spoiler visualizarChed 28/04/2024
Relembrar para não repetir: 25 anos de Columbine.
Destaco 3 pontos cruciais no livro: 1) atuação policial (antes, durante e após o ocorrido); 2) atuação da mídia e suas repercussões a nível local e nacional; 3) o perfil psicológico dos dois responsáveis.
1) na atuação policial, o que me pareceram erros grosseiros e não intencionais no início depois se mostraram como tentativas bem sucedidas (por um tempo) e sádicas da polícia encobrir a merda que fez.
discordo que ignorar sinais claros de que Eric e Dylan tinham sim potencial específico (e declarado em alto e bom som até) para cometer algo muito pior, pois também poderia ser o que desencadearia a raiva necessária a planejar e executar o ataque.
mas todo o resto, como demorar horrores para entrar na escola, ajudar as vítimas e encobrir a maioria das pistas do jeito mais ridículo e na cara possível é um desrespeito com as vítimas e com a comunidade em si. como se soubessem que sairiam impunes disso. é nojento.
2) sobre a atuação da mídia: compressível a necessidade insana de noticiar tudo em primeira mão, independente de se fosse verdade ou não. horrível? ÓBVIO, mas infelizmente acontece muito (o Caso Eloá, por exemplo).
dentre todas as coisas mais sem noção que fizeram, a maioria tendendo ao sensacionalismo e à espetacularização da violência, a PIOR foi: a mídia distorceu a realidade das testemunhas. a narrativa criada pela mídia. pessoas que já estavam num processo pós-traumático, sabe. isso, pra mim, é imperdoável.
o oportunismo religioso DESCARADO também foi péssimo mas, o que esperar de uma situação horrível em que todos estavam tentando tirar o máximo proveito pessoal? a religião, que deveria acolher e ser um conforto aos sobreviventes se aproveitou ainda mais deles. nada de novo, mas minha decepção permanece.
3) quanto ao perfil psicológico de ambos. o mais marcante é o quanto as personalidades deles eram diferentes. Eric com seu ódio por tudo e todos, Dylan com uma depressão imensa e um desejo tão grande quanto por amor.
o ego IMENSO de Eric e a autoestima baixíssima de Dylan. como ser diferente era bom para um, e ruim para o outro.
a tentativa de diagnosticar Eric numa escala de psicopatia pode até não ser garantia de sucesso em prevenir acontecimentos parecidos no futuro, mas é uma ferramenta para tentar, e trabalhamos com o que temos. esse tema foi muito bem esclarecido. como pessoas assim nem sempre vêm de lares ruins, alguns apenas o são. e ainda é bizarro como podemos conviver sem identificá-las.
me incomodou bastante foi (e aí é a cobertura do caso no geral, não do autor?) pintarem Dylan como mero seguidor de Eric, como se a responsabilidade não fosse compartilhada quando AMBOS decidiram isso, e AMBOS o fizeram. são meios diferentes com o mesmo fim.
é uma história que não dá pra ler e continuar inerte. são detalhes de uma crueldade imensa, especialmente quando vemos que eles queriam fazer isso e não tinham um pinto de remorso. no geral, a pesquisa foi tão boa que, pra mim, desfez várias incoerências em textos e podcasts que já tinha ouvido sobre o tema.
em certo trecho, o autor diz que nenhuma legislação sobre controle de armas foi alterada em resposta a Columbine, mas a atuação policial sim. e isso me conforta, de certo modo.
após terminar o livro, fui atrás de fotos do memorial e vi uma com a seguinte frase:
"isso deixou a nação de joelhos, mas agora que nos recuperamos, como as coisas mudaram; o que aprendemos?"
não tudo o que poderíamos, claro. mas espero que um dia seja o suficiente para Columbine não ser apenas sinônimo da tragédia, mas de força e resiliência, como os sobreviventes tanto desejaram.