Fernando Lafaiete 08/09/2018À Espera de um Milagre: Doloroso, reflexivo e impactante!******************************NÃO possui spoiler******************************
Stephen King é certamente um dos meus escritores favoritos. Me incomodo na maioria das vezes com algumas escolhas feitas por ele. Mas suas obras me impressionam, em especial quando analiso a criatividade e a força de suas narrativas. À Espera de um Milagre foi uma leitura bem diferente das que estou acostumado a ler do referido autor. Apesar de ter visto diversas vezes o filme quando criança, não me lembrava de muita coisa.
A estória é um realismo mágico e é narrada em primeira pessoa por Paul Edgecombe. Chefe carcerário do setor responsável pelos detentos que são condenados à morte. O personagem principal, já muito idoso, regressa em suas memórias para apresentar um fato inusitado e bastante misterioso ocorrido com ele em seu local de trabalho. É quando recebe John Coffrey, um negro imenso acusado de ter estuprado e matado duas meninas, que Edgecombe irá se deparar com o inimaginável. O detento além de possuir um dom milagroso, pode não ter cometido tal barbárie.
O começo do romance é lento e o autor demora para focar na estória já conhecida pela maioria das pessoas. Entretanto, a obra é fantástica. Pena de morte é um tema bastante complexo, visto por muitos até hoje como tabu. Aqui o autor mostra um outro lado, humanizando as situações, tanto de quem está ali para tirar a vida daqueles que foram condenados, quanto dos próprios criminosos. Foi uma leitura incomoda em diversos momentos. Confesso que em muitos casos, já defendi (e ainda defendo) a pena de morte; e talvez por isso algumas situações tenham me impactado. Tirar a vida de alguém, independente de qual seja a situação e justificativa, não é nada fácil e para isso a pessoa precisa ter um psicológico bastante estável (me refiro à profissão do protagonista). Psicológico este que eu certamente não possuo.
A escrita do autor e o desenvolvimento narrativo nos envolve de maneira incrível. Cheguei a chorar enquanto lia, e me vi chocado o quão difícil deve ser não se apegar aos criminosos, trabalhando e passando horas com eles. Pode parecer para alguns um absurdo o que estou dizendo. Mas a maneira a qual King apresenta os personagens e suas interações, nos faz enxergar tudo com outros olhos.
Todos os personagens são muito bem trabalhados, sem exceção. Os momentos finais são de partir o coração e King mostrou mais uma vez que é muito mais do que um baita escritor. Ele transcende todos os limites. É um verdadeiro mestre quando o assunto é escrita.
Foi uma leitura dolorosa, cheia de reflexões e que eu certamente indico. Um livro diferente da maioria que King costuma escrever, mas que ainda assim, vale muito a pena. Só queria entrar no livro e abraçar os personagens. Torci muito por John Coffrey e por Paul Edgecombe. Livro marcante e que merece todos os elogios que recebeu e que continua recebendo aos longos dos anos.