho do Garrard que aparece no final, que se compreende, que decide não ficar quieto e se impor e faz algo em relação.
Eu não quero fazer uma resenha anulando a vivência do autor por causa de uma escrita mais difícil. Acho que essa leitura é importante para que a gente entenda do que o ser humano é capaz quando acha que esta sendo respaldado por uma força ?divina?. É importante ao ponto de que, se você está lendo ou assistindo, e não estiver incomodado com tudo que é feito e dito, pode ter certeza que existe algo de errado com você.
Uma leitura importante, agridoce e difícil, mas recompensadora. É sempre bom conhecer histórias como essa e ver que ainda dá pra ter fé, não em um Deus ou coisa assim, mas nas pessoas.
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