Henrique 18/12/2021
Metáfora à depressão
Morte conta a história de um dos subprodutos que uma enfermidade silenciosa e mortal na sociedade pode causar. O que torna o tratamento da Morte (nome da doença) interessante durante a narrativa é o fato de não haverem sintomas claros de sua presença. Crianças, simplesmente, um dia decidem se suicidar. Esta visão simplicista e ignorante da doença gera um panorama de descaso da sociedade muito crível, criando paralelos com o tratamento da sociedade atual para com doenças mentais, por exemplo, depressão.
Com esta premissa de doença que pode afetar qualquer criança/adolescente em qualquer localidade, o autor decide por um enredo focado e de escopo contido. A história se passa, quase em sua completude, em um orfanato chamado Doceo, que, em si, é um subproduto da enfermidade global que é a Morte. Temos poucas personagens, dando espaço para um bom desenvolvimento de cada uma e produzindo empatia efetiva do leitor pelas mesmas.
O autor opta por personagens num espectro cinzento, nem bons, nem maus; apenas personagens com suas histórias, medos e convicções. Temos quatro personagens principais, duas crianças, Manon e Sasha, que são órfãs residentes de Doceo, e dois padrinhos, Doudou e Gianca, que são como professores particulares dos mesmos. Assim, temos o ponto de vista tanto da administração quanto dos residentes, que é o recurso narrativo principal; geração de estranheza e situações tensas para, depois, demonstrar, através de outra personagem, uma subversão da situação.
Morte: A Garota do Funeral Marítimo é um bom livro e uma das edições da NewPop que menos apresenta erros editoriais. Porém, a utilização excessiva de pronomes oblíquos (por exemplo, "usá-lo", "trocar-se" e "senti-me") numa mesma frase ou parágrafo pode ser um incômodo para leitores mais observadores.