Coruja 26/12/2019Era para ter lido esse livro em junho, como parte do Desafio Corujesco, mas a Allende acabou me encontrando numa época complicada e posterguei
ad infinitum para terminá-lo. Sorte minha que persisti; até porque,
A Casa dos Espíritos foi tema de um dos encontros do clube do livro de que participo.
Para começo de conversa, o que posso dizer sobre
A Casa dos Espíritos é que não se trata de um livro fácil. Os ciclos de violência que perpassam todo o enredo me obrigaram mais de uma vez a parar e respirar fundo antes de ir em frente. Ao mesmo tempo, os momentos de leveza e absurdo, o humor com que eles são infundidos te fazem sentir acolhido: há qualquer coisa na essência desse livro que soa familiar e confortável. A obra de Allende é uma orgulhosa e surpreendente representante do realismo fantástico que é típico da literatura latino-americana.
Embora boa parte da narrativa seja dominada pelo violento e autoritário Esteban Trueba, o protagonismo aqui vai para as mulheres, gerações de mães e filhas que se sucedem em suas lutas e crenças - e que, curiosamente, compartilham um significado em seu nome -: Nívea, a sufragista; Clara, clarividente; Blanca, artista; Alba, sobrevivente e narradora da história. Conflitos sobre terras e questões políticas dividem espaço com o drama familiar que une essas pessoas, presas numa roda de erros que se repetem e cobram seu preço.
O livro não diz às claras que a ação se passa no Chile à época do golpe de Pinochet, mas não é difícil entendê-lo. O curioso é como ela continua tão atual. Talvez a palavra que eu devesse usar aqui não fosse ‘curioso’, mas sim ‘dilacerante’, porque enquanto debatíamos no café esse livro, a TV às nossas costas noticiava a onda de violência e repressão contra manifestações sociais no Chile. Uma prova a mais de como a História é cíclica e o ser humano não aprende com seus erros...
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