Carina 11/09/2013
Ser professor é um pretexto para a felicidade
Rubem Alves é um professor que aposta no simples e no que muitos diriam ser inútil. Para ele, educação vai muito além do que é aprendido nos bancos da escola; aliás, é necessário inclusive esquecer tudo o que o colégio nos obrigou a decorar – pois aí reside o verdadeiro conhecimento.
A leveza do texto infelizmente convive com a repetição de temas. Por mais que as teorias didáticas de Alves sejam interessantes, a ida-e-volta aos mesmos assuntos torna a obra um tanto redundante – sem deixar, contudo, de ser encantadora.
Trechos:
Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais...
Romain Rolland conta a experiência de um aluno: “... afinal de contas, não entender nada já é um hábito. Três quartas partes do que se diz e do que me fazem escrever na escola: a gramática, ciências, a moral e mais um terço das palavras que leio, que me ditam, que eu mesmo emprego – eu não sei o que elas querem dizer. Já observei que em minhas redações as que eu menos compreendo são as que levam mais chances de ser classificadas em primeiro lugar”.
Era uma daquelas tirinhas do Charlie Brown. Ele está explicando ao seu amiguinho a importância das escolas. “Sabe por que temos que tirar boas notas na escola? Para passarmos do primário para o ginásio. Se tirarmos boas notas no ginásio, passamos para o colégio e se no colégio tirarmos boas notas, passamos para a universidade, e se, nesta tirarmos boas notas, conseguimos um bom emprego e podemos casar e ter filhos para mandá-los à escola, onde eles vão estudar um monte de coisas para tirar boas notas e...”
A aprendizagem é assim: para se aprender de um lado há que se esquecer do outro. Toda aprendizagem produz o esquecimento.
Educação é isto: o processo pelo qual os nossos corpos vão ficando iguais às palavras que nos ensinam. Eu não sou eu: eu sou as palavras que os outros plantaram em mim.
A gente fica poeta quando olha para uma coisa e vê outra. É isto que tem o nome de metáfora.
As crianças são seres oníricos, seus pensamentos têm asas. Sonham sonhos de alegria. Querem brincar. Como as vacas de olhos mansos são belas, mas inúteis. E a sociedade não tolera a inutilidade. Tudo tem de ser transformado em lucro. Como as vacas, elas têm de passar pelo moedor de carne. Pelos discos furados, as redes curriculares, seus corpos e pensamentos vão passando. Todas estão transformadas numa pasta homogênea. Estão preparadas para se tornar socialmente úteis. E o ritual dos rolos em plástico? Formatura. Pois formatura é isto: quando todos ficam iguais, moldados pela mesma forma.
Se o mundo da lagarta não era maior que a folha que comia, o universo da borboleta era o jardim inteiro.