MillenaSui 19/12/2023
Digno das mais tenebrosas profundezas do inferno.
Devo começar essa resenha esclarecendo que minha ressalva quanto ao livro se deve às escolhas da própria edição da DarkSide, não à história em si. Meu único incômodo ao longo da leitura foi uma escrita introdutória que aborda detalhes importantes da história antes de, de fato, contá-la. Sinto que, essa, pode barrar o leitor de fazer, por conta própria, descobertas que tornariam para si o livro mais interessante. Tentei desconsiderar esses trechos para que não prejudicassem o meu primeiro contato com a obra de Bram, mas deixo aqui a minha recomendação para quem optar por viver sua experiência inicial com Drácula por esse calhamaço: cogite ler a história propriamente dita antes da introdução entitulada "Eterno".
Tranquilizo em dizer que esse foi o meu primeiro e único desagrado com a edição e que essa está longe de ser resumida, para mim, apenas por uma introdução que não foi do meu agrado. O livro se mostra especialmente como um belíssimo memorando ao autor Abraham Stoker, contando ao leitor sobre sua origem, suas ocupações além da escrita, expondo cartas enviadas, por ele e para ele, para e por autores renomados, tais como Sir Arthur Conan Doyle, além de resenhas sobre o romance que intitula essa edição e contos avulsos que foram escritos com forte inspiração desse. É visível o carinho da editora em cada página pelas ilustrações originais e edição própria que aplicaram em cada um dos trechos particulares da escrita, detalhes esses que definitivamente compuseram uma das edições mais completas desse renomado clássico já publicadas.
O livro em si está longe de ser amedrontador. Bram nos apresenta, com maestria, uma obra fluída que tem seu desenvolvimento através de cartas trocadas entre os personagens, além de seus diários pessoais e recortes de jornal que embasam os fatos trazidos por cada um na continuidade da trama, tudo em ordem cronológica e muito bem estruturado.
Os pontos altos da obra, em minha visão, se dão em todo e qualquer detalhe que envolva os seus personagens. Cada um deles tem uma construção muito única, de forma que, até mesmo os que não apresentam seus pontos de vista em primeira pessoa ao leitor, despertam tanta afeição quanto os que o fazem. Faço menção honrosa à mulher que se tornou uma das minhas personagens favoritas de livros em muito tempo, Mina Harker, forte, inteligente e extremamente objetiva que, juntamente ao Dr. Van Helsing, carregou a trama de forma excepcional.
Definitivamente não esperava que fosse gostar tanto de Drácula pois, inevitavelmente e talvez por má prática, ao dar início à leitura de clássicos, costumo preparar minhas expectativas para livros muito densos, de escrita rebuscada e narrativas vagarosas. Com esses fatores em mente, me peguei questionando, por diversas vezes, se a história tinha sido realmente escrita no século XIX. Stoker oferece tanta atemporalidade em sua escrita e a faz com tanta qualidade e cautela que não me restaram dúvidas a respeito da grande admiração que cativou desde a sua primeira publicação.