Leo Barbosa 19/02/2022
Leitura mais que metalinguística
Ler é uma das maiores capacidades que o cérebro humano é capaz de desenvolver e nós desenvolvemos diversas habilidades através da leitura. Isso pode ser comprovado a partir da obra “O cérebro no muno digital – os desafios da leitura na nossa era”, de Maryanne Wolf. A autora, neurocientista é uma grande estudiosa do letramento das crianças. Nesse livro, fica evidente a sua preocupação em analisar os movimentos que fazemos ao ler um livro físico ou em suporte digital. É nítido que o estímulo é outro, principalmente nas redes sociais em que nossos olhos dão sacadas mais rápidas e tendemos a refletir menos sobre o conteúdo em tela, dificultando o acesso à leitura profunda. Quem são os “bons leitores” nesta época de rápidas mudanças? Maryanne é enfática ao dizer que não é contra a internet e outras mídias, mas que precisamos estar atentos às transformações que a imersão no mundo digital têm nos trazido, quais são os seus impactos e quais consequências negativas temos/teremos. Apresento alguns dos meus grifos:
- O futuro da linguagem está ligado não só aos esforços contínuos dos escritores por encontrar as palavras que nos guiarão até sua trabalhosa reflexão, mas também aos esforços contínuos dos leitores por responder, aplicando sua melhor reflexão àquilo que está sendo lido.
- Quando a linguagem e o pensamento se atrofiam, quando a complexidade
se esvai e tudo se torna cada vez mais o mesmo, corremos grandes riscos na
política da sociedade – vindos quer de extremistas de organizações políticas ou
religiosas ou, menos obviamente, de publicitários.
- Quando é alimentada, a linguagem humana proporciona o mais perfeito veículo para a criação de pensamentos não limitados, nunca antes imaginados, que por sua vez
fundamentam avanços em nossa inteligência coletiva. O inverso é também
verdadeiro, com implicações traiçoeiras para cada um de nós.
- Quando é alimentada, a linguagem humana proporciona o mais perfeito veículo para a criação de pensamentos não limitados, nunca antes imaginados, que por sua vez
fundamentam avanços em nossa inteligência coletiva. O inverso é também
verdadeiro, com implicações traiçoeiras para cada um de nós
- Levitin afirma que as crianças podem acostumar-se tão cronicamente com
um fluxo contínuo de itens em competição por sua atenção, que seus cérebros
ficam, para todos os efeitos, encharcados em hormônios como o cortisol e a
adrenalina, os hormônios mais comumente associados à luta, à fuga e ao
estresse.
- [...] pessoas mais velhas que leem na tela podem estar fazendo um uso menor da memória de trabalho de que dispõem porque também processam o texto cada vez mais como se fosse um filme, que nunca tentariam lembrar da mesma maneira.
- [...] precisamos encarar o fato de que, ao sermos bombardeados por demasiadas
opções, nossa tendência pode ser confiar em informações que exigem pouco do
pensamento. É crescente o número de pessoas que se considera informada, sendo que a informação veio de fonte ligada a seu modo de pensar antes. E
então, embora estejamos aparentemente bem preparados, há cada vez menos
motivação para pensar mais profundamente, e muito menos experimentar
enfoques diferentes dos nossos. Pensamos saber o suficiente, esse estado mental
enganador que nos acalma, lançando-nos numa complacência cognitiva passiva
que inviabiliza mais reflexão e escancara a porta para que outros pensem por
nós.
- Se perdermos gradualmente a capacidade de examinar como pensamos, perderemos também a possibilidade de examinar serenamente o que pensam aqueles que nos
governariam. As maiores atrocidades do século XX exemplificam tragicamente o
que acontece quando uma sociedade deixa de examinar suas próprias ações e
cede seus poderes analíticos àqueles que lhe dizem como deve pensar e o que
deve temer.