Ludmilla Silva 04/04/2022"Home is where you are, okay?"Eu amo sair dessa bolha mainstream de HQs apenas da Marvel e da DC, pois encontro sempre quadrinhos incríveis como esse. Geralmente são quadrinhos que nem leio a sinopse, mas que me encantam apenas com a capa, e esse foi o caso com Mooncakes. A capa é linda, assim como toda a arte da que consegue ser fofa e cuidadosa ao mesmo tempo. Eu me encantei tanto pela premissa em si quanto pela história bastante criativa e surpreendente.
A narrativa segue os dois mundos de Nova e Tam, dois mundos mágicos que acabam se entrelaçando um no outro. Nova é uma bruxa adolescente e tudo muda rapidamente quando ela reencontra Tam, sua amigx de infância que também é lobisomem. Assim, tudo se transforma quando Tam precisa de ajuda para derrotar um demônio e Nova, e sua família têm que se mobilizar para ajudar Tam.
A mitologia criada para a HQ é muito interessante e criativa, acaba sendo difícil inovar em história com elementos clássicos como magia, mas aqui a autora foi bem criativa em alguns momentos e me fez ficar com mais vontade de descobrir sobre o universo mágico da HQ que contêm: conselho de bruxas, pessoas metades humanas e metade pássaros, animais mágicos da floresta, pessoas mortas, mas que ainda estão presentes, poções estranhas e também demônios que querem possuir lobos. É uma mitologia muito incrível que poderia render por si só várias sequências da HQ ou até mesmo um livro que teria maior possibilidade de aprofundamento.
Além disso, o que mais me agradou foi sem dúvidas a representatividade. Eu sempre falo da importância da representatividade nas histórias, mas uma representatividade que seja natural e não algo forçado que está ali apenas para cumprir uma agenda ou uma cota específica. E aqui essa questão foi trabalhada muito bem, por vezes por desenhos e elementos sutis. Por exemplo, Nova a protagonista é deficiente auditiva e aqui essa questão nunca foi problematizada ou vista como empecilho e apenas se apresentou como mais um elemento usual, por exemplo, quando Tam pergunta a Nova se ela mudou a cor dos seus aparelhos auditivos, quando Nova aumenta o volume do aparelho para descobrir a fofoca das vós ou até mesmo quando ela utiliza seu aparelho em conjunto com a magia para deter uma inimiga. É ótimo como o assunto foi trabalhado com tanta sutiliza.
Outro ponto é o fato de Tam ser um personagem não-binário e descobrimos isso quando Tam corrige a vó de Nova quando ela fala seu nome errado. E é apenas isso, apenas um balãozinho de fala que apresenta a identidade dx personagem. Tem até um momento que a vilã trata Tam no pronome certo e achei isso incrível, algo como “vilã sim, LGBTfóbica não”, ela pode até querer matar e maltratar vários, porém não respeitar o outro é algo impensável para ela.
Amei o fato de a Nova ter duas avós, um casal de bruxas incríveis, talentosas e amorosas. Nunca se fala explicitamente que elas são um casal, mas é óbvio e algo que não precisa ser falado abertamente já que isso também não aconteceria caso Nova tivesse um avô e uma avó. O relacionamento entre Tam e Nova é lindo, sincero e bastante genuíno e amei os detalhes: como todo mundo sabia que elxs estavam juntas mesmo elxs não contando e como todas fizeram brincadeirinhas a respeito disso, elxs andando de mãos dadas pela cidade o tempo todo, e o amor delxs sendo uma forma de redenção e também salvação. Achei lindo.
Minha sugestão é que vocês apenas leiam essa HQ maravilhosa, a história por si só é muito interessante, os personagens são incríveis e a representatividade é ótima e naturalizada de uma forma que eu gostaria que fosse à realidade. Já fico esperando qualquer tipo de sequência ou adaptação, pois essa HQ incrível merece todo o reconhecimento possível.
Obs: acabei não falando da Tatiana que é a melhor amiga de Nova, mas eu a amo demais, ela é super engraçada e contribuiu para que essa história fosse ainda mais incrível. Eu amei como ela apoia 100% a amiga e eu acho que todo mundo merecia uma amiga como ela.