Gabalis 31/12/2021
A água apaga o fogo e o vinho a razão.
Você nunca sabe exatamente que bicho vai encontrar na Nova Floresta de Manuel Bernardes. Publicado em 1706, a obra é uma grande coleção de anedotas, fábulas, mitos e todo tipo de casos do mundo antigo e do novo que o autor usa para ilustrar a superioridade de uma vida correta e moral. Escritas em uma prosa muito direta e casual, o autor narra com gosto todo tipo de acontecimento extraordinário e nos diverte enquanto prega. Arrisco dizer que Manuel Bernardes é quase um Esopo Barroco católico. As histórias vão desde contos hagiográficos e a corte de Nero, e o império da Pérsia, até as aventuras dos navegadores portugueses no século XVI.
Muitas histórias aqui dariam excelentes novelas. As narrativas sobre o dragão de Rodes, a conversão do tribuno Quirino e o caso da abadia de S. Dionísio são alguns que me vem à mente. São narrativas que divertem e assombram pelo seu caráter fantástico. Nesses apólogos vemos de tudo; ossos milagrosos, anéis mágicos, mortos que ressuscitam e soldados que usam os próprios dentes como bala para o mosquete. As histórias vão arranjadas por temas como amizade, humildade, avareza e assim por diante. As narrativas são curtas e nunca aborrecem. É uma pena que não seja um autor mais lido, pois dele poderia ter saído uma tradição de literatura fantástica com as melhores qualidades da língua portuguesa.