Luciano Luíz 28/07/2019
O LIVRO MALDITO é uma coletânea de contos curtos de DAVID HERICK & VAN R. SOUZA que são autores apaixonados pela arte do terror. O visual do volume é bonito, com uma ilustração grotesca na capa, porém, a cor rosa (ou pink) acaba tirando o clima sombrio. Se fosse vermelho com negro daria uma atmosfera mais chamativa e temerosa. Assim sendo rosa, passa-se a impressão de que é um livro teen ou uma agenda adolescente de uma garota que anota ali seu diário. Dessa maneira podemos supor que o livro seja um tipo de armadilha... doce por fora e venenoso por dentro... mas... Outra coisa que ficou estranha é na contracapa. Há fontes enormes com textos sem serventia. Tem também um selo, que indica que é preciso ter mais de 18 anos para ler. Mas é assim tão assustador? Depende.
Esse é um daqueles livros que são mais indicados para jovens leitores. Quando falo em jovem, não me refiro especificamente à idade, mas sim, à bagagem literária. Se for alguém com pouca leitura e que nunca chegou perto de um material destes, então será uma viagem e tanto. Mas se forem leitores e leitoras que acompanham há anos (ou décadas) textos no mesmo gênero, então a obra não será impactante. Como se trata de contos muito pequenos, que ocupam uma ou duas páginas, a leitura é rápida. Sem dúvida esse tipo de coleção é perfeita para quem gosta de ler no ônibus, metrô e onde mais tiver de passar um tempo. Outra coisa bacana no livro é que vem recheado de ilustrações. Varia de qualidade desde boa, muito boa, mediana, ruim e claro, ótima. Aliás, tem o desenho da capa sem aquela cor rosa e ali sim, o visual é muito mais profundo e toca a mente dos leitores com outro nível.
Antes dos contos há outros textos e ali existem advertências de que o livro é mesmo maldito, etc. e tal. Em minha opinião isso é completamente desnecessário. O livro é para ser de terror, mas assim acaba tendo um clima bem duvidoso. Como se algum adolescente tivesse tido a ideia de fazer isso e achar genial. Mas e os contos? São de dois autores. Não há menção de qual foi escrito por esse ou aquele. No entanto, a narrativa de todos os textos são iguais, simples e funcionais. A leitura flui bem. Só que tem um probleminha: todos os contos são iguais em sua essência. São previsíveis. No início tudo bem, mas depois não há qualquer surpresa. Pois suas conclusões são exatamente idênticas. Você acaba sabendo o que vai acontecer antes de terminar. E isso é algo triste demais em qualquer gênero literário. Em apenas dois contos fui surpreendido e não consegui identificar o que aconteceria no final. Praticamente todos os contos se resumem a mesma ideia. O último parágrafo sempre se mostra como a revelação. Nenhum conto deixa dúvidas. Nenhum é confuso. Nenhum é difícil de compreender. Apesar de serem todos iguais, seus enredos são também parecidos: namorados, casados e sempre algo relacionado a um fantasma ou assassinato. Claro, é terror, mas falta algo ali para que os textos sejam mais convincentes. São violentos, tem boas descrições, mas isso não é o suficiente. Afinal, terror não é só pegar uma faca, machado ou estrangular alguém. Há também o terror psicológico ali, mas este sempre é rendido pelo terror físico.
É um bom livro, mas para quem está engatinhando na leitura. Os autores tem sua habilidade, mas esta deve ser mais lapidada. É preciso que amadureçam e vão mais longe. E isso é algo que se aprende ao longo dos anos. Somos eternos aprendizes. Ah, outro fator curioso é que os contos sendo pequenos possuem muitas repetições. E isso é algo que não deve ocorrer em uma concentração tão minúscula de palavras.
Enfim, vale novos leitores darem uma olhada. Pra quem busca uma leitura rápida e quer ter uns calafrios no escuro sob a luz do abajur ou do smartphone é uma boa indicação. Mas para quem já andou por textos mais sofisticados e que possuem uma gama maior nas entrelinhas, tanto em questão de enredo quanto na forma da escrita (narrativa), O Livro Maldito infelizmente não vai se tornar uma leitura indispensável.
L. L. Santos