Thiago 31/10/2023
Um show de senso comum, platitudes, auto hipnose e pitadas de boa vontade.
Autoestima blindada de William Sanchez
Antes de tudo é necessário dizer que este livro tem como público o foco nas mulheres. Não estava atento a isso até começar a leitura. Não é um impeditivo ao leitor masculino, muitas situações estão acima de sexo ou gênero. Mas é uma informação relevante saber sobre esse direcionamento.
Autoestima Blindada de William Sanchez é um usual livro de autoajuda com métodos de escrita bem tradicionais ao gênero, beirando quase a auto hipnose na repetição de mantras e “hashtags” a todo momento. Achei tendenciosamente perigoso a aceitação de alguns pontos trabalhados pelo autor, por isso primeiro vou destacar o que achei como um fator positivo do texto.
Quando se fala em autoestima é importante destacar temas como aceitação e reconhecimento de hábitos nocivos a nossa personalidade, sejam aqueles vindos de nós mesmos ou de outros. O autor busca o questionamento do leitor na tentativa de se conhecer e reconhecer melhor, seja através de exemplos cotidianos comuns ou jargões negativos que mantemos de maneira tóxica. Nesse ponto o livro faz um bom trabalho de conduzir uma leitura autocrítica.
Contudo ele também oferece uma metodologia tendenciosa e individualista recorrendo vez ou outra a platitudes que não levam a lugar nenhum. Trabalha com fontes de pesquisas e dados de maneira superficial. Algo realmente incômodo é como o texto faz uso de termos e conceitos científicos como “metafísica” ou “física quântica” levianamente, sem detalhar ou explicar como aquilo realmente se aplica no indivíduo.
Além de usar jargões técnicos na intenção de adquirir um viés científico, o conteúdo apela a crenças espirituais como fé e conduta positivista caso você siga alguma religião preferencialmente cristã, o que acaba sendo bem apelativo a um público bem específico.
Mas talvez o mais problemático na obra seja a sua insinuação de que o leitor, principalmente as mulheres, somatizam uma aceitação de problemas como se fossem quase que em sua maioria de origem emocional. Com afirmações do tipo “Não dependa de ninguém para sua auto estima, só depende de você mesmo que as pessoas a sua volta sejam extremamente tóxicas”. Isso impõe um senso de obrigação ao leitor de buscar aceitar ou “engolir” problemas de relacionamento como se só dependesse de si próprio a paz interior.
Acredito de verdade que o autor até tenha alguma boa intenção, mas é um livro que precisa ser lido de maneira muito crítica. Tendo em mente que qualquer exercício ou dica contida nele deve ser aplicada de maneira muito pessoal, evitando o individualismo egoísta.