Newton Nitro 14/01/2015
Uma porrada literária de dar medo!
O Cobrador é outra porrada literária do Rubão, cheio de sexo e violência absolutamente não escapista, e com contos criados para chocar, incomodar, incitar e tirar a sociedade brasileira de sua pasmaceira complacente com a desgraceira que é a nossa existência urbana.
Nesse livro, de 1979, publicado depois do "O Caso Morel" (que preciso ler urgentemente, estou viciado no Rubão), niilismo, ódio social e desconstruções pós-modernas misturadas com cachaça, nunca poupa o leitor do choque. Ou melhor, o conto vai em direção ao trauma, ao choque na mente do leitor.
A maioria dos contos, como é de praxe do Rubão, terminam antes de terminarem, isto é, muitos dos clímaxes acontecem dentro do leitor, depois da história terminada. Várias vezes me assusto com os finais abruptos, cortados como a golpes de facão (o machete brasileiro), o que faz que o conto fique ecoando na cabeça, ressoando, tentando se completar.
Os dez contos são fodas, mas "O Cobrador" é de um impacto absurdo, um manifesto psicótico de ódio social, quase um realismo fantástico pela sequência meio onírica - meio realista, das ações de um sociopata de classe miserável que explode e "cobra" tudo que a sociedade lhe deve a base de tiros e golpes de facão.
"H.M.S. Cormorant em Paranaguá" é outro conto muito legal, e que quebra um pouco estilo do Rubão e narra as impressões de um romântico do século dezenove, um conto justificado por um delírio do narrador. Muito legal!
"O Jogo do Morto", único narrado em terceira pessoa, sobre matadores e comerciantes cariocas, é muito bom, com uma história fechada e um final daqueles que a gente fala "aha!".
Todos os contos são muito legais, tem um conto com o Mandrake, o detetive carioca cafajeste doidimais viciado em mulheres e em amores rápidos, entre outros.
Fica a recomendação, mais um clássico do Rubão, no mesmo nível do Feliz Ano Novo, principalmente por causa do fantástico "O Cobrador".