Julia G 13/04/2012Onde você está? - Marc LevyResenha postada originalmente no blog http://conjuntodaobra.blogspot.com
"- Mas o que aconteceu para você estar me dizendo tudo isso?
- Nada. Nada mesmo. Bastou-me ver seu corpo se afastando de mim um pouco mais a cada noite, abrir meus olhos e vê-lo de costas para mim, quando antes percebia seu rosto adormecido, sentir suas mãos deslizarem sem vontade em minha pele, Deus, como eu odiei seus "obrigado", quando eu lhe beijava o pescoço. Por que você não trabalhou hoje até mais tarde? Como eu gostaria de ter resistido um pouco mais e não falado nada...
- Mas você está tentando me dizer que não me ama mais.
Mary saiu da cama e se virou para olhá-lo ao sair do quarto. Ele viu as curvas do corpo dela desaparecerem no escuro do corredor, esperou alguns minutos e foi até junto dela. Ela se sentara no alto da escada e olhava fixamente a porta de entrada um pouco abaixo. Philip ajoelhou-se atrás dela, abraçando-a desajeitadamente.
- Estava tentando lhe dizer o contrário.
Ela desceu os degraus, entrou na sala e fechou as portas atrás de si." (pág. 189)
Philip e Susan se conheceram muito antes de qualquer memória que um dos dois possam ter. A primeira foto juntos foi tirada antes dos dois anos e, em nenhum momento após isso, suas vidas se separaram. A amizade se transformou em algo mais, compartilharam os primeiros beijos e as primeiras experiências de amor, dividiram toda uma vida, a perda dos pais de Susan, suas dores e todas as consequências de cada passo. Mas agora Susan passaria dois anos fora para uma missão humanitária em Honduras, auxiliando vítimas de um furacão.
Os dois anos se transformam em três, quatro, e as cartas trocadas por aqueles que se amavam já carregam o ressentimento de estarem sozinhos, pois não são suficientes. Susan sente que é necessária em Honduras, e a vida de Philip se resume ao trabalho - até que ele conhece Mary, uma mulher encantadora e doce, que oferece a ele todo o amor para o qual ele está disposto a se entregar. Como diz a sinopse oficial: "Agora Susan não pode mais adiar a escolha entre sua missão e Philip. O preço a ser pago é alto. Mas o futuro reserva uma surpresa para os amantes, que conduzirá sua história a um desfecho comovente e inesperado".
Eu esperava de Onde você está?, de Marc Levy, um livro sobre amor. Sobre amor, reencontros, superação. E foi isso que eu encontrei. Amor em suas formas, amor construído, amor de se desgasta com a falta de cuidados, amor que persiste à distância e ao tempo. Amor de mãe e de pai, amor de filhos e irmãos, e de paradoxos. Tudo isso, colocado de uma maneira totalmente diferente do que eu esperava, que inicialmente até pensei que não iria gostar. Mas é bom nos enganarmos, não é? Eu me apaixonei pela história, mesmo que não tenha chegado perto daquilo que eu queria.
Susan é uma mulher impulsiva, segura, que é altruísta e egoísta ao mesmo tempo. Ela se importa com os outros, quer fazer o melhor para os que necessitam, entra na vida das pessoas para tentar fazer diferença por elas. Mas a sua própria vida fica de lado, os que ela ama ficam de lado, e o sofrimento que ela inflige a eles e a si mesma vão tornando seu dia a dia mais doloroso. Talvez seu medo de se entregar a um sentimento a impeça de viver sua própria vida, e se entregar de cabeça para salvar a vida de outros seja a forma que tem de se sentir sã.
Philip, no início, me pareceu meio bobinho. Não se impunha sobre nada e quase nunca percebia as entrelinhas de tudo o que acontecia ao seu redor. Mas com o tempo ele amadurece e se torna um homem admirável, apesar de ainda deixar de perceber alguns detalhes importantes de sua própria vida.
Mary é uma mulher realmente doce, que, diferente de Susan, se entrega totalmente a tudo o que sente e acredita. Seu amor por Philip e sua paciência, seu carinho com tudo o que constrói e até mesmo por algo inicialmente indesejado, mostram que ela às vezes deixa de lado a si mesma, pelo bem e a felicidade de outros.
Infelizmente não posso citar outros personagens, pois seria impossível não soltar spoilers, mas são todos indispensáveis e incrivemente maravilhosos e bem construídos. Como disse antes, a história é apaixonante e totalmente inesperada. Mas o detalhe que mais me impressionou e me apaixonou, de todos, foi, sem dúvida, a sutileza com que Marc Levy impregnou a narrativa, a doçura na visão de mundo de cada personagem e a crueldade que é a simples realidade da vida. Assim como em Um dia, nada acontece como se deseja, apenas para nos mostrar que pode haver muito mais depois.