Rafael 02/09/2023
Por que a gente é assim?
A jornada de reflexão de Nick neste volume nos ensina algumas coisas: que é gostoso nos permitirmos amar, sem amarras sociais; que a sexualidade é fluida; que não é realmente preciso se classificar em uma letra da sigla, pois isso pode mudar e porque temos tempo para nos autoconhecermos e nos compreendermos frente às possibilidades.
Heartstopper volume 2 acompanha o período de tempo em que Nick passa a aceitar o amor que sente por Charlie - agora Char - e procura, a partir daí, se entender. [SPOILER] É bonito ver como seu parceiro soube compreender seu momento e respeitar seus limites, mas é também instigante perceber como sentimos culpa quando estamos na posição de Nick. Apesar de ainda não estar pronto para se expor, ele não quer que Charlie viva o relacionamento dentro do armário, ou seja, de forma escondida e incompleta. [/SPOILER] É aí que a pergunta feita duas vezes ao longo do livro ganha sentido: "Por que a gente é assim?".
Por que nós, da comunidade LGBTQIAP+, mesmo em ambientes majoritariamente de aceitação, como no livro (famílias do Charlie e do Nick; amigos do Charlie; alguns amigos do Nick, mesmo aqueles do esporte supermasculino...), ainda carregamos essa culpa em nós? Por que nos preocupamos com a resposta da sociedade? Deveríamos nos ater mais ao bem que sentimos quando amamos. Mas isso leva tempo. Para mim, esse tempo já chegou. Vamos torcer para que chegue logo para esse casal.
Ah, quase ia me esquecendo de mais um retrato de como a sociedade tem mudado - ainda bem! - nos últimos anos, como comentei no volume anterior: [SPOILER] a (re)apresentação de Elle depois da transição é feita de forma tão natural! [/SPOILER] Que bom! Que bom que temos exemplos de uma geração cujas perguntas são de curiosidade e de vontade de entender em vez de serem perguntas julgadoras e excludentes, como vemos ainda hoje contra a população travesti e transexual.
Que cada vez mais as pessoas nos acolham, [SPOILER] como fez a rainha mãe do Nick quando disse sobre pensamentos retrógrados: "Não nasci em 1920." [/SPOILER]