Rute31 16/05/2024
Essa foi a terceira vez que li Felicidade Clandestina, misto de contos que parecem crônicas e crônicas que lembram contos. Com 25 histórias curtas, Felicidade Clandestina me faz pensar muito em solidão, como se uma cortina muito pesada estivesse colocada na frente de cada personagem.
Meus contos favoritos são Felicidade Clandestina, por ter sido uma das primeiras coisas que tenho lembrança de ter lido, ainda num livro didático: a história do desejo e afeição da menina narradora pelo objeto quase sagrado que a filha do livreiro a um só tempo prometera e negara é uma história que de algum modo se repete ao longo da vida de todo mundo, não necessariamente com um livro. Restos do Carnaval também é um conto que parece muito simples (e só parece) sobre uma menina que pela primeira vez vai poder brincar no carnaval, “bonita e feminina”, fantasiada de rosa. A Legião Estrangeira é um dos contos que mais me impressiona, porque crianças como Ofelia são muito reais e a surpresa que ela deixa após a última visita, ao conhecer o pintinho da casa, é assombrosa. Como essa menina tão bem comportada foi capaz de fazer aquilo? A Criada também é um conto inesquecível, e o curioso nome da personagem, Eremita, me deixa muito intrigada. Por fim, Uma História de Tanto Amor é um dos contos que me marcou mais profundamente: a história da menina que amava suas galinhas rendeu vários rascunhos em minha própria escrita sobre essas aves ao longo do tempo.
Reencontrar Felicidade Clandestina é como reencontrar uma pessoa a quem conheço muito pouco e com quem, apesar de reencontrar, ainda tenho pouca intimidade e sempre encontro algo novo a me fascinar.