O Leopardo

O Leopardo Tomasi di Lampedusa




Resenhas - O Leopardo


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Klotz 04/12/2018

O leopardo - Tomasi de Lampedusa - Círculo do livro 218

Quando nos recomendam a leitura de um livro listado entre os 100 melhores de todos os tempos, somos tentados a largar tudo para começar logo, apesar da prateleira cheia de livros pinçados, adquiridos e não lidos.
O leopardo, que no original é Il Gattopardo, foi indicado e aprovado no Clube de Leitura que em seis anos de convívio me levou a ler inúmeros clássicos que eu jamais leria ¬– e aplaudiria – se não fosse a indicação abalizada.
Por estar esgotado, comprei o meu exemplar num sebo virtual. A edição chegou com letras miúdas, sem entrelinhas, com a capa prejudicada, as folhas amareladas, cheirinho de mofo e alguns rabiscos típicos de criança não alfabetizada. Foi um começo desencorajador à leitura e a afeição do objeto.
Na apresentação tomei conhecimento que o autor, príncipe de origens nobres, de cultura vastíssima pensou a história do seu avô durante 25 anos e a escreveu entre 1955 e 1956. Algo parecido como se o herdeiro Orleans e Bragança contasse a história da mudança de regime vivenciada pelo antepassado.
O romance foi rejeitado pela maior editora italiana da época por ter sido desenvolvido nos moldes da escrita tradicional – romântico, descritivo e reflexivo – e não de acordo com a vanguarda de 1950. Lampedusa faleceu antes da publicação e obviamente antes do reconhecimento.
A narrativa se inicia em maio de 1860 com um frase em latim “Nunc et in hora mortis nostrae. Amen.” – agora e na hora da nossa morte. Amém. – é parte de uma oração, mas para mim é verso da música Ave Maria. A escolha simbólica é perfeita por ser a tradicionalmente tocada nas igrejas às seis horas da tarde, no crepúsculo, encerramento do dia como, no caso, é o crepúsculo de um reinado.
O crepúsculo de um reinado é justamente o tema da história. Trata do final do reinado de Fabrício Corbera, príncipe de Salina, apontando o fim da nobreza na unificação de todos os reinos, ducados, principados num único reinado.
A decadência da família Salina é apontada já no primeiro capítulo quando fala de Dom Corbera: “Ele era, numa família que, pelos séculos afora, não aprendera sequer a fazer a soma das despesas e a subtração das dívidas, o primeiro (e último) a possuir uma forte e real inclinação para as matemáticas.” A nobreza de Dom Corbera está em decadência, sente-se isolado e impotente na manutenção do poder, mas pensador que é, encontra uma solução para uma queda menos abrupta.
Mais do que a decadência de Salina, o autor descreve um parente próximo “à saída da propriedade dos Salina, avistava-se à esquerda, a villa semiarruinada dos Falconieri, e que pertencia a Tancredi, seu sobrinho e pupilo. Um pai esbanjador, marido da irmã do príncipe, dissipara todo o patrimônio para morrer em seguida. Fora uma daquelas ruínas totais em que se acaba por mandar fundir a prata dos galões dos librés. (libré é o fardamento formalíssimo dos criados servidores como metres, mordomos, garçons e guardas).
A mulher e filhos do príncipe são alienados para os acontecimentos em geral. Incapazes de perceber, de se mobilizar, mudar rotina ou tomar atitude. Ocupam-se com rezas e mais rezas.
O príncipe enfadado resolve ir à cidade para se desanuviar. E leva o padre consigo como álibi.
Quando entra em Palermo pela porta Maqueda, procurei imagens do portal na Internet. Logo encontrei fotos datadas de 02 de junho de 1860 com barricadas e canhões mostrando o clima de revolução eminente. Ao contrário do ótimo filme de Luchino Visconti, o livro não é explícito com cenas de guerra. A imagem revolucionária permitiu-me sentir o clima que a família do príncipe fazia de conta inexistir.
Depois da aventura na cidade o padre queria que o príncipe se confessasse. Dom Fabrício argumentou que era desnecessário e segredou que a esposa era por demais pudica. Tanto que “Tive sete filhos dela, sete, e nunca lhe vi o umbigo.”
Os personagens aos poucos ganham definições e cores. O sobrinho era pobre, mas galante e esperto. Logo percebeu que precisava se juntar ao time dos revolucionários. E saiu-se com uma frase marcante: “Se quisermos que tudo fique como está, é preciso que tudo mude.”.
A frase emblemática extraída de obra de Maquiavel, aponta para a erudição do autor e sugere que a forma de governar muda pouco, trocam-se os mandantes. “porque tudo fica na mesma, apenas com uma insensível troca de classes.”.
Tomasi tem um humor inteligente onde às vezes apresenta sofismas como: “Fiéis aos encontros, os cometas haviam-se habituado a apresentar-se pontualmente perante os que os que os observavam.” Ou ao olhar as estrelas “Lá estava Vênus, envolta no seu turbante de vapores outonais. Essa era sempre fiel, esperava por ele nas suas saídas matutinas, em Donnafugata, antes da caçadas, agora depois do baile.”.
Outro personagem destacado é Dom Calogero Sedàra. Nascido camponês, fez fortuna e vai pela primeira vez ao palácio do príncipe. “Agora sensível como estava aos presságios e símbolos, via uma autêntica revolução naquela gravata branca e nas duas abas que subiam as escadas de sua casa. Não só ele, o príncipe, não era já o maior proprietário de Donnafugata, como era obrigado a receber em traje de tarde um convidado que se apresentava em traje de cerimônia.” – “O fraque de Dom Calogero era uma catástrofe.”. Mas a sua filha, Angélica, é exuberante.
Os dois, Angélica e Tancredi, por interesse do príncipe e do novo rico, acabam por fazer o casal romântico unindo nobreza e fortuna para gestar o poder emergente, apesar de várias contestações como:
“— Isso é uma sujeira, Excelência! Um sobrinho vosso não deveria casar com a filha daqueles que são vossos piores inimigos e que sempre vos têm puxado pelas pernas. Que procurasse seduzi-la, como eu julgava, era um ato de conquista: mas assim é uma rendição sem condições. É o fim dos Falconeri e também dos Salina.”
O leopardo, título do livro, ora com bigodes compridos, ora com garras afiadas ou simplesmente cansado, é o protagonista no brasão da família.
Eu ainda gostaria de destacar a presença de Bendicó, o cão da família que com um arco participa do início feliz da história em 1860 e faz o desfecho, empalhado, em 1910.
Apesar de ser um romance arrastado, não deixa uma única ponta sem fechamento. É sensacional.
Um livro, para ser considerado clássico, atravessa gerações sem perder seu valor. Este tem prosa muito bem desenvolvida, mistura ficção e realidade e, principalmente, nos leva à reflexão com o tema atemporal da mudança.
Você não precisa entrar num clube de leitura e esperar a recomendação do livro. Comece já.
Se eu não consegui convencê-lo da leitura, então ao menos, veja o filme do mesmo nome. Os dois, livro e filme se complementam e impulsionam a magnitude da história. É estrelado por Burt Lancaster, Claudia Cardinale e Alain Delon e ganhou a Palma de Ouro em 1963.
Peterson Boll 11/07/2020minha estante
Demorei anos para lê-lo e agora, leitura já acabada, posso falar com alegria que realmente "O Leopardo" merece realmente todo o peso que a crítica literária o dá. A meu ver, é uma das melhores narrações/dissertações já feitas sobre a inexorabilidade do tempo.




MF (Blog Terminei de Ler) 16/04/2018

Obra-prima da literatura italiana se destaca pela análise profunda de seus personagens diante da imprevisibilidade da vida
Depois de muitos meses, terminei a leitura de "O Leopardo", único romance escrito pelo italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa. Era pra eu ter terminado a leitura há mais tempo mas, a existência de certos hiatos na minha vida, cheios de tristeza que não valem a pena aqui detalhar, acabaram por atrasar o término do livro. De certa forma isso foi bom pois, como um excelente vinho, pude degustar aos poucos essa obra-prima.

Como dito, Lampedusa escreveu apenas um livro acabado. Acho incrível quando um escritor se torna imortal com apenas uma obra! Aqui no Brasil, por exemplo, temos o caso do Augusto dos Anjos, autor de "Eu", livro incrível que tive a oportunidade de ler anos atrás e que fazia parte de meu acervo... até o dia em que emprestei para uma ex, o que deixou o paradeiro do livro totalmente desconhecido.

Enfim, "O Leopardo" conta a história de Don Fabrizio, o Príncipe de Salina, cuja família ostenta em seu brasão o felino do título, uma personificação metafórica do próprio personagem principal. Os Salinas pertencem à classe da nobreza, em decadência financeira e de status, devido ao levante do movimento republicano italiano. Fabrizio de Salina, chefe do clã, muito culto e amante da matemática e da astronomia, logo percebe que os dias da monarquia estão acabando, assistindo com melancolia as mudanças trazidas pelo novo regime.

Embora seja centralizado no Príncipe Fabrizio, Lampedusa apresenta outros personagens que, na escrita do autor, tornam-se interessantes e complexos como, por exemplo, Tancredi Falconeri, sobrinho favorito do Príncipe e que, ironicamente, é soldado na luta pela república. Concetta de Salina, filha do Príncipe, é apaixonada por Tancredi, mas ela se sente incapaz de demonstrar esse afeto, influenciada por uma rigidez moral ultrapassada. Por sua vez, Tancredi é comprometido com a bela e ambiciosa Angelica Sedàra, filha de Don Calogero Sèdara, um plebeu de traços rudes, ávido por um título nobre e cheio de dinheiro, coisa que os Salinas já não possuem tanto. A influência da Igreja, durante a mudança do regime, é representada na figura do Padre Pirrone, amigo do Príncipe e preocupado com os novos rumos.

"O Leopardo" traz como mensagem principal a necessidade de se adaptar às mudanças trazidas pela vida, entender quem manda e como se posicionar diante disso, mesmo quando não se quer. Isso fica claro na frase mais conhecida da obra, um aparente paradoxo, dita por Tancredi ao Príncipe: "Se quisermos que tudo fique como está, é preciso que tudo mude". É necessário também se modificar, abandonando velhas ideias, quando necessário e, é claro, ao meu ver, não deixar de expressar aquilo que você acredita e sente, ainda que a vida não lhe ofereça, num primeiro momento, o conforto, a alegria e a esperança.

Recomendo a crítica literária abaixo. Porém, ela traz revelações sobre o enredo, o que pode talvez estragar o prazer da primeira leitura do livro.

https://www.revistabula.com/552-algo-deve-mudar-para-que-tudo-continue-como-esta/

site: https://mftermineideler.wordpress.com/2014/04/30/o-leopardo-giuseppe-tomasi-di-lampedusa/
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Leila de Carvalho e Gonçalves 02/11/2017

O Príncipe
"Nós fomos os Gattopardos e os Leões; os que vão nos substituir serão pequenos chacais, hienas; e todos, Gattopardos, chacais e ovelhas continuaremos a crer que somos o sal da terra."

Publicada postumamente em 1958, "O Gattopardo" ou "O Leopardo" é a obra-prima de Tomasi di Lampedusa. Seu estrondoso sucesso foi uma surpresa, a medida que divergindo do neo-realismo vigente, trata-se de um romance cuja temática e estilo remonta ao século XIX.

Apresentando um narrador onisciente, sua história gira em torno da decadência de uma família da aristocracia siciliana, os Salinas, acossados pelo enriquecimento da burguesia e pela conflituosa Unificação Italiana.

O protagonista é Dom Fabrizio, um homem de meia-idade, culto e refinado cujas reflexões apontam para uma complexa dimensão psicológica. Tentando proteger seus bens da bancarrota, ele aprova o casamento de seu sobrinho e protegido, Tancredi Falconeri, com a bela Angelica, filha de Calogero Sedara, um grosseirão de origem humilde com um indefectível tino comercial.

Aliás, é de Tancredi a frase mais célebre do romance. Pouco antes de partir, para se unir as tropas de Garibaldi, em Palermo, ele comenta com o tio: "Se queremos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude". Em síntese, sem saída, a nobreza decide defender a queda dos Bourbons e a anexação do Reino das Duas Sicílias à Casa de Sabóia diante do risco de uma Itália Republicana que seria um desastre para seus privilégios.

O romance deu origem a um filme, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, no ano de 1963. Dirigido por Luchino Visconti, um conde, boa parte da ação exibe o castelo de sua família. Com Burt Lancaster, Alain Delon e Claudia Cardinale nos papéis principais, revela-se uma irretocável adaptação, a medida que o roteiro optou por diálogos, para exibir as ideias do melancólico patriarca.

Também merece atenção a história que envolve o livro. Durante toda vida, Tomasi de Lampedusa pretendeu escrever "O Gattopardo" e, quando iniciou o projeto, levou apenas um ano para conclui-lo. Pouco depois, foi diagnosticado com câncer de pulmão e, quando faleceu, não fazia ideia da importância que o romance teria. Todas essas curiosidades são apresentadas nessa edição de bolso, que dentre outros extras, possui dois textos bastante esclarecedores: o primeiro, da tradutora Marina Colasanti, e o segundo, de Gioacchino Lanzi Tomasi, filho e herdeiro do escritor.

Finalmente, a edição não está de acordo com a nova Reforma Ortográfica. Seria bem-vinda uma revisão assim como o lançamento de uma versão em capa dura ou brochura que realmente espelhasse a qualidade da obra.
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Leila de Carvalho e Gonçalves 21/10/2017

O Príncipe
?Nós fomos os Leopardos, os Leões; os que vão nos substituir serão os chacais, as hienas; e todos eles, Leopardos, chacais, hienas, continuarão se acreditando o sal da terra."

Publicada postumamente em 1958, "O Gattopardo" ou "O Leopardo" é a obra-prima de Giuseppe Tomasi di Lampedusa. Seu estrondoso sucesso foi uma surpresa, a medida que divergindo do neo-realismo vigente, trata-se de um romance cuja temática e estilo remonta ao século XIX.

Apresentando um narrador onisciente, sua história gira em torno da decadência de uma família da aristocracia siciliana acossada pelo enriquecimento da burguesia e pela conflituosa Unificação Italiana. Seu protagonista é o Príncipe de Salina ou Dom Fabrizio, um homem de meia-idade, culto e refinado cujas reflexões apontam para uma complexa dimensão psicológica. Tentando proteger seus bens da bancarrota, ele aprova o casamento do sobrinho e protegido, Tancredi Falconeri, com a bela Angelica, filha de Calogero Sedara, um grosseirão de origem humilde com um indefectível tino comercial.

Aliás, é de Tancredi a frase mais célebre do romance. Pouco antes de partir, para se unir as tropas de Garibaldi, em Palermo, ele comenta com o tio: "Se quisermos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude". Em síntese, sem saída, a nobreza decide defender a queda dos Bourbons e a anexação do Reino das Duas Sicílias à Casa de Sabóia diante do risco de uma Itália Republicana que seria um desastre para seus privilégios.

O romance deu origem a um filme, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, no ano de 1963. Dirigido por Luchino Visconti, um conde, boa parte da ação exibe o castelo da família do cineasta. Com Burt Lancaster, Alain Delon e Claudia Cardinale nos papéis principais, revela-se uma irretocável adaptação, a medida que o roteiro optou por diálogos, para exibir as ideias do melancólico patriarca.

Também merece atenção a história que envolve o livro. Durante toda vida, Lampedusa pretendeu escrever "O Leopardo" e, quando iniciou o projeto, levou apenas um ano para conclui-lo. Pouco depois, foi diagnosticado com câncer de pulmão e, quando faleceu, não fazia ideia da importância que o romance teria. Todas estas curiosidades são apresentadas na presente edição, que entre outros extras, possui o posfácio assinado por Maurício Santana Dias, seu tradutor, e mais dois textos bastante esclarecedores de Gioacchino Lanzi Tomasi, filho e herdeiro do escritor.

Finalmente, gostaria de parabenizar a Companhia das Letras pela impressão da obra em capa dura e o lançamento em ebook com uma qualidade à altura de sua importância. *
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Gabriela 01/08/2017

4.5 estrelas

Esse é o tipo de livro que eu não escolheria comprar, que estava pensando que seria chato e me surpreendi. Não foi à toa que um ganhador do prêmio Nobel de Literatura, Mario Vargas Llosa, indicou este livro. É muito bom mesmo! Mas não é um livro para se ler a qualquer hora, acho que consegui apreciá-lo melhor porque li a revista TAG antes, como sempre faço, para me ambientar e saber o contexto da história e do momento em que foi escrito também.

Também procurei o que povo estava falando do livro no app da TAG e muita gente estava reclamando de que era meio enfadonho. Então, um dos associados recomendou ler aos poucos, sem pressa, e prestando atenção na linguagem utilizada. Já nem me lembro o nome do cara que disse isto, mas segui o conselho e não me arrependo.

Se eu tivesse tentado ler rápido, teria me frustrado, pois a linguagem é bem rebuscada (tive que consultar o dicionário algumas vezes), parece que foi escrito na época em que se passa (os anos 1860). Contudo, eu não me incomodei, aliás, achei que a linguagem usada ajuda a nos inserir no ambiente aristocrático onde se passa a história.

O personagem principal é o Príncipe de Salina, um aristocrata siciliano, e o livro começa no ano de 1860. Nesta época, a Itália estava no meio de seu processo de unificação e Garibaldi tinha acabado de chegar à Sicília. Ou seja, era uma época em que o domínio da nobreza já estava em decadência e a ideia de ter uma república ganhava vida*, e é esse pensamento que dá o tom melancólico ao livro. Afinal, acompanhamos tudo pelo lado do aristocrata que se vê perdendo o prestígio.

Some-se a isto o fato de que ele estava passando pela crise da meia idade também, então temos muitos momentos de reflexão e introspecção do Príncipe. Não é um livro de ação, não acompanhamos as lutas e batalhas da unificação, ficamos sabendo de tudo pela ótica do Príncipe, no conforto de seu palácio. É um livro sobre como se sentiam os nobres decadentes, vendo a burguesia tomar conta de tudo com o apoio do "povão", mas sabendo que o povo estava sendo iludido, que só mudariam os nomes de quem estava no poder, mas a miséria do povo continuaria a mesma.

É difícil explicar porque gostei tanto de um livro tão pessimista, mas um dos pontos de que mais gostei foi o estilo de narração. Às vezes, o narrador interrompe a narração dos eventos presentes para nos dar um vislumbre do que acontecerá, se o Príncipe se enganou ou acertou nas suas especulações. Acima de tudo, o narrador é bem irônico, dando um "alívio cômico" ao pessimismo do Príncipe.

Também acho que todos nós podemos nos identificar um pouco com o Príncipe Fabrizio, especialmente com essa crise política brasileira, parece que muita coisa se aplica a nós. Enfim, a história não é longa, termina na página 275 do livro, tendo mais de cem páginas de apêndices com biografia do autor, sobre a consolidação do texto do livro, cronologia e mais. Deixo vocês com um dos pensamentos do Príncipe:

"[..] tudo continuará na mesma quando tudo tiver mudado." - p. 36


*embora, na verdade, a Itália só se tornaria uma república no século XX.

site: https://bibliomaniacas.blogspot.com.br/
Raquel 10/08/2017minha estante
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Dayse Lima 19/07/2016

Por que ler os clássicos...
Fascinante retrato da alternância do poder e dos anseios da burguesia pelos seus símbolos, trocados por moeda com a nobreza falida. Ambientado no período da unificação da Itália, escrito na década de 1930 e só publicado 20 anos depois, o livro, que alcançou grande sucesso, equilibra leveza e melancolia e revela no príncipe de Salinas um personagem complexo, entre a prostração e a resignação, mas sobretudo consciente de que é preciso que tudo mude para que nada venha a mudar.
Dayse Lima 21/07/2016minha estante
Retificando: o livro foi escrito em 1955, recusado pela editora a qual foi apresentado e só publicado em 1958


Dayse Lima 21/07/2016minha estante
Retificando: o livro foi escrito em 1955 e só publicado em 1958, depois de recusado por uma editora




Cristiano.Vituri 09/02/2016

O Leopardo camuflado, tentando não aceitar seu destino...
"O amor? Certamente, o amor: fogo e chamas durante um ano, cinzas durante trinta." Pág. 60. Atemporal, enérgica e divertida, a obra prima de Tomasi di Lampedusa, O Leopardo é histórico: Todas as cenas da unificação italiana, Garibaldi e seu exercito e toda movimentação da decadência aristocrática; É também político, quando mostra a nobreza tradicional se dissolvendo, as cobranças de impostos e o voto no plebiscito.

Impossível não associar Lampedusa à outros autores italianos (do meu mísero conhecimento): A veia cômica e satírica de Svevo; A representação do povo italiano de Pirandello e a forma narrativa e as cores e detalhes da natureza de Bocaccio, é evidente e sensacional essas características que o leitor pode rotular: Literatura Italiana.

Tudo isso amalgamado a várias referencias da geografia italiana, especificamente da Sicilia, "una bella viaggio", onde vive o Príncipe Fabrizio Salina, patriarca de uma família tradicional, um homem prático, que caça coelhos, cumpre suas funções religiosas, visita mulheres e tenta manter, em meio a revolução, a órbita e o controle todos os seus comandados. Entre eles, seu sobrinho Tancredi que para continuar na mesma, muda de lado.

As ações são pontuais, a mesquinhez humana e as analises sobre o que move a gana de cada personagem é cruel, mas realístico. Poderia falar muito mais sobre esse livro, as filhas de Fabrizio, as hilariantes aparições de seu cachorro Bèndico, o Padre Pirrone e seus problemas familiares, o sofrimento amoroso de Concetta, mas isso é uma deliciosa descoberta atraves das 214 páginas, ficarei por aqui, mas transcrevo uma parte muito tocante, em que o autor descreve a morte de um coelho, que pode ser um microcosmo do livro O Leopardo:

"Dois tiros, quase simultâneos, puseram termo a silenciosa espera; Arguto depôs aos pés do príncipe um animalzinho agonizante. Era um coelho: o humilde casaco cor de barro cinzento não tinha sido suficiente para salva-lo. O focinho e o peito haviam sido rasgados por horríveis golpes. Durante momentos Dom Fabrizio viu-se fixado por grandes olhos negros, invadidos rapidamente por um véu glauco, que o olhavam sem reprovação; cheios, porem, de uma dor atônita dirigida contra toda a ordem das coisas. As orelhas aveludadas haviam já esfriado, as patinhas vigorosas contraiam-se ritmicamente, simbolo sobrevivente de uma fuga inútil: o animal morria, torturado por uma ansiosa esperança de salvação, imaginando poder ainda consegui-la, quando como tanto homens, já estava perdido." Pág. 83.

Magnifico!
Paul Harris 01/07/2016minha estante
Excelente resenha de um livro maravilhoso. Atualmente estou relendo-o, na edição intitulada de "O Gatopardo". Essa passagem é belíssima; de fato, aliás o livro todo é pleno de passagens antológicas e imagens de inúmeros significados. Parabéns pelo seu texto.




Pateta 25/06/2015

SABOROSA VIAGEM
Uma das características das obras primas é nos transportar em muito verossímeis viagens através do tempo e do espaço. Após ler este livro eu posso afirmar que sim, estive na Sicília, no final do século XIX.
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Boure 14/11/2014

Um fundamental romance realista
Acho Fundamental a leitura dos clássicos, embora O Leopardo seja pouco lembrado. Mas não é justo ser um romance ofuscado. O Leopardo tem uma narrativa que flui com sua polpa maltrapilha, mas em seu realismo é perfeita ou quase.
Giuseppe Tomasi foi um príncipe de verdade. E o que vamos esperar de um príncipe escritor senão enfado? Pois não. Tomasi se apropria do romance que se propõe a narrar. Desde o ínicio ele domina a narrativa que é um dos melhores feitos do realismo, Sua descrições revelam uma Sicília sob um Sol intermitente, há um pessimismo e aceitação que o protagonista revela com a sutileza de um príncipe cansado. Poderia ser um romance muito chato que trata da decadência da aristocracia, e ascensão de uma possível República. Onde? Na Sicília.
Com bela imagens, Tomasi é afinado na manutenção de seu protagonista e em sua visão de mundo, ou mundo Siciliano. E certamente concluída a leitura temos certeza que Tomasi deve listar ao lado de grandes obras do realismo.

Alexandre Boure

site: http://www.designdoescritor.com/#!blog/c1odk
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otxjunior 23/01/2014

O Leopardo, Giuseppe Tomasi di Lampedusa
Já começo a associar a literatura italiana com o tema da angústia existencial do homem. Primeiro, Pirandello, que em O Falecido Mattia Pascal, com muito humor e ironia, apresenta um personagem cuja morte é equivocadamente anunciada nos jornais e por consequência ele passa a gozar da liberdade que não possuía enquanto "vivo". Depois, O Deserto dos Tártaros de Dino Buzzati, que em poucas palavras pode ser descrito como a história de um homem que espera a vida inteira para sua vida de fato começar. E agora, ao ler O Leopardo também percebi essa melancolia ou cinismo em relação à existência humana.
Situado na década de 1860, O Leopardo conta a história fascinante do último aristocrata de um sistema decadente, ameaçado pelas forças da democracia e da revolução. Completamente cético quanto a importância de sua posição perante as mudanças políticas, Don Fabrizio apenas segue o curso da história cumprindo o mote aparentemente contraditório: "É preciso que as coisas mudem de lugar para que permaneçam onde estão".
Além da figura marcante de Don Fabrizio, temos também a representação da nova classe social em Don Calogero, que casará sua linda filha Angelica com Tancredi, sobrinho e favorito do príncipe. As interações/conflitos entre as duas classes resultam em momentos de muito humor, sobretudo negro. Outros trechos possuem forte apelo visual. Perceba, por exemplo, o momento da chegada da família aristocrática em Donnafugata, cobertos de poeira acumulada durante a longa viagem, figuras irreais e obsoletas no novo cenário da Itália unificada. Esse romance histórico ainda contém outros tantos instantes inspirados que eu poderia citar aqui, mas prefiro que você descubra-os por si só. Boa leitura.
Arsenio Meira 23/01/2014minha estante
Lampedusa mesclou bem demais o momento histórico com a ficção. Muito boa sua resenha, Osman. Quem puder/quiser, leia. Vale a pena.


Gi 25/05/2017minha estante
Começarei a ler hoje. Sua resenha me deixou ainda mais animada. Parabéns.




MARA 06/02/2013

A perspicácia de um aristocrata narrando a decadência de sua linhagem após o "risorgimento". O pessimismo com que o Príncipe de Salina considera o futuro da Sicília demonstra o quanto ele conhece sua terra e seu povo que ele classifica como quente demais e preguiçosos demais. As mudanças mesmo, seriam para os sicilianos inoportunas pois os acordariam do sonho de perfeição no qual vivem. A fluência poética está presente em momentos inesperados como nos extertores de um coelho num dia de caça, nas artes de Bendicó, o cão fila e na ironia fina com que o príncipe trata assuntos espinhosos que fazem parte do momento vivido pela Itália na segunda metade do século XIX. Suas figuras metafóricas dão um fiel retrato de seu pensamento nobre quando este adjetivo era usado por quem era realmente nobre. Este título só merece quem um dia pensou assim: "Melhor aborrecer-se que aborrecer aos outros".
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Yussif 16/05/2012

É sem dúvida um dos melhores livros que já tive o prazer de ler. Já o reli inúmeras vezes e a cada nova leitura, um novo sentido, um detalhe que antes havia passado despercebido, uma nova forma de ver as coisas, um aumento da intimidade com os personagens. O autor é um príncipe, nascido e crescido em castelos e propriedades familiares seculares. Uma das coisas que mais admiro nele (depois das descrições) é a forma suave como o tempo passa, como a vida segue, como as coisas mudam. O personagem principal, Fabrizio Corbera, príncipe de Salinas, deixa que a vida passe enquanto assiste à decadência da monarquia italiana, sem fazer qualquer esforço para interferir ou inserir-se no novo contexto que se delineia.
Lwenyy 24/03/2023minha estante
oi, tenho esse livro e para ser sincera não tive nem um pingo de vontade de ler este livro, mas de so ler o seu comentario e o geito que descreveu o personagem me trouxe um vigor para ler ele! sei que talvez não va ler este comentario mesmo, porém obrigado! ;) (amei sua foto de perfilkakjkk)




Antonio 28/02/2012

Classico da literatura
Excelente leitura. Tambem deve ser visto o filme com Alain Delon e Claudia Cardinale. " É preciso que as coisas mudem para que tudo continue na mesma"
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Lima Neto 13/10/2009

um romance-histórico bastante representativo e significativo, no tocante aos valores e forma de vida de uma classe social, de uma família, que dadas as circunstancias, encontrava-se em início de processo de decadência.
o livro descreve não especificamente essa decadência, mas sim a forma de vida das pessoas da família em questão e o início de seus relacionamentos com pessoas de uma outra classe, na época vista como inferior.
"O Leopardo" é um livro bom, sem dúvida, e tem um final muito bom, magnificamente bem escrito, mas o início é um tanto quanto confuso e disperso, pouco envolvente para o leitor que não persiste em sua leitura.
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