Glau. 16/03/2024
É uma literatura portuguesa de 1500 que representa os pensamentos do povo da época... O que se esperar, n é mesmo?
Esse livro é bom pra analisarmos a história e como costumes e pensamentos de 500 anos atrás estão presentes no nosso cotidiano.
Gil Vicente escreve os personagens de modo que cada um representa um pecado, o que caracteriza o gênero Auto, que sempre tenta passar ensinamentos morais
Porém precisamos refletir e entender a problemática dessa obra. Dentre os personagens pecadores está um judeu, que não comete pecado nenhum, alem do "pecado", visto assim por pessoas da época, de seguir uma religião diferente do Catolicismo.
O Judeu é apenas um estereótipo antissemita, de como as pessoas enxergavam judeus naquela época, e isso fica explícito até mesmo na apresentação do personagem, que não tem nem nome, simplesmente é conhecido como JUDEU. Tal personagem apresenta características como avareza e corrupção; e simplesmente por não querer se converter à outra religião é considerado mais pecador que os demais, não sendo digno nem à Barca do Inferno, sendo rejeitado até mesmo pelo diabo.
Por outro lado, os 4 cavaleiros vão diretamente para o céu simplesmente por "servir a Deus" nas cruzadas, movimento esse comandado pelos europeus e que dizimou milhares de muçulmanos. Esses cavaleiros são salvos porque lutaram a favor de Deus, mas e as vidas que eles tiraram? Nesse caso não contam? Eles não seriam pecadores como todos os demais?
Essa visão europeia do séc. XV, uma visão teocentrica, é reproduzida até hoje por milhares de pessoas. Acredito eu que, hoje em dia, o livro de Gil Vicente, que foi escrito com a intenção de "ensinar" e "moralizar" tem outra funcionalidades, a de analisarmos o ponto de vista do autor sobre as pessoas da época em que este viveu e a de refletirmos e percebermos que pensamentos como esse ainda estão ativos na sociedade contemporânea.