Valeria 23/11/2014
O livro que tem o cheiro das minhas primeiras descobertas literárias e o rumor de risadas sem fim
As aventuras do Sr Pickwick (The Posthumous Papers of the Pickwick Club, abreviado para The Pickwick Papers, 1836) foi o primeiro romance de Charles Dickens e é considerado, com razão, uma das maiores obras-primas da literatura inglesa (minha preferida).
Foi publicado em fascículos, como muitas outras obras da época. A saída destes fascículos era uma espécie de evento: nas famílias, entre os vizinhos, esperava-se quem tivesse os meios para comprar o fascículo, lendo-o para quem não tinha a mesma possibilidade.
Dickens, com fino humorismo e a sagacidade de sempre, cria um retrato excêntrico e nostálgico de uma Inglaterra de uma época mais humana e cordial, imagem que será virada de cabeça para baixo em seus romances sucessivos, mais dramáticos, que vão representar, por sua vez, todo o cinismo da sociedade de sua época (em plena Revolução Industrial).
TRAMA
A obra é apresentada como um relato das viagens que o sr. Samuel Pickwick, fundador do Club Pickwick, faz em maio de 1827 junto com os amigos Nathaniel Winkle, Augustus Snodgrass e Tracy Tupman, percorrendo a Inglaterra do início do século XIX, com a intenção de descrever seus habitantes, entre situações paradoxais e personagens bizarras.
Desde o início de suas aventuras o pequeno grupo é notado por Jingle e seu criado Job Trotter, dois hábeis delinquentes que não se cansam de enganar e colocar em dificuldades o velho cavalheiro e seus companheiros.
A viagem pela Inglaterra apresenta o afresco de uma sociedade feita de justos e menos justos, em constante evolução na perseguição do progresso e do dinheiro, mas também dos afetos. Trata-se também de um estudo social feito por Dickens, entre risadas e paródias, que pode servir de instrumento para dar uma boa olhada no nosso mundo.
Descreve-se uma sociedade ainda plena de cordialidade e mesmo com a presença de alguns personagens ou momentos negativos, apresenta uma humanidade que em breve será destruída pelo progresso (mostrada nos romances de formação de Dickens).
É uma humanidade excêntrica e bizarra, porém, é nesta excentricidade que está localizada o poder magnético do clube Pickwick para os leitores da época: a nostalgia por um modo de vida que estava desaparecendo e sendo substituído pelo cinismo e pela solidão.
É a mesma nostalgia que o leitor de hoje sente ao lê-lo.
É um grupo de pessoas distintas: o velho mas alegre e bem disposto Samuel Pickwick; o amante de versos e poesia Augustus Snodgrass; o trapalhão Nathaniel Winkle, erroneamente convencido de ser um talento esportivo; o gorducho Tracy Tupman, amante do belo sexo; e enfim o humilde e honesto Sam Weller, jovem criado e amigo de Pickwick.
Um grupo de ingleses que amam a vida e que para aproveitá-la acabam tendo que enfrentar as situações mais absurdas: intrigas e confusões, casamentos difíceis, raptos de jovens e graciosas senhoritas (e senhoras), viagens improváveis, perigos inesperados, piqueniques que vão do grotesco à caricatura.
Cheio de ironia, mas também de simpatia pelos seus excêntricos personagens, este romance coral. com seu humorismo irreverente e irresistível, nos convida a refletir sobre nossa própria sociedade, suas características favoráveis ou não, sempre com o sorriso nos lábios e um pouco de esperança no coração. E "Carpe Diem".
site: www.deedellaterra.blogspot.com