jota 30/04/2012Românticos de PrincetonAlém da tradução do competente Brenno Silveira esta edição traz o prefácio - O Último Romântico, do jornalista e escritor Daniel Piza, falecido recentemente (uma grande perda para o jornalismo cultural brasileiro). Publicado em 1920 foi o romance de estreia de Fitzgerald e alcançou imediato sucesso de crítica e público. Para os estudiosos da obra do escritor, um livro tão importante quanto sua obra-prima, O Grande Gatsby.
Lançado quando ele tinha apenas 24 anos, isso não o impediu de fazer agudas observações sobre o comportamento da alta sociedade americana dos anos 1910-20 e também sobre a vida universitária da juventude dourada desse tempo.
O jovem Amory Blaine, o protagonista, tem muito do autor, até mesmo fisicamente. E conforme escreveu Daniel Piza, no prefácio, "a geração de Fitzgerald marcou a ascensão moderna da figura do jovem inconformista, inquieto, que quer escapar dos preconceitos dos mais velhos e não sabe muito bem o que pôr no lugar."
Então bebem muito, praticam pequenos furtos, amam (e esquecem) facilmente as mulheres, são inconsequentes, etc. Mas por trás deles está Fitzgerald, então ele não abre mão de espalhar aqui e ali suas pinceladas de ironia e humor ácido.
Quando teve início a I Guerra Mundial (1914-1918), os EUA eram uma jovem nação e suas universidades ainda não conheciam a fama que depois conquistariam no mundo todo, juntamente com as inglesas, matrizes das americanas - Harvard, Yale, Columbia, Princeton, etc.
É em Princeton que o protagonista Amory Blaine estuda (assim como seu criador, Fitzgerald, estudou). Ao lado dos estudos em economia, matemática, filosofia, das leitura dos clássicos, do grego, latim, francês e esportes, etc., os jovens também apreciavam bailes, namoros pouco sérios, bebedeiras, brincadeiras, tinham suas sociedades de estudantes, etc. E também seus preconceitos, especialmente contra pobres, negros e judeus.
Religioso que era (católico, por influência da mãe, Beatrice; se ela lembrar a Beatriz de A Divina Comédia, de Dante isso não será mera coincidência), amigo íntimo do influente monsenhor Darcy, aos poucos vai substituindo a espiritualidade pela política, tornando-se um homem idealista, utópico mesmo – abraça o socialismo. Amory diz a certo momento: “É a única panaceia que conheço.”
O personagem com quem ele conversa está impregnado do conceito da grande América capitalista (a crise de 1929 ainda não tinha acontecido, claro) e lhe diz, na despedida: “Boa sorte para o senhor e má sorte para suas ideias.” Gostei da frase, por isso resolvi colocá-la aqui; pode ser útil um dia, dita numa situação diferente.
Mais algumas páginas e o livro termina meio que melancolicamente, deixando no leitor (pelo menos em mim) um sentimento de desilusão de tudo.
Lido entre 18 e 30.04.2012.