@tayrequiao 03/05/2024O que menos gostei dela, mas que rende uma boa reflexão. Jane Austen adorava usar da sua escrita para promover uma crítica à sociedade inglesa do final do século XVIII através de sua ironia peculiar e quase sempre oculta pela leveza da narrativa.
Se engana quem pensa que seus livros são apenas sobre bailes e casamentos. Há sempre uma camada a mais a ser descoberta pelo leitor, como se a autora deixasse, em cada um dos seus textos, um convite para que se enxergue além do que se vê.
Em “A abadia de Northanger” não é diferente. Há os bailes, mas há também a crítica, a perspicácia, a aparente insignificância da trivialidade.
Há quem diga que sua intenção era promover uma crítica ao fantasioso dos romances góticos. Para mim, o ponto alto de Northanger é escancarar o modo como muitas vezes abrimos mão da nossa capacidade de pensar criticamente apenas porque estamos seduzidos pela conformidade.
Quantas vezes preferimos aceitar o ilusório do que nos é dito, mesmo que isso signifique ignorar as nuances e as entrelinhas das atitudes?
Quantas vezes nos enredamos no labirinto de palavras doces que camuflam as verdadeiras intenções?
A verdade é desconfortável mesmo.
Muitas vezes não estamos sequer preparados para ela.
Ainda assim, será sempre um caminho mais libertador do que a prisão atraente da mentira, concorda?
[ A propósito, esse foi o livro que menos gostei dela. Mas, não é por isso que a gente não consegue tirar boas lições, né? ]
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