de Paula 12/09/2021
Odorico Paraguaçu
Este é um dos livros mais lembrados pela teledramaturgia que na própria literatura, mas nem por isso é menos incrível e realista em sua construção, narrativa e conduta dos personagens
Escrito em 1962, pelo autor Dias Gomes, na pacata cidade de Sucupira um coronel se levanta com um propósito político: criar o cemitério da cidade. Com uma campanha convincente, graças ao delírio coletivo que jura necessitar de um cemitério acima de todas as demais necessidades, Odorico Paraguaçu é eleito e a partir disso, essa história se perpetua em nossas mentes e até na política brasileira (cof, cof, 2018).
São tratados temas de desvio de verbas, construção de "elefantes brancos", nenhum investimento nas reais necessidades, como educação, saúde e saneamento, a presença do coronelismo nas pequenas cidades e sua influência na vida do povo, a censura da imprensa, jogo político da Igreja, contratação de aliados para cargos de confiança sem capacitação para tal, enfim, tudo o que já conhecemos em todas as esferas da política brasileira. Há também a análise do povo, como as Cajazeiras apaixonadas pelo prefeito, que pregam a moral e bons costumes dividindo o mesmo amante. Também o posicionamento do vigário, apoiando a obra até onde lhe convém, abandonando o Odorico na primeira chance. A esperteza de Neco, o jornalista que faz firme oposição mas tem traquejo para lidar com Zeca Diabo.
Depois de muitos jogos, o cemitério é finalmente inaugurado. Mesmo que seja uma "tragédia" do ponto de vista do teatro, trata-se de uma narrativa divertidíssima, que nos faz refletir de forma crítica sobre a nossa configuração política e social, principalmente nos tempos de (Bols)Odorico que vivemos, o que torna essa obra atemporal, porque a cultura nos orienta, entretem e faz pensar, isso é uma dádiva que devemos aproveitar para não sermos enganados com promessas de obras que em nada nos beneficiam, apenas servem como massa de manobra para os reais objetivos dos coronéis que ainda vivem entre nós.