spoiler visualizarAndre.Pithon 04/10/2023
Passei por muitos momentos lendo Before They Are Hanged.
Em um primeira fase, estive em um estado de êxtase, nossa como eu amo Glotka, meu torturador deformado sem dentes preferido! Como é bom ler algo vibes GoT, múltiplos protagonistas, mundo enorme, tensão política. Como Abercrombie é bom com um humor sutil. Não acredito que demorei um ano para ler essa obra prima! 4.5 no mínimo!
Segundo momento: Espera, isso não é meio cartunesco? Porque os nobres incompetentes são incompetentes demais? Porque alguns personagens são caricaturas superficiais sem nenhum traço distinto? Porque parece que não vai acontecer nada nesse livro? De novo? Foi um primeiro livro de setup para algo acontecer no segundo, certo? Certo? Por favor
E finalmente, um pouco de raiva. O livro tem três núcleos, e nenhum deles é concluído. O de Glokta começa excelente, se embrenhando na política de uma cidade estrangeira, que no final não serve de nada e é descartada. O do pessoal do norte bárbaros felizes tem umas guerras, umas brigas, um pessoal morre, mas nada é concluído, falta um conflito climático no final que sirva pra alguma coisa. E o mais ofensivo de todos é a sociedade do anel com bárbaro grande, nobre pomposo, mulher selvagem e mago misterioso indo até o fim do mundo para coletar artefato mágico, para no final não ter nada lá, e o livro inteiro parecer um desperdício fenomenal de tempo.
Eu gosto da prosa de Abercrombie, eu gosto de como ele constrói seus personagens masculinos (mulheres mal tem direito a migalhas, e seu uso é questionável no melhor dos casos, praticamente colocadas como recompensas), eu gosto de como ele consegue encher a prosa de Glokta com personalidade. Duas dessas três estrelas são só pra ele. Mal consegue andar o coitado e tem que carregar esse livro inteiro nas costas.
Mas por melhor que seja a escrita, PRECISA ACONTECER ALGO EM UM LIVRO. Eu amo a filosofia contemporânea de ter uma conclusão no livro mesmo que seja parte de uma série, criar histórias fechadas capazes de crescer. The First Law não é uma trilogia, mas um livro picotado em três sem uma gota de respeito por pacing ou por desenvolver começo meio e fim de cada parte individual.
Quando eu terminei, meu instinto inicial foi de começar o terceiro instantaneamente, em busca de algum desenvolvimento de trama, em busca de uma conclusão, desesperado para fazer esses personagens que eu não desgosto chegaram em algum mísero desfecho. Não vou, Abercrombie não merece dois espaços no mês, minha lista de leitura ficaria com ciúme, mas é o tipo de obra que não te dá uma migalha de conclusão, e não gosto do conceito de deixar tudo para o terceiro e último livro. Parece uma tarefa colossal concluir tantas linhas narrativas de uma só vez, de maneira minimamente satisfatória. Abercrombie pelo menos terminou, ao invés de largar a obra aberta como Martin.