Paulo 02/12/2021
Este segundo volume de Diabolik apresenta mais algumas histórias do personagem ao lado de sua esposa Eva. As narrativas são bem variadas passando por esquemas mirabolantes, chantagens e até momentos de cerco. As narrativas seguem lógicas bem diferentes e buscam mexer na estrutura da história um pouco, seja começando de trás para frente ou inserindo outros núcleos de personagens. Isso dá às histórias um certo grau de imprevisibilidade, apesar de a fórmula "Agatha Christie" de contar o que está sendo feito e a solução dos mistérios permanecer. Narrativamente falando, Diabolik possui histórias de alto nível, mas esse modelo de histórias incomoda um pouco por parecer cansativo após você ler uma quantidade de histórias. Até o presente momento não vemos uma repetição de personagens ou elementos de enredo, sendo as histórias fechadas em si próprias, sem arcos narrativos. Para quem está acostumado com esse estilo de história pode ser bem diferente e estimulante. Das quatro histórias, a minha favorita foi Um dos Três porque foi aquela mais tensa neste volume.
A arte segue a escola italiana dos fumetti, com traços bastante realistas e uma preocupação com expressões e cenas de ação. Duas coisas são possíveis de serem destacadas neste estilo. O primeiro é que a arte sempre se mantém em um padrão bom ou bastante elevado. Nunca vamos ver nada mediano ou ruim. E isso porque estamos falando de um volume que tem pelo menos cinco desenhistas (não é informado para os leitores quem cuida da arte em si e quem cuida da arte-final). Um leitor mais atento vai notar diferenças bem sutis de traço e aí vai preferir essa ou aquela história com base nisso. Mas, no geral elas possuem padrões bem semelhantes e mesmo o design de personagens se mantém o mesmo. O segundo motivo é que algumas cenas parecem saídas de um filme de ação ou de espionagem. A escolha de ângulos, a disposição da cena, o sequenciamento e até a virada de página mantém o leitor preso à narrativa. A gente tem a falsa impressão de que quatrocentas e oitenta páginas é muito, mas a HQ passa voando. É possível o leitor dar uma paradinha entre histórias, mas ao mesmo tempo, é possível também seguir direto. Acabei parando somente entre a primeira e a segunda história, mas daí em diante consegui ir até o final. Minha crítica fica que vez ou outra a gente repara em designs de personagem parecidos sendo utilizados. É quase como aquela impressão de "uhmmmm... já vi esse cara em algum lugar". E quando quatro histórias são colocadas lado a lado, esse sentimento fica mais presente.
A primeira história Tudo de Novo coloca Eva e Diabolik para roubar diamantes de um criminoso chamado Warner. Tudo parecia ir bem para o casal até que Diabolik descobre que Eva foi capturada por alguém ligado a uma operação secreta da polícia. Aparentemente eles estão de olho no chefe de Warner, alguém que tem desbaratado todas as operações de captura e causou a morte de vários membros da equipe. Existe um teor de vingança e justiça na história. Diabolik vai precisar devolver o que acabou de roubar e ajudar em uma operação arriscada que pode colocar em risco a liberdade do casal.
Nesta primeira história fica o destaque para o seu tom dramático em que uma das personagens deseja a todo custo acabar com o adversário que está buscando. Já tínhamos visto em histórias anteriores como Eva acaba se deixando levar por situações em que alguém perde o seu amado por conta de suas atividades. Se trata de uma histórias com várias idas e vindas e o final é bem inesperado. Temos um plot twist no final que deixa os leitores bem boquiabertos. Apesar de Eva e Diabolik serem os protagonistas, eles acabam sendo mais reativos do que protagonistas propriamente ditos.
A segunda história, Sob Assédio, achei a mais fraca das quatro. Isso mesmo levando em consideração que se trata de uma história com mais ação e tensão. Nela, Diabolik planeja um golpe em um criminoso chamado Lucenko, e para fazer isso, Eva toma o lugar de uma fornecedora de material para imprimir notas falsas. Só tem um problema: a fornecedora estava trabalhando para a polícia em uma operação para desbaratar todo o esquema de falsificação. Ela vendeu Lucenko em troca de sua liberdade. Só que um informante dentro da polícia informa a Lucenko sobre a traição. No meio do caminho, a mulher é capturada por Diabolik e Eva toma o seu lugar. Só que a operação dá errado por causa desses vários desentendimentos, mas o casal consegue fugir com o dinheiro da compra do equipamento de falsificação. Eva sai ferida e eles acham que tudo acabou, quando Ginko aparece ferido na porta do esconderijo dos dois. E junto de Ginko, o bando de Lucenko vem junto.
A narrativa segue uma série de flashbacks que vão nos montando as informações pouco a pouco mostrando como a narrativa se encaminhou para aquele ponto. Desde o papel da fornecedora e os motivos que a levaram a vender a organização até a participação de Ginko em toda a operação. A narrativa é cheia de truques e enganos, bem no estilo de Diabolik de nunca sabermos exatamente o que ele pretende. A história tem um componente mais tenso porque Eva e Ginko estão feridos, deixando apenas Diabolik para lidar com um grupo de mais de dez bandidos. O roteiro ressalta aqui o improviso e a inteligência do protagonista para se livrar de situações apertadas. Algumas delas são bem bizarras e não me agradaram muito enquanto outras são bastante curiosas.
A terceira história é o bicho estranho no meio das quatro. Chama-se Com a Morte no Corpo e nela vemos uma dupla de repórteres fazendo uma série de entrevistas com pessoas importantes em Clerville. Eles são convidados para uma festa em uma mansão pela misteriosa Condessa Leblanc. Como Diabolik queria roubar os diamantes de uma das pessoas que os jornalistas iam entrevistas, ele e Eva substituem o casal e acabam sendo capturados pela condessa. Algo é injetado no sangue deles e eles se tornam uma espécie de arma biológica mortal. Só tem um problema: a doença é mortal e eles tem 48 horas antes do derradeiro fim chegar. Diabolik e Eva precisarão descobrir o paradeiro da condessa e quais são os seus objetivos.
Essa é a história mais tensa das quatro, pelo menos na teoria. Se temos uma história do Diabolik, é difícil eu acreditar que o protagonista realmente vá morrer. Okay, essa é uma série mais do "como" do que do "por que". Mesmo assim, achei complicado de cair nessa linha tensa de que o personagem realmente poderia morrer, ainda mais dado o tom realista dela. Mas, a narrativa segue uma história em que os personagens tem bastante dificuldade para compreender o que realmente está acontecendo e de em que esquemas eles foram colocados. Outro empecilho são os problema corporais aos quais eles são submetidos já que a doença causa cegueira e paralisia dos membros intermitentes. O casal não tem como saber quando eles serão acometidos pelos efeitos colaterais da doença. Acho que se o roteiro se focasse mais no aspecto debilitante da doença e não tanto em um possível fatalismo (que o leitor não compra), talvez a narrativa pudesse ser ligeiramente melhor.
Um dos Três, a quarta história, me agradou mais. Nela temos um assassinato acidental que acontece no começo da história, fruto de um roubo feito por um criminoso comum à casa de um empresário. Sua filha acaba morrendo e gera nele um desejo de vingança. O empresário arma um esquema em que ele captura três ladrões de Clerville que não tinham nenhum tipo de álibi na noite do assassinato. Ele coloca os três em um quarto fechado e dá doze horas para que um deles confesse o crime. Em um esquema bem Jogos Mortais. Diabolik se envolve nisso porque ele acaba tomando o lugar de um desses criminosos de forma a pegar um colar que um deles havia roubado poucas semanas antes. A história toda é bastante tensa e a gente fica realmente preocupado sobre o que pode acontecer a seguir. Principalmente porque a gente não sabe qual dos três causou o assassinato ou até se Diabolik, sem querer, substituiu o próprio criminoso. O final é surpreendente e inesperado. Acho que talvez das quatro histórias é o que é menos previsível.
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