Maíra Marques 17/12/2021
Fomos (e somos) silenciados
Na análise do discurso, muito se fala sobre o "não dito". O não dito apresenta uma relação com o sujeito através dos sentidos e de suas palavras silenciadas. Segundo Eni Orlandi, da mesma forma como o que é dito apaga outras palavras, o não dizer configura o subentendido, o pressuposto.
Lendo esse pequeno livro, me lembrei dos livros da Orlandi, uma vez que o impacto do silenciamento da tortura da ditadura miliar e a impunidade dos torturadores têm uma relação imbricada com a violência policial e com a nossa sociedade.
O livro tem vários trechos que deveriam ser trabalhados nas aulas de história, mas aqui deixo um para reflexão:
"Mas se nós aceitamos com certa tranquilidade a existência da tortura e a impunidade dos torturadores, o que é que teria ficado recalcado, silenciado, depois da nossa pseudoanistia, e que ainda hoje produz sintomas sociais de violência policial com frequência ainda maior no presente do que durante a ditadura? Não é o fato de ter havido e haver tortura que ficou recalcado, e sim a convicção de que ela é intolerável."