@adilsonteclado 26/08/2010
O HOMEM SEMPRE SE PERGUNTA DE ONDE VEIO E PRA ONDE VAI APÓS A MORTE. HÁ MUITAS ESPECULAÇÕES SOBRE REENCARNAÇÃO, MORTE DEFINITIVA, PARAÍSO, PURGATÓRIO, CÉU E INFERNO; CADA PESSOA ACREDITA NUM DESSE FIM PRA SUA ALMA – É CERTO QUE TODOS ACREDITAM QUE VÃO AO CÉU OU AO INFERNO PELO QUE FEZ OU NÃO EM VIDA. DIANTE DISSO, O ESCRITOR PORTUGUÊS, GIL VICENTE ESCREVEU EM 1517 A TRILOGIA: AUTO DA BARCA DO INFERNO, AUTO DA BARCA DA GLÓRIA E AUTO DA BARCA DO PURGATÓRIO. NESSA PRIMEIRA O AUTOR EXPÔS A SOCIEDADE PORTUGUESA ANTE AOS OLHOS DO DIABO E DO ANJO NUMA FORMA DE CRÍTICA DA MORALIDADE E AUTOANÁLISE.
ESTA OBRA ESCRITA EM DIÁLOGOS E OBVIAMENTE FEITA PARA O TEATRO, EXTERNA O PENSAMENTO DE CADA PESSOA AO SE DEPARAR COM O DIABO A BORDO DA BARCA AGUARDANDO-O; AO TOMAREM CONHECIMENTO DO DESTINO DA BARCA INFERNAL – EXCETO O JUDEU QUE, NEM O DIABO QUERIA LEVÁ-LO – , PASSAM DIRETO PARA A BARCA DA GLÓRIA ACREDITANDO QUE O ANJO IRÁ REDIMI-LOS DE SEUS PECADOS.
O PRIMEIRO A CHEGAR É O FIDALGO, REPRESENTADO PELO ORGULHO E PELA ARROGÂNCIA, MAS LOGO É DESPACHADO PELO ANJO E VAI-SE À BARCA DOS DANADOS; OS OUTROS VÊM A SEGUIR, NESTA ORDEM E REPRESENTANDO CADA QUAL SEU TIPO DE PECADO:
O ONZENEIRO: (TIPO DE AGIOTA QUE COBRA JUROS DE 11%); VEM COM UMA BOLSA QUE SIMBOLIZA A USURA E TENTA COMPRAR O PARAÍSO; O PARVO: TOLO QUE TINHA DUAS FUNÇÕES: DRAMÁTICA E IRÔNICA; ERA TAMBÉM ZOMBADOR E APARECE VÁRIAS VEZES NA PEÇA; O SAPATEIRO: ROUBAVA OS CLIENTES; NO FINAL DA VIDA PASSOU A FREQUENTAR MISSAS PARA GANHAR O CÉU; O FRADE: SÍMBOLO DO PECADO, POIS TINHA UMA AMANTE, A FLORENÇA. FOI MUITO IRONIZADO PELO PARVO; A ALCOVITEIRA: BRÍSIDA VAZ, QUE ACREDITA TER SIDO UMA MULHER SOFREDORA E POR ISSO TERIA LUGAR NA BARCA DA GLÓRIA; O JUDEU: QUIS PAGAR PRO DIABO LEVÁ-LO; CARREGAVA UM BODE NAS COSTAS PARA SIMBOLIZAR MOISÉS, RENEGANDO A CRISTO. POR FIM, FOI LEVADO A REBOQUE PELO DIABO DEPOIS DE MUITA INSISTÊNCIA; O CORREGEDOR E O PROCURADOR: CARREGAVAM CONSIGO PROCESSOS E LIVROS, SÍMBOLO DE SEUS TRABALHOS INESCRUPULOSOS; O PRIMEIRO QUERIA PROVAR ATRAVÉS DA LEI QUE DEVERIA IR PARA O PARAÍSO; O ENFORCADO: CRIMINOSO CONDENADO; CARREGAVA NAS MÃOS A CORDA PARA MOSTRAR COMO PAGOU SUAS DÍVIDAS PERANTE A SOCIEDADE, MAS ESQUECERA DE PAGÁ-LAS A DEUS E, POR FIM CHEGAM OS QUATRO CAVALEIROS: MÁRTIRES DO EVANGELHO; CARREGAVAM A CRUZ DE CRISTO, SÍMBOLO DE RELIGIOSIDADE; ESSES ERAM OS QUE O ANJO ESPERAVA PARA PARTIR DO CAIS RUMO À GLÓRIA.
COM ESSE AUTO, GIL VICENTE QUIS MOSTRAR À SOCIEDADE PORTUGUESA QUE TODOS TÊM PECADOS E DEVEM SALDÁ-LOS EM VIDA E ASSIM TAMBÉM PROPAGA A FÉ E O EVANGELHO DE CRISTO.
GIL VICENTE FOI O PRINCIPAL AUTOR QUINHENTISTA QUE, ALÉM DOS AUTOS DE MORALIDADE, PASTORIS E CAVALEIRESCOS ESCREVEU TAMBÉM AS FARSAS E AS ALEGORIAS. (AA)