Guerra do Contestado. A Organização da Irmandade Cabocla

Guerra do Contestado. A Organização da Irmandade Cabocla Marli Auras




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Eros 22/02/2023

Tendencioso!
Marli Auras se propõe, neste seu "Guerra do Contestado: a Organização da Irmandade Cabocla", apresentar elementos para a compreensão da dinâmica social experimentada nos redutos dos sertanejos que desencadearam a chamada "guerra do contestado". No primeiro capítulo ela é bastante feliz ao contextualizar as realidades, naquele tempo, de uma população iletrada e sem perspectiva em um rincão abandonado pelo Estado, por conta da inexistência dos limites demarcatórios entre o Paraná e Santa Catarina, a chamada "região contestada" (contestada por ambos os Estados). É no espoucar do conflito armado que a autora fere os princípios sagrados da imparcialidade ao tingir com cores de "vilão" o Estado "capitalista" e com as cores de "vítimas" (com uma tonalidade de "heróis") o sertanejo que fanatizado partiu para o saque e a violência. A infeliz resultante disso é um discurso tendenciosos encobrindo as diabruras perpetradas em nome da "monarquia", de "são joão maria" e dos "pares da frança". Para a autora o roubo do gado dos fazendeiros, associado ao incêndio criminoso da sede da fazenda (com a morte à facão do pai da família na frente da esposa e filhos) era apenas "arrebanhar o gado para os redutos" ou então "apropriação compulsória" para subsistência dos redutos e seus numerosos moradores. Embora Marli seja prolífera na tecitura da vida comunitária perfeitamente igualitária nos redutos caboclos, ela não se preocupa em dizer que a harmonia onde tudo é de todos ("quem tem mói, quem não tem mói também, e no fim todos ficam iguais") só era possível porque o sustento vinha do fruto do trabalho alheio arrancado por meio de saques às vilas próximas, sempre com muita violência, raptos, roubos, e conduzidos pelos piquetes de jagunços fanatizados. Ou seja, nada plantavam, nada cultivavam, nada criavam, e sim devastavam os bens alheios como gafanhotos sobre plantações (como se aquilo tudo tivesse brotado ali por acaso). Embora Marli cite as barbaridades cometidas entre os próprios sertanejos (açoitamentos e execuções públicas à guiza de castigo porque um ou outro não viu "joão maria" em uma nuvem) ela não oferece muitos detalhes acerca disso, mas é bastante minuciosa para descrever os corpos de mulheres e crianças estraçalhadas pelos canhões dos militares. Já quando a jagunçada atacam e incendeiam vilas como Calmon, Curitibanos e São João dos Pobres (atual Matos Costa), com o assassinato a facão de todo o homem adulto (muitos adolescentes também foram considerados adultos), em frente das esposas e das crianças, esta autora se limita a dizer que "mataram os homens, mas pouparam as mulheres e crianças", quase como se tal fosse uma ação venturosa. Para não deixar em branco vale ainda uma observação sobre as críticas cruéis que a autora faz a estratégia de cerco aos redutos (antes do ataque das tropas) impedindo que os piquetes saqueassem as fazendas para levar comida aos caboclos, e que, segundo a autora, "levou a fome e a morte de crianças e mulheres". Essa quase humanitária estratégia, levada a efeito pelo General Setembrino de Carvalho, visava exatamente poupar as mulheres e crianças que, acossadas pela fome, tinham o salvo conduto para se entregar sem se tornar vítimas do ataque eminente da tropa. Se sofreram a privação da fome foi simplesmente por terem sido coagidas a permanecerem prolongadamente no reduto pelas próprias lideranças dos fanáticos! Enfim, um (infelizmente, mais um) livro tendencioso sobre o Conflito do Contestado que alimenta uma perigosa interpretação da validade do crime como um mecanismo de busca pela igualdade. Ante a demonização dos verdadeiros guardiões da ordem social (para que não se torne hábito sair matando a facão por aí, inconformado com o preço das coisas) só nos cabe dar três vivas à Potyguara!!! Urra!!!
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