Orientalismo

Orientalismo Edward W. Said




Resenhas - Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente


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Gabslareine 24/01/2021

Construções
O livro que foi escrito em 1975, mas que teve uma grande amplitude nos anos seguintes, tendo inclusive um posfácio do autor para a edição de 1995 sobre o seu sucesso e breves comentários sobre suas errôneas interpretações. Terminando de ler a obra é impossível não entender por qual motivo o livro foi publicado em inúmeras línguas e países diversos.

O autor de origem israelense, mas educado nos Estados Unidos se propõem a explicar e mostrar como uma tradição de duzentos anos criou a divisão entre Ocidente e Oriente, delegando ao oriental (aqui, tanto chinês como árabe, mas mais precisamente a população do Oriente Médio) um caráter inferior ao europeu.

Toda a construção desde o começo, do Renascimento, passando pelo século XVIII, XIX e XX é esplanada, citando os autores que mais influenciaram tais visões que infelizmente continuam, de alguma forma, a se perpetuar na contemporaneidade. Pois, essas visões acabaram norteando a forma de interação entre o Ocidente e o Oriente. O objetivo do autor era mostrar como as coisas são construídas, e construída por homens falhos, homens que foram influenciados por suas épocas e que dessa forma tiveram uma visão do outro cheia de preconceitos.

Apesar do livro falar sobre o Oriente Médio e a visão maléfica que o árabe continua tendo, muito por conta dessas construções, a grandeza da obra é justamente tratar de construções. Basta analisar a História do Brasil e perceber as construções de épocas passadas, feitas por homens e influenciadas pelo poder da época. Visões que ainda influenciam pre-conceitos contemporâneo, como o racismo velado, etc.

O autor é especialista em literatura e vale ressaltar que, não é somente na obra de historiografia ou outra disciplina das humanidades que se constroem esteriótipos marcados por uma época, mas sim a literatura em geral. Quando você entende essas construções fica fácil de perceber uma visão racista ou de outro tipo em qualquer gênero da literatura que seja, por isso é importante saber: a época da obra e quem está escrevendo. Assim você já absorveu 50% do texto.
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Hofschneider 07/12/2020

interessante o debate levantado, que dialoga com escritores do inicio do século dezessete até o século vinte, porem ao mesmo tempo um pouco confusa a forma de exposição.

no mais, elogia hannah arent e diz que marx eh antissemita sem desenvolver sobre isso apenas mostrando uma citação isolada.
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Luiza 17/08/2020

Este livro me abriu novos jeitos de enxergar o mundo e os conteúdo intelectuais, de notícias e de entretenimento que consumo. Apesar de ser uma obra da década de 70, se mantém extremamente relevante nos dias de hoje, principalmente nos discursos políticos. É repleto de ótimas provocações. Achei uma obra muito densa e que exige bastante atenção e interesse do leitor. Não é uma leitura fácil, por ser escrita de uma forma bem acadêmica, e achei repetitiva e cansativa em muitos momentos, motivo pelo qual levei tanto tempo para conseguir completar e, apesar de ter achado um livro muito importante, me atenho a recomendá-lo apenas para quem tenha muito interesse no assunto e esteja disposto à encarar um desafio. [Livro lido entre junho e agosto de 2020]

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Adiante, escrevo os pontos importantes que aprendi com o livro para fins de anotações pessoais, que quero guardar e lembrar, e não mais de uma resenha para outros aproveitarem.

- Geografia imaginativa: ideia de que as fronteiras e as distinções geográficas podem ser estabelecidas de forma, antes de tudo, arbitrária, já que não requer que os bárbaros reconheçam a distinção e, embora fronteiras geográficas acompanhem as sociais, étnicas e culturais, o próprio sentimento de diferença para com o que julga estrangeiro é baseado por ideias pouco rigorosas, que dão cabo a todo tipo de suposição, associação e ficção sobre o que de fato povoa o espaço além da fronteira da própria pessoa que a estabeleceu. A geografia imaginativa ajuda a intensificar o sentido da própria mente e a dramatizar a distância e diferença em relação a o que e quem está longe dela.
- Geografia imaginativa legitima um vocabulário cheio de figuras representativas, ou tropos, cada vez que se fala ou se escreve sobre o Oriente no Ocidente. A dramatização da distinção própria dessa geografia imaginativa coloca o Oriental em posição não apenas de “outro” (tem-se homo arabicus, homo africanus, etc., sendo o “homem normal” o homem europeu do período histórico), mas também de vilão.
- Uma vez que seguia a estrutura dicotômica do “ocidente” e “oriente”, “familiar” e “estranho”, “próximo” e “distante”, especialmente para diferenciar os dois polos, o orientalismo limitava o que poderia ser pensado e falado sobre o Oriente. Por isso há tantas semelhanças na descrição do Oriente feita por diversos intelectuais ao longo dos séculos. A noção do Oriente como objeto de estudo também coloca o europeu em uma posição sempre afastada e de mero observador e que, portanto, deve reiterar as imagens já estabilizadas que o Ocidente tem do Oriente, e nunca as desafiar, para não sair da posição distante e objetiva.
- No seu início, o Oriente é explorado na literatura ocidental através da jornada, da fábula, do estereótipo e do confronto polêmico, que fazem com que o encontro entre leste e oeste seja experimentado por meio do embate ou da descoberta fantástica. Assim, os aspectos orientais que eram familiares eram desprezados pelo ocidente (Islã como versão fraudulenta do Cristianismo e Maomé como imitação de Jesus Cristo – domesticação do exótico), e os aspectos novos eram recebidos com prazer ou temor. Esse Oriente flutuante, que podia causar terror ou excitação ao ocidental, viria a ser restringido pelo orientalismo acadêmico.
- O orientalismo, ao em vez de conhecer o Oriente, os orientais e seu mundo, acaba os criando. É o Orientalismo como poder intelectual exercido em cima do objeto de estudo, no qual a forma dramática e a imagística culta se juntam no “teatro orientalista”. Os textos criam não apenas o conhecimento, mas também a própria realidade que parecem descrever e, com o tempo, esse conhecimento e essa realidade produzem uma tradição. E o Ocidente tratava do Oriente principalmente a partir de uma “atitude textual” até o momento que resolveu colocar as projeções sobre o Oriente em prática, na intenção de governá-lo. A dominação administrativa seria mais uma vez respaldada pelo Orientalismo, quando os orientalistas do final do século XIX passaram a estar ligados uns com os outros também do ponto de vista político. É a passagem do espaço oriental de “estrangeiro” para “colonial”.
- A pretensão de domínio colonial do oriente não justifica o orientalismo, mas sim o contrário. Antes da colonização se dar, há uma hegemonia do pensamento inferiorizante dos povos do oriente, o que culmina nas políticas para dominá-los.
- Discurso orientalista perpassava também por uma visão de que o Oriente moderno havia decaído e perdido uma grandeza clássica do passado, tomando o Ocidental orientalista, também, o papel de agente regenerador do Oriente decrépito em um ato de solidariedade histórica.
- Orientalismo também preocupava-se em firmar classificações para seus objetos de estudo, ou seja, os orientais (seja classificando as línguas orientais, as religiões, ou as características fenotípicas), o que acabou legitimando toda uma gama de estudos de “tipos genéticos” racistas perpetrados pelo ocidente em busca de expansão e dominação no Oriente, bem como o pensamento etnocêntrico. Esta atitude classificativa também gerou a estrutura comparativa sob qual o Oriente era observado, porém o comparativismo utilizado pelos orientalistas era mais avaliativo e expositório do que apenas descritivo. Assim, esse comparativismo tornou-se sinônimo da aparente desigualdade ontológica entre o Ocidente e o Oriente (“A própria designação de uma coisa como oriental envolvia um juízo de valor já emitido”, “Representam uma decisão sobre o Oriente, e não de modo algum, um fato da natureza”).
- Discurso orientalista é fechado em chavões de “Oriente” e “islã”, desprezando as materialidades históricas, políticas e econômicas em voga no momento na região (ideias de direita e esquerda, revoluções e mudanças não eram aplicadas no entendimento dos fenômenos ocorridos no Oriente, tudo era explicado pela figura do “Islã” ou pela sua reatividade ao próprio Ocidente).
- Há também uma tendência orientalista em conceber a humanidade como grandes termos coletivos ou como generalidades abstratas. Até mesmo Marx preferiu utilizar o Oriente coletivo para ilustrar sua teoria. Assim, o orientalismo se ampara bastante na visão do Oriente como vasta coletividade anônima, desconsiderando identidades humanas existenciais (“Nos filmes ou nas fotos de notícias, o árabe é sempre visto em grandes números. Nehuma individualidade, nenhuma característica ou experiência pessoal. A maior parte das imagens apresenta massas enraivecidas ou miseráveis, ou gestos irracionais (logo, desesperadoramente excêntricos” – pg. 291).
- Os pesquisadores orientalistas podiam ir ao Oriente e imitar o oriental, para então observá-lo e descrevê-lo. No entanto, a recíproca não era verdadeira, o Oriental não era capaz de imitar o ocidente, até mesmo pelo fato de que quando um ocidental viajava para o Oriente no século XIX, estava passeando pelos domínios territoriais e políticos de seu próprio país de origem (Inglaterra), ou por onde seu país de origem queria reconquistar o domínio (França). Por essa razão, o testemunho pessoal de viajantes e residentes ocidentais no Oriente podia ser tomado pelo orientalismo para se tornar uma definição impessoal feita por um exército de trabalhadores científicos do que era o Oriente. E, por essa razão também, o europeu só podia experienciar o Oriente sob uma lógica de dominação se quisesse preservar sua identidade europeia, dando origem ao estranho fenômeno do orientalista que despreza o próprio objeto de estudo (P/ entender a sociedade oriental, há de viver como um oriental. Para se manter europeu vivendo como um oriental, há de se agir com objetivos europeus de dominação. Vive como um oriental, mas o faz para conhecer o oriente pela perspectiva europeia: para dominá-lo mesmo sendo europeu).
- Tema da Europa ensinando ao Oriente o sentido da liberdade existe desde o século XIX. Os ocidentais justificavam sua presença e administração no Oriente como forma de impedir que o Islã impusesse seu culto à ignorância, ao despotismo e à escravidão sobre o povo árabe. Essa visão culmina na representação do árabe nos filmes e na televisão como um degenerado, supersexuado, capaz de intrigas astutamente tortuosas, mas essencialmente sádico traiçoeiro e baixo: papéis tradicionais do árabe no cinema são o de traficante de escravos, cameleiro, cambista, trapaceiro pitoresco.
-Sexualidade e exotismo do Oriente ilustrado pelas figuras femininas orientais da literatura europeia, que detinham sexualidade luxuriosa e ilimitada, feminilidade impressionante, mas inexpressiva, eram mais ou menos estúpidas e acima de tudo desejosas. Passa-se a associar, então, o Oriente ao escapismo da fantasia sexual e o “sexo oriental” vira mercadoria comum na cultura de massas.
- O orientalismo, com bases sólidas na pesquisa acadêmica e aplicação política, torna-se um sistema de apoio de um poder estarrecedor aos orientalistas, de modo tal que, escrever sobre o mundo oriental árabe é escrever com a autoridade de uma nação, com a certeza inconteste da verdade absoluta respaldada pela força absoluta.
-A falta de instituições educacionais de estudos árabes dentro do mundo árabe acaba por provocar o fenômeno de estudantes orientais que desejam se juntar aos orientalistas americanos, repetindo os seus chavões e dogmas orientalistas. Esse sistema de reprodução acaba tornando inevitável que o estudioso oriental que vai para o Ocidente acabe por utilizar a formação americana para sentir-se superior ao seu próprio povo, ao passo que ele é capaz de “controlar” o sistema orientalista que cria o próprio Oriente.

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Citações em destaque:

* “O conhecimento do Oriente, posto que gerado da força, em um certo sentido cria o Oriente, o oriental e seu mundo. Na linguagem de Cromer e Balfour, o oriental é apresentado como algo que se julga (com em um tribunal), algo que se estuda e se descreve (como em um currículo), algo que se disciplina (como em uma escola ou prisão), algo que se ilustra (como em um manual zoológico). A questão é que em cada um desses casos o oriental é contido e representado por estruturas dominantes. De onde vêm essas estruturas? [...] O orientalismo, portanto, é um conhecimento do Oriente que põe as coisas orientais na aula, no tribunal, prisão ou manual para ser examinado, estudado, julgado, disciplinado ou governado.” (Páginas 50 e 51)
* “Será que podemos dividir a realidade humana, como ela na verdade parece estar dividida, em culturas, histórias, tradições sociedades e até raças claramente diferentes, e sobreviver humanamente às consequências? Quando falo em sobreviver humanamente às consequências, quero com isso questionar se há algum modo de evitar a hostilidade expressada pela divisão dos homens e, digamos, ‘nós’ (ocidentais) e ‘eles’ (orientais). Pois essas divisões são generalidades cujo uso, histórico e de fato, foi sublinhar a importância da distinção entre alguns homens e alguns outros, normalmente com intenções não muito admiráveis.” (Página 56)
* “O Oriente é assim orientalizado, um processo que não apenas o marca como a província do orientalista como também força o leitor ocidental não-iniciado a aceitar as codificações orientalistas (como a Bibliothèque em ordem alfabética de D’Herbelot) como o verdadeiro Oriente. Em poucas palavras, a verdade torna-se uma função do julgamento culto, e não do próprio material, que com o tempo deve até mesmo a sua existência ao orientalista” (Página 77)
* “Parece ser uma falha humana comum preferir a autoridade esquemática de um texto às desorientações de encontros diretos com o humano. Será, porém, que essa falha está sempre presente, ou existirão circunstâncias que, mais que outras, tornam mais provável a prevalência da atitude textual?” (Página 102)
* “Quando o mundo se vê perante questões momentosas e geralmente importantes – que envolvem a destruição nuclear, os recursos catastroficamente escassos e as exigências humanas sem precedentes de igualdade, justiça e paridade econômica –, as caricaturas populares do Oriente são exploradas por políticos cuja fonte de abastecimento ideológico é não somente o tecnocrata subletrado, mas também o orientalista superletrado.” (Página 117)
* “O Oriente que aparece no orientalismo, portanto, é um sistema de representações enquadrado por todo um conjunto de forças que introduziram o Oriente na cultura ocidental, na consciência ocidental e, mais tarde, no império ocidental. Se esta definição do orientalismo parece mais política que outra coisa, isso acontece apenas porque acredito que o próprio orientalismo foi um produto de certas forças e atividades políticas.” (Página 209)
* “Mas, como todas as capacidades enunciativas, e os discursos que elas possibilitam, o orientalismo latente era profundamente conservador – ou seja, dedicado à própria conservação. Transmitido de uma geração a outra, era uma parte da cultura, era tanto uma linguagem sobre uma parte da realidade quanto a geometria ou a física.” (Página 228)
* “(...) a questão real é se pode de fato haver uma representação verdadeira de qualquer coisa, ou se todas as representações, porque elas são representações, implantam-se primeiramente na linguagem e depois na cultura, nas instituições e no ambiente político do representador.” (Página 277)
* “Bom. Mas como se conhecem as ‘coisas que existem’, e em que medida as ‘coisas que existem’ são constituídas pelo que conhece?” (Página 305)
* “Há uma vasta padronização do gosto na região, simbolizada não só por aparelhos transistorizados, blue jeans e Coca-Cola, mas também pelas imagens do Oriente fornecidas pelos meios de comunicação de massas americanos e consumidas sem pensar pela massa de telespectadores. O paradoxo de um árabe vendo a si mesmo como um ‘árabe’ do tipo produzido por Hollywood é apenas o mais simples resultado daquilo que estou a que estou me referindo” (Página 329)
* “Sem ‘o Oriente’ haveria estudiosos, críticos, intelectuais e seres humanos para os quais as distinções raciais, étnicas e nacionais seriam menos importantes que o empreendimento comum de promover a comunidade humana” (Página 332)
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Coruja 15/05/2019

O subtítulo desse livro explica bem do que se trata: ‘o oriente como invenção do ocidente’. A ideia aqui é que o que consideramos - na nossa cultura eurocêntrica - como oriental não é algo que depende de marcos geográficos. Em vez disso, é uma construção cultural e política, que reuniu centenas de sociedades muito diferentes num mesmo balaio, como se todas elas fossem iguais… mas iguais em sua estranheza e exotismo, na forma como se contrapõem ao ocidente dito civilizado.

Foi com esse livro que compreendi o que era apropriação cultural, e o impacto que essa apropriação tinha na construção de preconceitos.

Da minha lista de livros de crítica literária, 'Orientalismo' talvez seja o título menos acessível ao leitor leigo, visto ser um texto acadêmico, com análises bem densas. A despeito disso, não o acho excessivamente técnico. Said é palestino, ele entende do que está falando para além da teoria. Ele também trata bastante das consequências práticas que essa construção cultural tem (sim, ainda hoje) em decisões técnicas, políticas.

Trago Said para a crítica literária, mas ele faz parte de um contexto social maior, com paralelos à crise iigratória que temos vivido. Considero-o uma leitura não apenas interessante, mas extremamente importante para compreensão de vários preconceitos.


site: https://owlsroof.blogspot.com/2019/05/dez-anos-em-dez-ensaios-biblioteca.html
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alex santos 10/01/2010

Sem preconceitos
Como o mundo ocidental, desde há muito, misitifca e distorce o lado oriental, numa tentativa, infelizmente plenamente com sucesso, de discriminar para dominar. Os vários passos para subjugar os povos orientais e os vários dominadores, desde romanos, até ongleses e, atualmente, estadunidenes.
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Betão 18/06/2009

Said procura mostrar como o Ocidente vem moldando nossa visão de Oriente, no entanto o autor faz isso de uma forma muito cansativa e repetitiva. Um ótimo livro para "Orientalistas", mas eu não gostei nem um pouco.
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