Marcelle.CesArio 04/08/2024
Retrógrado para o hoje, mas progressista para o ontem
Ok, vamos direto para o elefante no meio da sala.
Esse livro é racista, pedófilo, machista, misógino e diversas outras coisas, mas... foi escrito no século XIX.
Acho pertinente a geração de hoje ler esse livro e apontar, discutir e condenar todas as atitudes e pensamentos hediondos retratados nessa obra, porém, acho injusto criticá-lo como um livro atual. É preciso levar em conta o momento em que ele foi publicado. Não se pode condenar um livro publicado em 1844 por não ter os princípios de 2024. Dito isso... ele meio que estava a frente do seu tempo.
Longe de mim falar que é uma obra revolucionária ou qualquer coisa assim, mas, para mim, é nítido que o autor se esforçou para não cair em estereótipos, apesar do livro estar recheado deles. A começar pela protagonista. O povo dessa época tinha mania (que se extende até hoje em certo nível) de retratar a mocinha como esse ser ingênuo, bom e imaculado, quase como um anjo. E, apesar de Carolina ser descrita também dessa maneira, ela está bem longe de ser indefesa e sonsa. A menina tem uma língua afiada, é esperta, ligeira e carismática. Em, literalmenge, NENHUM momento desse livro ela se deixou sair por baixo ou levou desaforo pra casa. As mulheres, como um todo, apesar de AINDA serem bastante estereotipadas, tem suas personalidades definidas e não se deixam encantar por qualquer um, apesar de, às vezes, fingirem o contrário. Isso foi uma agradável surpresa para um livro do século XIX.
E os homens, apesar de terem atitudes condenáveis, são na maioria das vezes repreendidos por tal, o que também agradou.
Agora, não se engane. É óbvio que eu contorci o rosto em disgosto toda vez que o livro fazia questão de reforçar o quão criança Carolina era, o quão desumanizados os escravos eram e em como eram banalizadas atitudes como um homem embebedar uma mulher.
Porém, como eu disse, é um livro do século XIX. Então o que eu posso dizer é: o romance é bem construído e redondinho, tudo que acontece tem função e finalidade (menos uma rixa que surge entre o protagonista e um amigo que dura dois capítulos e depois é completamente esquecida), tem algumas pitadinhas de humor muito boas e, apesar de ter achado o Augusto um pamonhão, a Carolina nunca falhava em colocar ele no lugar dele, então eu me diverti. Nota: 4.