Marcos Pinto 29/09/2016Bom, mas poderia ser bem melhorHan Solo é um ícone pop. Sua personalidade, suas tiradas, seu jeito meio vigarista, meio herói, sempre ganharam os fãs de Star Wars pelo mundo, tornando-o um dos personagens mais queridos da saga. Contudo, pouco se sabia da origem desse controverso contrabandista. Ao menos até agora. Em A Armadilha do Paraíso, A. C. Crispin entrega um pouco da origem de Han. Contudo, vale lembrar que o livro faz parte do universo Legends. Ou seja, tudo que você lerá daqui por diante pode ou não ter acontecido. Contudo, toda lenda tem um fundo de verdade...
O jovem Han Solo foi resgatado das ruas por um contrabandista. Gente da pior espécie, praticamente escravizava os seus e massacrava os demais. O importante para ele era o lucro. Devido ao terror que causava por aí, ninguém ousava desafiá-lo. Ao menos, ninguém, com exceção de Han Solo. O garoto queria fugir, queria uma vida melhor, queria ser cadete do Império... Para tal, montou um plano quase perfeito de fuga. Como todo plano quase perfeito sempre dá algo errado, o de Han não foi diferente. Saiu vivo, é verdade, mas teve que pagar um preço muito alto.
Tentando esquecer o passado sombrio que o cerca, Han vira piloto no distante planeta Ylesia, local onde é feito o refino de especiarias com trabalho escravo travestido de viés religioso. Lá ele trabalhará para os Huts, um povo que adora mortes, dinheiro e lama. Como Solo não era do tipo que tinha medo, ele, de cara, pensa em como roubar toda aquela riqueza e fugir. Contudo, isso não será nada fácil.
“Solo não admitiria nem mesmo para si o quanto ele realmente temia e odiava o capitão da Sorte de Mercador. Tinha aprendido há muito tempo que demonstrar qualquer tipo de medo era garantia de uma surra rápida, ou coisa pior. A única coisa que os valentões e os idiotas respeitavam era a coragem: ou, pelo menos, bravatas. Então Han Solo tinha aprendido a nunca deixar que o medo emergisse em sua mente e coração” (p. 23).
Partindo dessa premissa, A. C. Crispin cria um enredo interessante, mas não totalmente convincente. Conhecemos os primeiros passos de Han e já conseguimos identificar nele traços do homem que ele irá se tornar. Contudo, em alguns momentos, ele parece estar bem distante daquilo que conhecemos no cinema. Em parte, por questão de maturidade do protagonista, que deverá crescer muito durante os três livros da série. Em parte, porque a autora parece ter apostado em um enredo mais juvenil.
Como todo jovem que se preze, durante o livro, Han se entrega ao amor. Contudo, nesse aspecto a autora também parece ter aproveitado a estrutura de um romance mais jovem. O romance é previsível, acontece de maneira ágil e por um motivo que não convence totalmente. Apesar de ter um certo desenvolvimento posteriormente, o que melhora bastante o relacionamento, o início é rápido demais, o que parece incompatível, já que o romance é peça fundamental para desenvolvimento da obra.
Por outro lado, a escrita da autora convence totalmente. Sua forma de narrar é ágil, inteligente e mostra o amadurecimento de quem escreve há muito tempo. Isso também se reflete na profundidade dos personagens, sendo todos bem trabalhados, principalmente Han. Isso faz com que a leitura seja rápida e viciante.
“– Eu sou irresistível quando quero. – Você é um metido, isso sim – retrucou ela, soando meio irritada, meio divertida. – Metido, presunçoso, arrogante... insuportável... – A Peregrina parou de falar para rir. Han percebeu que era a primeira vez que ouvia a risada dela. – Ah, por favor, continue! – protestou de brincadeira o piloto, rindo também. – Eu adoro quando as mulheres me elogiam, é música para meus ouvidos” (p. 127).
Além disso, não falta ação durante o livro. Apesar de haver alguns momentos de menor velocidade durante o enredo, a autora sabe aproveitar esses momentos para desenvolver pequenos traços de mistério. Na parte da ação, as cenas são bem delineadas, com objetivo e não apenas “ação por ação”, o que deixa a construção mais convincente.
Em relação à parte física, não há o que reclamar. A Aleph novamente entregou um trabalho de alto nível. A capa é maravilhosa e retrata perfeitamente a ideia que será passada durante o livro. A diagramação segue o padrão da série Star Wars: muitas páginas pretas, com diversos detalhes que embelezam o trabalho; a é fonte mediana, mas como o livro foi impresso em papel pólen, a leitura é agradável. Os erros de revisão são quase inexistentes, fazendo com que a leitura flua muito bem.
Em suma, A Armadilha do Paraíso é uma boa introdução para a trilogia. Apesar de pecar em alguns aspectos, alcança os seus principais objetivos: entreter o leitor e dar uma possível origem para Han. Sem dúvidas, uma obra recomendada para amantes de Star Wars.
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http://www.desbravadordemundos.com.br/2016/09/resenha-armadilha-do-paraiso_29.html