Paulo 26/12/2023
Não vou entrar em detalhes sobre o volume final, mas ele vai se debruçar sobre o tema da felicidade como o próprio autor vai mencionar em seu posfácio. O que significa a felicidade para pessoas que viveram à parte da sociedade por tanto tempo? Para Makoto, o distanciamento dos seres humanos vai se tornando cada vez maior. Percebemos isso no volume passado e o encontro com a seita só fez isso se agravar mais e mais. Ele é um vampiro e ele já não tem mais muitas coisas em comum com os seres humanos. Para Yukiko, o que o encontro com Makoto representou? Os leitores vão descobrir se ainda existe a chama de um amor que começou a se desenvolver na época do colegial ou se era uma necessidade de terminar algo que ela havia começado. No caso, era a busca pela pessoa que a ajudou, que lhe estendeu a mão em um momento de sua vida em que ela estava fragilizada. E, para Masami, encontrar Deus na forma de Makoto terá sido o suficiente? Na edição anterior ele dizia que se sentia divino ao devorar a carne de Yuuki, a quem ele considerava um ser divino. Mas, o que realmente significava a felicidade para ele? Ser imortal? Ter sentimentos? Poder ser livre?
Fiquei em cima do muro em relação à arte dessa edição. Tem umas sequências belíssimas na primeira metade do mangá. Oshimi mostrou o quanto consegue entregar sensações e sentimentos sem o emprego de balões de diálogo. Há um momento no início do capítulo 46 em que Makoto e Yukiko se olham. Eles passam duas páginas nessa troca de olhares e os sentimentos transbordam pelas páginas. Uma comunicação silenciosa que diz muito sobre como os dois ainda mantinham sentimentos em relação um ao outro. Mas, que dez anos de distância fez com que estes sentimentos se transformassem em outra coisa. São quadros curtos mostrando ora os olhos, ora os rostos deles. Lindíssimo. Toda a primeira metade demonstra esse trabalho de Oshimi com a hachura em sua melhor forma. Já a segunda metade achei meio apressada com alguns quadros faltando uma apuração de detalhes. Só vou destacar o capítulo dedicado à história da Nora que ficou bem legal. Queria ver o Oshimi desenhando cenários no passado japonês com mais frequência.
Como balanço final, Happiness é um bom mangá. Não vai se tornar aquele mais inesquecível de sua coleção, mas é uma história rara no sentido de que não é um estilo de histórias tão exploradas assim pelos mangakas no Japão. É um terror psicológico que se envereda de vez em quando pelo sobrenatural. Mas, é aquele sobrenatural que mesmo sendo parte da história principal, não é o ponto focal da história. Oshimi escreve sobre pessoas, e explora como indivíduos com problemas sociais se desenvolvem ao serem expostos a situações adversas. A história se desenvolve com bastante cuidado e é eficiente em nos fazer nos importar com os personagens. E Oshimi é bem esperto ao reduzir bem o núcleo de personagens, lhe dando mais tempo e oportunidade de aprofundá-los como um todo. O final da narrativa é um pouco apressado e ele mais conta o que aconteceu do que mostra. E isso me incomodou já que ele poderia ter sido mais sutil nesse ponto. Não sei se ele quis terminar tudo nesse décimo volume, mas a sensação que ficou é de que a história precisava de pelo menos um volume a mais. Mas, escolhas são escolhas. Sobre a arte, sem dúvida ela não será o ponto pelo qual você, leitor, vai adquirir o mangá. Oshimi sabe ser um bom artista, mas não é algo comum e a gente pode colocar nos dedos de uma mão quais são as edições que se destacam por isso.
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