Nina Souza 30/06/2024
Um bom livro
Verona, um mundo sem normas claras, sem alicerces ou fronteiras. Em um ambiente tão fluído e instável, se dá a permanente popularidade de Romeu e Julieta, cuja intensidade evidencia o desejo de um casal que combina a juventude, a reciprocidade e a primeira última vez.
Numa ambientação que gira sempre depressa demais, a falta de tempo e de espaço faz com que o casal atinja uma imortalidade antes que possam, de fato, desacelerar a paixão – e é isso que impulsiona o leitor: o fluxo comovente, explícito e o arrebatamento de esquecer do princípio de guerra que invade a vida dos dois.
A “rebelião” realizada por Romeu e Julieta direciona as dicotomias presentes nas entrelinhas do texto, do duplo sentido das frases e do jogo de amor contra o ódio que vê no sacrifício a ardente essência de um desejo. Entre rancores antigos, duelos e juramentos de morte, o sonho de um futuro imprevisível desafia a antiga rixa familiar.
Romeu e Julieta são personagens impacientes, impulsivos e temperamentais, que a todo o tempo enfatizam a brevidade da vida e a grandeza dos afetos. No entanto, a tradução frenética e melancólica rouba a cena em todos os aspectos. As notas de rodapé são um show de amores à parte, com posicionamentos muito bem marcados e explicações maravilhosas, que acrescentam à narrativa e dão profundidade e maior entendimento ao que não foi dito explicitamente.
A experiência foi interessante, e o fato de ter lido na íntegra uma obra tão comentada e recriada tornou a leitura extremamente válida; apesar de conhecermos o fim, nada como navegarmos pelas escolhas e consequências que levaram ao desfecho de vidas incertas, volúveis e até mesmo imoderadas.
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