joao.vitor. 13/02/2023
Versão adaptada para neoleitores
Esta adaptação de “Romeu e Julieta”, tragédia originalmente escrita pelo autor inglês Willian Shakespeare (1564-1616) é de autoria de Pedro Gonzaga e foi publicada em 2010 pela editora L&PM Editores. A obra integra a coleção “É só o Começo”, sendo concebida para neoleitores, pessoas que tem pouca experiência de leitura, desde os jovens aos idosos. Com cerca de 63 páginas, é estruturada em cinco capítulos, com as respectivas cenas, e acrescida de informações adicionais, a exemplo de uma síntese geral da história e de
No que toca aos aspectos técnicos, visto que a obra foi adaptada para um público específico, como sobredito, a mesma preza por uma linguagem simples, algumas notas históricas, geográficas e culturais e ilustrações criativamente trabalhadas. A dinâmica entre texto e imagem é muito importante para situar o neoleitor na história e promover uma melhor imersão dele nesta, agregando conhecimentos e desenvolvendo a sua experiência de leitura.
Contudo, ainda que eu considere a relevância de se adaptar a história aos neoleitores, justamente certos aspectos disto derivados não me agradaram, pois sinto que se produziu somente uma vaga silhueta da versão integral do texto shakespeariano, ainda que eu não tenha experienciado plenamente algum contato com esta.
Nesse sentido, não sei se é mérito da adaptação ou mesmo advindo da obra original, mas o vasto número dos personagens que permeiam a narrativa, por exemplo, não possui, em sua maioria, uma identidade bem construída, oferecendo-nos nada mais que uma simples presença artificial, embora necessária para o curso da história. Não obstante, alguns deles cativam a atenção, como o frei Lourenço, que auxilia nas preparativas para o casamento sigiloso de Romeu e Julieta, contrariando, assim, as ordens das famílias dos jovens. Imagino o impasse em que o sacerdote se encontrou para auxiliar na defesa da relação amorosa dos jovens. Ademais, o próprio casal que dá nome à obra tem as suas particularidades; a maneira intensamente apaixonada como se dirigem um ao outro, aquilo que ambos pensam e sentem, o seu modo de agir (salvo algumas atitudes que me pareceram imprudentes, como o assassinato cometido por Romeu ou o suicídio de ambos), enfim, tudo isto finda num romance que, ao menos para mim, se torna bastante convincente a quem o acompanha.
Por fim, apesar de ser popular o desfecho dos trágicos acontecimentos, é notável a imaginação criativa de Shakespeare ao conduzir um dos casos de amor mais célebres da literatura universal, bem como em abordar problemáticas ainda presentes no mundo hodierno, como a dualidade do amor e do ódio da natureza humana, e os nefastos efeitos que podem dela resultar, principalmente deste último.
Em virtude da sua estrutura linguístico-literária acessível, a versão adaptada da obra é mais indicada para o público leitor que está descobrindo o prazer que a leitura proporciona. Desta forma, a adaptação literária poderá instigá-lo na reflexão das questões ora tratadas e na busca pela obra original que serviu de base para aquela.