Coletivismo De Direita

Coletivismo De Direita Jeffrey Tucker




Resenhas - Coletivismo De Direita


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fabio.ribas.7 28/11/2019

Somos os fascistas da História?
“Coletivismo de direita”, de Jeffrey Tucker, surpreendentemente, começa sua retórica a partir de uma leitura equivocada e manipulada dos eventos ocorridos em Charlotteville, Estados Unidos. Para quem não lembra, os conflitos foram apresentados pela mídia esquerdista como um “renascimento” do fascismo e do nazismo, agora em solo americano.

Se Jeffrey Tucker é capaz de abrir o seu livro já manipulando um evento recente da história escondendo informações que não interessam ao seu argumento e elegendo outras, que ele reescreve para sustentar a sua tese, não é de se admirar que esse seja o expediente seguido por todo o livro. O que não interessa a Tucker eu vou contar aqui. Tudo começou porque um homem negro pediu à prefeitura que a estatua do General Lee fosse derrubada, pois ele entendia que os Confederados representavam uma ideologia contrária e ele se sentia incomodado por isso, uma vez que eles apoiaram a escravidão. Por outro lado, Jason Kessler, que disse em entrevista que não apoiava nenhum movimento de “supremacia branca”, organizou um protesto contra a retirada da estátua, pois isso significava ceder aos argumentos do politicamente correto. Kessler foi à Prefeitura e essa concedeu autorização para a passeata (é um direito garantido pela Constituição americana). A Prefeitura sabia, então, que haveria grupos de posição conflitante ali e, mesmo assim, não garantiu a segurança dos manifestantes de nenhum dos dois lados! Por que Tucker não conta esses detalhes? Por que ele diz que não tem importância tudo o que eu narrei, dizendo que minha narrativa é um “mito”, é só fumaça para encobrir a verdadeira razão dos conflitos? Porque Tucker tem uma tese na cabeça e uma caneta na mão! E ele precisa defender sua tese, mesmo à custa de manipulação e sonegação de informações. O que Tucker fará é apenas repetir tudo o que a mídia progressista propagou sobre o evento: os acontecimentos em Charlotteville são o renascimento do fascismo sob a liderança do Presidente eleito Donald Trump.

Mas, qual é a tese do livro? Primeiro, é fácil perceber que é um livro anti-Trump, pois quase metade dele é um ataque direto ao Presidente. Todavia, por que atacar Trump? O que ele representa? E o que, de fato, quer Trucker? O mundo para Trucker é reflexo do seu reducionismo bipartidário americano: o mundo está dividido entre o “bem” e o “mal”, mas calma, não se desespere, há uma terceira via que irá nos salvar: o libertarianismo! Vou explicar. Para o autor, o totalitarismo coletivista é algo tanto da Esquerda como da Direita. E de que maneira ele mostra isso? Defendendo que o Nazismo e o Fascismo são regimes coletivistas de Direita, mesmo que o nome do Partido Nazista seja “Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães”; ainda que Benito Mussolini, líder do fascismo italiano, tenha participado de grupos de esquerda na juventude; a despeito da Aliança entre Nazistas e Comunistas antes da Segunda Guerra; à revelia do fato do Nazismo e do Fascismo ser ideologicamente contrário ao Capitalismo e defender a presença de um Estado onipresente, enfim, apesar de tudo isso, é preciso que o Nazismo e o Fascismo sejam de Direita, porque Trump é o líder fascista da América! Para Trucker, nem a Esquerda e nem a Direita, ou, no caso, nem os Democratas e nem os Republicanos, apresentam a solução ao coletivismo, pois ambos são coletivistas! Toda essa manobra narrativa permitirá a Trucker desenvolver sua tese de que o libertarianismo é, finalmente, a saída acima do Bem e do Mal.

Todo livro é um esforço para colocar a Direita, ou melhor, a extrema-Direita como a representante do Fascismo e do Nazismo. A retórica do autor está em que nunca aparece uma “Direita”. Se ela existe, ela não está no livro, pois Trump não é a Direita, mas a extrema. Assim, todos os que o apoiaram fazem parte desse extremo de uma Direita que não é mencionada e nem definida. Por sua vez, durante todo o livro, existe a Esquerda. A “extrema-Esquerda” é uma expressão usada apenas uma única vez. A expressão “conservador” é mencionada por Trucker uma única vez no livro, mas apenas para ser logo descartada. Em resumo, todos somos hegelianos, uns de direita e outros de esquerda. Mas para criar um quadro como esse é óbvio que é preciso redefinir conceitos e realinhar filósofos. Como não existem “conservadores”, todos os que se encaixariam aqui, por votarem em Trump, são fascistas. Os escritores e filósofos, se não forem escancaradamente comunistas, entram no rol dos fascistas também. Esse grupo hegeliano de Direita sofre um rebatismo exótico, são chamados pelo autor de “Direita anticapitalista”! O que seria uma Direita anticapitalista? Como o autor tem que dividir o mundo coletivista estatal e hegeliano em dois, Esquerda e Direita são agora anticapitalistas. Em outras palavras, ambos usarão o Estado para arruinar os direitos individuais.

Para Tucker, como eu falei, o mundo é igual aos Estados Unidos, só há dois partidos! E os dois partidos são a mesma coisa, a saber, todos são hegelianos, uns de direita e outros de esquerda. Quem poderá, então, nos salvar? O libertarianismo! Este, agora, assume todo o legado da política liberal na história, pois nunca houve “Direita”, só “extrema-direita”. Assim, as conquistas liberais não podem ser atribuídas ao que pensávamos ser a Direita na história, porque o que achávamos ser Direita é o seu extremo. Os liberais, portanto, são o “toco”, “o resto”, “o remanescente fiel”, aparecendo como o grande protagonista das conquistas individuais, e não mais a Direita. E, uma vez que a Direita foi rearranjada para ficar à esquerda, os liberais surgem como aqueles que nunca foram Direita (e nem Esquerda), mas são o grupo acima do Bem e do Mal, a terceira via. Esta é a tese defendida por todo o livro. Evidentemente que, nesse esforço de reescrever e rearranjar a história, Tucker entra em contradições. Uma delas é dizer que essa “Direita anticapitalista” não tem problemas em defender a família, a propriedade privada e a religião (ao contrário da Esquerda), mas, logo adiante, ele mostra como que o Nazismo foi contrário à religião e à família, mesmo que o autor afirme que o Nazismo seja de Direita. Outra contradição se dá quando, nos últimos capítulos, Tucker se mostra muito mais identificado com a esquerda do que poderíamos supor diante do seu discurso “acima do bem e do mal”. Todavia, a quem não é novo nos estudos políticos, sabemos que o libertarianismo respalda moralmente a mesma agenda da esquerda.

Um dos pontos mais chocantes no reducionismo binário de Tucker é que ele consegue apresentar que os dois grandes inimigos da liberdade estão na América, a saber, a Esquerda e a Direita. Em nenhum momento, ele consegue ver o perigo contra o Ocidente vindo da China, da Coreia do Norte, da Rússia e, muito menos, do mundo muçulmano. O vilão da história para Tucker é o próprio Ocidente com sua “tradição coletivista de direita anticapitalista” manifestada na América. E a salvação dos direitos individuais está no libertarianismo, que, num arroubo descontrolado de utopia, Tucker diz que é a via da paz, pois respeita os diferentes, as religiões e igrejas! Ora, nada mais mítico do que dizer uma asneira dessa! Porque a raiz do libertarianismo é ateísta e considera toda e qualquer religião um irracionalismo. Portanto, na vida real, na construção da paz libertária, quaisquer argumentos do cristianismo são desconsiderados pela razão simples de sermos todos irracionais, místicos e subjetivistas. Em outras palavras, o libertarianismo, como toda utopia revolucionária, uma vez posta em prática na vida real apresentará o jogo com suas próprias regras e, obviamente, os defensores da moral judaico-cristã não serão convidados para entrar no time.

O livro é de todo um desperdício de tempo? Não. Há momentos de boa descrição política e histórica, com destaque para o capítulo 12 sobre o conceito intelectual da ideologia do QI. É um livro para ser lido sabendo do contexto filosófico de Tucker. É preciso ler com um filtro de conhecimento do que realmente é o libertarianismo e quais os interesses do autor em rearranjar o espectro político do Ocidente.

No mais, ousarei dizer que a melhor parte do livro não foi escrita por Tucker: o posfácio à edição brasileira! Ao terminar a leitura, estava com várias indagações na mente que, à medida que lia o posfácio, iam sendo respondidas. O posfácio responde, por exemplo, àquela pergunta que todo cristão que luta em favor dos direitos individuais se faria, uma vez que foi a “extrema-direita” religiosa e cristã que elegeu Trump, segundo alega Tucker: somos os fascistas da História? Não há como negar que toda a argumentação de Tucker se aplica a quem elegeu Bolsonaro. Para Tucker, os eleitores cristãos de Trump e Bolsonaro são a extrema-direita, os nazistas e fascistas de Charlotteville. Por tudo isso, é muitíssimo interessante que o autor do posfácio seja um eleitor de Bolsonaro, pastor e cristão. Yago Martins usa o posfácio para defender o seu cristianismo das acusações de ser extrema-direita. E o faz muito bem. Todavia, por melhor que seja a sua argumentação, por mais racional que pareça, ainda assim, tudo o que foi escrito por Yago funciona para os "adeptos", mas jamais para um libertário, por duas razões simples: primeira, a premissa é a de que somos irracionais e, segunda, fazemos parte dos “conservadores”, que, nas palavras de Tucker, são “os fascistas”. Além disso, a presença do Yago tentando se justificar é um tiro pela culatra, pois, além de não conseguir sair da posição em que o conservadorismo foi colocado por Tucker, ainda respalda o que Tucker defendeu em todo o seu livro. É como se Yago dissesse: “Olha, concordo com toda sua análise, por isso estou aqui no seu livro, mas eu não sou isso que você escreveu”. Diante dessa defesa de Yago, vejo Tucker esboçar um sorriso de condescendência frente ao que ao autor de "Coletivismo de Direita" considera ser a mediocridade do nosso mundo de unicórnios e duendes.


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Romeu Felix 19/02/2023

Fiz o fichamento sobre esta obra, a quem interessar:
"Coletivismo de Direita: A Outra Ameaça à Liberdade" é um livro escrito por Jeffrey Tucker e publicado em 2019 pela editora LVM. A obra aborda a ascensão do coletivismo de direita, uma ideologia que combina elementos do conservadorismo e do nacionalismo com políticas econômicas estatistas.

O livro é dividido em 12 capítulos e apresenta uma análise crítica do coletivismo de direita, mostrando como essa ideologia tem sido utilizada para justificar políticas autoritárias e restringir a liberdade individual. Tucker argumenta que o coletivismo de direita representa uma ameaça tão grande quanto o socialismo para a liberdade e a prosperidade.

Tucker apresenta exemplos de líderes e movimentos políticos de direita que promovem o coletivismo, como Donald Trump nos Estados Unidos, Viktor Orbán na Hungria e Matteo Salvini na Itália. Ele argumenta que esses líderes utilizam retóricas nacionalistas e xenófobas para mobilizar seus seguidores e justificar políticas econômicas estatistas.

O autor também discute as raízes intelectuais do coletivismo de direita, mostrando como essa ideologia é influenciada pelo pensamento de filósofos como Friedrich Nietzsche e Martin Heidegger. Ele argumenta que o coletivismo de direita é baseado em uma visão autoritária da sociedade e da economia, que coloca o Estado e o coletivo acima do indivíduo e da liberdade.

Tucker apresenta uma alternativa ao coletivismo de direita, defendendo a importância da liberdade individual e da economia de mercado para a prosperidade e a justiça social. Ele argumenta que a defesa da liberdade individual não é apenas uma questão de princípios, mas também uma questão de eficiência econômica e desenvolvimento humano.

Em resumo, "Coletivismo de Direita: A Outra Ameaça à Liberdade" é uma obra que apresenta uma análise crítica do coletivismo de direita, mostrando como essa ideologia representa uma ameaça à liberdade e à prosperidade. O livro é uma importante fonte de informação para quem se interessa por política, economia e liberdade individual.
Por: Romeu Felix Menin Junior.
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