Lecticia.Nunes 28/01/2020
Interessante, mas bem básico
Mesmo o livro sendo básico e meio senso comum, ainda sim considero que ele pode e deve ser lido por psicólogos. Apesar da existência das resoluções 01/1999 e 01/2018 do CRP sobre homossexuais e transgêneros, respectivamente, muitos psicólogos, formados e em formação, são muito preconceituosos, inclusive a chamada "cura gay" está voltando a ter força. Além da questão do preconceito, muitos profissionais e estudantes da Psicologia ainda não entendem o básico de orientação sexual ou identidade de gênero (apesar que esse último ponto não é abordado do livro), ou seja, mais um motivo para ler esse livro. Seria utópico demais afirmar que todos os psicólogos são livres de preconceitos e que entendem o básico da comunidade LGBT.
Como não existe muito material escrito no Brasil sobre a Terapia Afirmativa, considerei que esse livro era referência no tema, visto que foi o único livro que achei a respeito (o restante foi em artigo científico, que inclusive referenciaram o autor). No começo gostei bastante, mas depois percebi que o que me empolgou mais foi a existência de uma psicoterapia voltada para LGBTs do que o conteúdo do livro em si. Dentro da comunidade LGBT+ é bem evidente que o homem gay é muito mais visto do que a lésbica, e que os bissexuais são muitas vezes esquecidos. Achei que não encontraria isso nesse livro, mas não foi o que aconteceu. O primeiro ponto foi que em muitos momentos ele usa a palavra "gay" generalizando homens e mulheres homossexuais, e mesmo explicando que iria generalizar dessa forma para ficar mais fácil achei isso um ponto negativo, porque ele mesmo afirma que antigamente os estudos dos homens gays eram generalizados paras as lésbicas, ou seja, não se estudava especificamente sobre elas, e mesmo que seja uma questão de escolha de nomenclatura pelo autor isso me irritou um pouco.
Outro ponto que me incomodou foi que o autor deixou os bissexuais de lado no decorrer do livro, apesar de o subtítulo da obra incluir o grupo. Essa questão fica bem evidente no momento em que ele aborda a sexualidade: há cerca de duas páginas para a sexualidade da lésbica, quatro páginas para o gay e... zero para os bis. Como uma pessoa bi e interessada no assunto achei bem injusto, considero que a bissexualidade tem questões muito específicas que deveriam ter sido mais bem aprofundadas durante a obra. Sendo um livro de poucas páginas, não teria sido nenhum problema deixá-lo mais completo. Senti falta também de algo mais técnico relacionado à prática clínica e talvez um resumo sobre como outras abordagens lidam com a questão LGBT, sendo que o autor só falou da abordagem que segue, a junguiana.
Mas vamos para os pontos positivos: O livro é muito bem referenciado, anotei váários autores importantes sobre o tema (e descobri outro termo, "pink therapy", que me parece quase a mesma coisa que terapia afirmativa), o que é importante na Academia; o começo traz vários contextos históricos bem legais; há conceituações de homofobia bem legais que permitem que o psicólogo entenda mais as demandas do público LGBT+; o objetivo da terapia afirmativa fica bem esclarecido.