R...... 01/08/2019
Edição Maravilhosa 9 (EBAL, 1949)
A HQ traz quatros histórias de Sherazarde. Destas, três tem protagonistas bastante conhecidos (Ali Babá, Simbad e Aladin). A outra é sobre um Cavalo Mágico que, particularmente, não curti.
Necessário dizer que as ilustrações são bastante toscas, não discerníveis à primeira vista, exigindo olhar atento para perceber o que expressam. Em minha experiência foi assim...
Nada que o interesse não supere, felizmente, levando-me até o ponto final nesses quadrinhos antigos pouco convidativos.
Superando-se isso, algo que ficou notório, numa visão geral da história, é o conceito de felicidade relacionado à riqueza material - fundamental e indispensável nestes contos. Além disso, o roubo é também um proceder exaltado, principalmente quando um esperto é superado por outro mais esperto ainda. Devaneando um pouco, Sherazarde conquistou o rei Shariar do mesmo jeito que as novelas conquistam seus fãs, com histórias nonsenses em que há indução para torcer e vibrar com a esperteza também, que muitas vezes tem cada vilania e safadeza...
"Ali Babá e os quarenta ladrões". Ah, sei! Só quarenta ladrões, né... Valeu a leitura por desdobramentos da história que são conhecidos, apesar do protagonista ser famoso, referente a vingança do grupo e revide do Ali Babá.
"Simbad" - Pena que cortaram cena interessantíssima no começo (li outro dia num livro), em que a história de Simbad é contada pelo próprio a um homem lamentoso e com inveja da riqueza dos outros, atribuindo injustiça a Deus ser pobre e outros ricos, quando varria a frente do palácio do aventureiro. O famoso marinheiro vê o lamento e chama o outro para um 'teti a teti', onde conta que sua riqueza foi fruto de muita dificuldade e esforço (claro que com parcela de roubo também, no tal mundo dos espertos).
Vou devanear um pouco mais, sem medo do ridículo. A história do marinheiro leva a pensar em possível inspiração no 'Odisseia', de Homero. Apesar daquela ser uma aventura de regresso, enquanto Simbad atira-se aos sete mares em busca de conquistas. Entre elas, histórias pra lá de nonsenses e surreais, e como. Além disso, Simbad tem uma aventura muito parecida a de Ulisses com o ciclope Polifemo. Tem o caolho gigante numa ilha, em que o herói vai parar lá em naufrágio, o gigante prende Simdad e seus amigos em sua casa, devora aos poucos os homens e estes conseguem fugir com plano engenhoso onde o olho do ciclope é também ferido. Ah, só faltou colocar a parte das ovelhas... E no escape, os amigos do gigante jogaram pedras no navio dos marinheiros que escaparam, que nem em "Odisseia"...
"Aladin", da mesma forma, uma história com espertezas em que vence o mais esperto, contando com um gênio (ou seria demônio?) ajudando nisso.
A história do "Cavalo Voador", como disse, não curti e nada mais registro que isso. Em verdade, nem entendi direito...
Faça-se justiça, "O mil e uma noites" é uma história com percepção de mundo em seu contexto de época. E com mensagem fantástica da descoberta e prazer com histórias que subentendem a Literatura...
Devaneio final, bastante ridículo. Trabalhei cinco anos num abrigo de menores em situação de risco (até 11 anos, com exceções), sempre no plantão noturno, onde muitas vezes tinha que contar histórias (que ia inventando e até me perdia), para a garotada não ficar na bagunça quando era a hora de dormir.
Na real, eu e minha colega, como nossa função também, tínhamos sempre que aplicar uma atividade educativa, o que era realizado. Mas os garotos inventavam de ter interesse pelas histórias e lá ia o Sherazardo fuleira encher linguiça. Verdade..