Estela 04/05/2020
Viagem ao Centro da Terra | Jules Verne
Foi difícil chegar à metade. O caminho que Verne usa no início me entediava, parecia clichê e previsível demais, e demorei pra me prender à leitura. Aquela vontade de abandonar o livro aparecia a cada capítulo e, junto dela, uma decepção enorme...
Mas então eles começam a penetrar o globo e, quando dei por mim, não conseguia mais parar de ler! (a vontade de contar minha experiência de leitura apareceu exatamente aqui)
A criatividade de Jules Verne me prendeu de novo! Os viajantes começam a fazer descobertas, anotações, observações, as maravilhas subterrâneas encantam, os perigos assombram, a curiosidade aumenta a cada página. Dou lugar à licença poética do autor e as contrariedades científicas não incomodam mais.
Tenho uma teoria pra o motivo de meu desenvolver na leitura ter sido assim, e vou contar porque acredito poder te ajudar a decidir embarcar ou não na viagem ao centro da Terra. Lá vai:
Eu amo a narrativa de exploração de Verne! Amo seu entusiamo científico, seus adjetivos e descrições detalhadas dos fenômenos, cavernas, rochas, fósseis e galerias, amo as especulações da sua mente borbulhante, sua construção fantasiosa que me faz deixar a realidade de lado e me sentir mais um dos seus desbravadores conhecendo fauna e flora das profundezas terrestres. Eu amo acreditar no que Jules me conta.
Mas esse não é um livro cheio de camadas, não traz reflexões, não se aprofunda em pessoas, relações ou qualquer outro tema além das ciências, e as personagens, de tão superficiais, parecem caricaturas, o que, em vários momentos, chegou a incomodar, e é esse o principal ponto negativo do livro. Apesar disso, pra mentes críticas e olhos atentos, na filosofia expressa do professor e nos sonhos e devaneios de Axel, Verne transparece um pouco do pensamento da época em que escreveu.
Mas, acima disso, o fascinante da obra está nos encantos da natureza, na jornada de aventuras, nas descobertas, nas maravilhas fictícias que a Terra de Verne guarda. É quase um relato de viagem, com toda a licença à fantasia do autor - que, apesar dos erros, traz muito ciência correta. E talvez seja preciso compreender tudo isso pra aproveitar o máximo da leitura, e perceber o mais importante, o livro cumpre, muitíssimo bem, o papel a que se propõe: ser uma bela ficção-científica infanto-juvenil do século XIX.
Vou te lembrar que essa é a minha análise pessoal, e essas são as sensações que a obra despertou em mim, e podem ser iguais, parecidas ou diferentes em você. Tudo bem.
Essa minha viagem valeu a pena, apesar dos pesares, valeu muito a pena.