Flavio Assunção 21/05/2012Poucas histórias são capazes de despertar sentimentos intensos. Ou melhor, poucas histórias conseguem lhe encher de sentimentos dos mais diversos possíveis, dos piores aos melhores. E um exemplo disso é "À Espera de um Milagre". A raiva, a dor e a frustração estão lá, impregnados como um câncer cruel. Mas, mais do que isso, somos presenteados com o a alegria, o amor e a emoção, que estão lá como uma forma de esperança. Não a esperança que vai decidir o destino de alguém para melhor, mas a esperança que diz que ainda há esperança para o ser humano.
O livro conta a história de Paul Edgecombe, um idoso que hoje vive em um asilo e que a única coisa que o mantém vivo são as lembranças dos tempos em era o guarda encarregado pelo Corredor da Morte da Penitenciária de Cold Mountain. Lá, foram muitos os momentos ruins, mas houveram também momentos intensos e uma delas em especial não lhe sai da memória: a de John Coffey, um negro de dois metros de altura acusado de assassinar duas irmãs. E é com essa premissa que Paul resolve contar tudo, tudo o que lhe corroi por dentro. Dá-se início ao espetáculo de mortes violentas, ódio pela injustiça e incapacidade de mudar algo já estipulado. E como não poderia deixar de ser, dá-se início à mágica, a lição de vida e a emoção extrema.
Narrado todo em primeira pessoa por Paul, a narrativa é extremamente agradável. Inexistem os momentos de descrições desnecessárias. Tudo é escrito na medida certa e com o intuito de colocar o leitor para dentro da penitenciária, vivenciando a maldade de algumas pessoas - que utilizam a fragilidade dos detentos para alimentar o sadismo interior e autoridade que possuem -, e bondade de outras - que acreditam que todos que lá estão já pagam e vão pagar pelo que cometeram.
A verdade, é que a história de Jonh Coffey fica em segundo plano nas três primeiras partes - são seis no total -, com o autor fazendo o leitor se inteirar inicialmente com os acontecimentos da prisão antes da chegada de John até, então, com as coisas durante sua estadia. E ainda assim, o grandalhão aparece pouco. Mas vale destacar que nas vezes em que aparece são momentos impagáveis. (Assim como é impagável a presença de um certo Sr. Guizos no ambiente da prisão).
Honestamente, é difícil não se emocionar com a história, ainda mais no momento em que se encaminha para o final. Acho que se não tiver arrancado lágrimas de um leitor, essa pessoa pode ter problemas. Ou é muito dura com a vida. Ou já começam a ler livros com a ideia de que é uma ficção e portanto não vale a pena se apegar tanto. Porque esse livro foi feito para trazer sensações e as lágrimas são inevitáveis, ou mesmo aquele frio no estômago. Mas cada um é cada um.
Stephen King quando quer consegue escrever obras belíssimas e que marcam. Consegue deixar um vazio pelo apego às situações e seus personagens. "À Espera de um Milagre" ficará marcado na minha memória, sem dúvida, e só lamento que tudo tenha acabado. De fato, uma das melhores histórias que já li.