Vanessa602 09/10/2021Uma anomalia superestimada (e uma resenha-desabafo de 4K)• Alex, o intelectual.
Ele estuda bastante, faz matérias avançadas, coleciona troféus, tem cadernos cheios de post-its e se formou summa cum laude. Tá certo que ele só toma decisões estúpidas e parece ter a idade mental e a boca suja de um pré-adolescente apesar de já ter 21, mas ele é inteligente e vai fazer história no congresso, juro. E o Alex realmente se importa com o povo. Como sabemos disso? Está escrito exatamente assim na pg 46. Na vdd, o parágrafo seguinte todo é sobre como o Alex “tem um certo problema de se importar demais com todas as coisas”. Sabe, ele é uma boa pessoa e a autora quer TANTO passar isso que nem se preocupou em dar uma cena onde o Alex, de fato, FAZ alguma coisa boa. Alguma coisa concreta, e não só uma lista das preocupações filantrópicas dele. Para alguém tão justo e preocupado com o bem estar alheio, Alex passa tempo demais julgando os outros, se sentindo superior, sendo cruel e fazendo piadas de mau gosto sobre tudo que ele não entende ou não gosta. Se não é interessante para ele, é desinteressante e ponto. Se não se encaixa nos gostos dele, é ruim e chato. Ele cria suposições sobre a vida íntima de todo mundo e elas são a verdade final. Sua inteligência só se expressa como pano de fundo subentendido, porque quando ele abre a boca é só para ser sarcástico, cruel ou desinformado sobre política. Aliás, o bias americano que ele tem é tão grande e nunca foi criticado ao ponto que me parece ser reflexo da percepção da própria autora. Em uma das oportunidades de provar seu enorme conhecimento e tecer uma crítica sobre a monarquia, ele solta o belo e educado: “é tudo um lixo”.
• Alex de novo, o desespero dos neurodivergentes.
Seu significado de algo "ter graça" e "ser interessante" começa extremamente distorcido. O que não só é normal, como esperado, para o arco do protagonista na narrativa clássica. Ele deve começar errado. O problema é quando, das duas uma: essa percepção não muda (nem para melhor ou pior) ou quando ela muda pelos motivos errados. Alex cai na segunda categoria. Ele só começa a ver charme e beleza no príncipe quando ele começa a perceber que eles não são tão diferentes assim, ou seja, quando nota semelhanças de gostos e personalidade entre eles. À primeira vista, essa parece a evolução ideal de um relacionamento, e talvez até seja para algumas pessoas, mas não para mim. Por ex, tem uma cena onde o Alex descobre que o Henry também gosta de Star Wars e fica surpreso porque sempre achou que seus passatempos seriam algo chato, tipo polo ou etiqueta. Eles tem um momento de bonding em cima de gostos em comum. Mas sabe o que seria mais romântico? O Henry mostrando para o Alex que o polo até que é bem interessante, ou o Alex passando a gostar do polo porque o Henry brilha quando fala sobre algo que gosta, mesmo que o Alex não concorde ou não veja graça nisso. Isso sim é romântico; ceder e aprender com o outro, prestar atenção ao invés de julgar; perceber sua posição de ignorância e abrir mão dela em nome da compreensão. Mas nessa cena tudo que é estabelecido é que para o Alex respeitar e ouvir o Henry, esses tais gostos precisam estar previamente relacionados ao conceito de “interessante” dele. Nada muda, ninguém aprende. A pior parte é que o Alex ainda tenta convencer o Henry de que o filme favorito dele é o errado, e olha que eles estão falando sobre algo que os dois gostam! Eu fico aqui pensando… se o Alex descobrisse que o Henry na verdade AMA polo, se diverte horrores nas aulas de etiqueta, e tem a mesma expressão indiferente mesmo quando está feliz… será que o Alex ainda ia se interessar por ele? Será que iria se apaixonar mesmo assim? Esse tipo de coisa se repete no livro inteiro, até depois que o afeto e relacionamento está estabelecido. Como quando o Alex sugere que o Henry deveria vestir mais estampas, ou quando o Henry começa a falar de um assunto mais nichado e passional e o Alex só responde “legal”. Ou quando o Alex diz que o quarto do Henry não tem “a cara” dele. Ou quando ele não para de fazer suposições sobre quem o Henry realmente é por trás de toda aquela “faceta desinteressante”. Sério, ele começa a história reclamando que a família real toda, incluindo e especialmente Henry, é desinteressante e indistinguível. Aí ele se apaixona pelo príncipe e descobre que por trás dessa aparente chatice existe alguém complexo (uau, surpresa, ele descobriu que somos todos humanos e portanto complexos por natureza!). Agora você esperaria que ele tivesse aprendido alguma coisa com isso, mas não. Mesmo depois de já estar namorando o Henry e conhecer de perto os amigos dele, ver que as primeiras impressões sobre Bea e Henry estavam erradas, Alex na primeira oportunidade que tem, CHAMA O RESTO DA FAMÍLIA REAL DE DESINTERESSANTE E INDISTINGUÍVEL. Zero autoreflexão e transformação por parte dele e 100% nojo por parte minha. Por causa disso temos trechos como “Por que Henry teria agido como um babaca entediante por tanto tempo se gostasse de mim?”, “Descobri recentemente que você não é tão chato quanto pensei.” Como eu disse, meu problema não é ele começar com uma falha de caráter (não entender o Henry e por isso não gostar dele ou respeitá-lo) e sim ele resolver essa falha de um jeito também problemático (começar a gostar do Henry só porque percebeu que eles são parecidos e daí portanto respeitá-lo).
Sem dizer que Alex é extremamente cruel com alguém que nunca fez nada para ele. Ele até admite que os dois não são rivais ou arqui-inimigos, mas então no que se baseia a antipatia absurda e unilateral do Alex? Ele está sempre tão irritado toda vez que mencionam a Inglaterra ou a família real, e olha, não sei vocês, mas para uma história que se propõe a ser enemies/rivals to lovers, não achei um único motivo que justificasse a desgosto extremo do Alex. Talvez os santos deles não bateram, ok, mas até onde percebi, apesar das comparações do público, o relacionamento deles não é uma pizza. Se o Henry ganha algo, o Alex não perde nada. Pelo menos nada que justifique tamanha amargura dele. O cara só… não gosta da vibe que o Henry e família real passa. E, minha nossa, ele não cala a boca sobre isso. Pobre dos amigos dele que tem que passar tempo ao lado de alguém tão amargurado e preocupado com a vida alheia enquanto crítica que as pessoas se preocupam demais com a vida alheia. A página 17 é ótimo exemplo do quão insuportável e infantil o Alex é. E beleza, no final o Alex aprendeu a respeitar e admirar o Henry (do jeito errado, mas vamos ignorar isso zzzZ), o problema é que a história não dá a entender que ele mudou esse comportamento com TODO mundo. Acho que se o Alex (já namorando o Henry) repetisse essa mesma dinâmica com um relacionamento de outra natureza, ele manteria as mesmas características negativas. É aquela coisa, se a pessoa trata todo mundo mal menos você, uma hora ela vai te tratar mal também. Pra mim, não é romântico imaginar que ainda existe a possibilidade de ele elogiar o Henry, sair da sala e voltar a ser aquele babaca com outras pessoas.
• Exposição de caracterização e profundidade de personagens.
Há linhas e mais linhas de exposição de caracterização, tanto para o Alex quanto para o Henry (mas especialmente para o Alex). Casey autora amadah, seu livro todo já é do pov do Alex e cê tá insegura que a personalidade dele não passou pro papel?? Só isso que justifica trechos como: “Uma barrica de charme, monólogos intermitentes e independência teimosa”, “a imagem de Alex é puro carisma, inteligência e humor cínico”, “Alex, você é o CDF da família”, “baixinho, autoritário, fofo, invocado”, “Alex é o menino de ouro. O galã bonito e rebelde de bom coração. O garoto que leva a vida tranquilamente, que faz todos rirem. A mais alta taxa de aprovação de toda a primeira-família. A graça dele é exatamente que seu encanto é o mais universal possível”, “nunca confiei muito em mim mesmo, ou no que eu queria”, “sua boca grande, seu temperamento imprevisível, seus impulsos ardorosos”, “me pressiono demais sem motivo”, “sou um pouco nerd em história”, etc etc. Sim, tudo isso é citação direta. A autora se preocupou tanto em forçar essa personalidade no Alex, que esqueceu de diferenciar suas personagens femininas. Se me pedissem para desenhar a Nora, June e Bea, eu só precisaria copiar e colar o bonequinho de uma placa de banheiro feminino. Nem as cores de cabelo delas eu lembro, que dirá personalidade. Até as outras personagens femininas secundárias (Ellen, Amy, Zahra e Catherine) são completamente indistinguíveis na sua única qualidade de “duronas”. Essas últimas também não me convenceram em suas posições de poder. Na verdade, elas sequer convenceram como adultas formadas. Tudo que saía da boca da Zahra, apesar de cômico, não condiz com o papel dela na história. E o mesmo vale para Ellen. Elas seriam personagens que eu teria gostado em outra circunstância, porque são excêntricas e engraçadinhas, mas não dá para levar a sério um livro que não se decide se quer ser político ou paródico, mas que também não tem capacidade de encontrar um meio-termo.
• Falando em política…
Nesse livro, criticar o imperialismo e a monarquia é apenas isso… uma crítica. Os personagens constatam absurdos políticos, mencionam atrocidades históricas, as repreendem com um senso de moralidade superior e depois vão beber uma breja. As reflexões se limitam a frases de efeito prontas, e ao invés de tratar assuntos sérios com alguma seriedade, a história leva esse tom romântico a temas que são tudo menos comédia. Isso faz com que o príncipe da Inglaterra use metáforas de Star Wars para paralelos políticos reais, que Ellen trate de diplomacia com a graça do tiozinho do boteco e o primeiro-filho pareça um ignorante sobre a própria nação, reforçando a imagem de que o americano médio tem zero autoconsciência dos defeitos da sua política interna e vive no faz de contas do excepcionalismo americano (que desaparece de vez em quando só para jogar que a casa branca foi construída por escravos e tchau tchau). Henry e Alex parecem dois adolescentes de condomínio revoltados com o próprio privilégio, que não perdem a oportunidade de endeusar figuras políticas alinhadas a suas ideologias, demonizar antagonistas e simplificar questões cheias de nuances. Tudo que se opõe a eles não têm qualquer profundidade porque foi escrito para ser odiado, e eu não consigo respeitar uma narrativa que não permite que seus antagonistas, por mais terríveis que sejam, tenham algum crédito. As ideologias filantrópicas e intenções benevolentes não significam nada quando no dia seguinte esses mesmos personagens liberais, democráticos e “do povo” vão assinar documentos que violam a liberdade das pessoas de uma forma ou de outra. Não dá para ler uma comédia romântica sobre a casa branca e o palácio de Buckingham e ao mesmo tempo andar na ponta dos pés por cima de assuntos que você sabe que matariam o clima do romance. É por isso que um príncipe rejeitando o dinheiro da coroa - mas não a coroa em si - é tão hilário. Tipo, eu quero continuar vivendo no luxo adquirido às custas do colonialismo, mas odeio o colonialismo mais do que tudo. A história precisa se decidir: ou deixa seus personagens completamente inconscientes de seus privilégios e erros ou retira eles totalmente da máquina estatal, não dá para sentir um pouquinho de culpa e no dia seguinte dar uma festa com dinheiro público. De forma resumida: a monarquia é um lixo e a política americana também… enfim, vamo se pegar.
• Tá, tipo, sei lá, é, certo, sabe, escuta e palavrões.
Eu sei que na vida falamos assim, mas reproduzir com exatidão esses vícios na ficção não torna os diálogos mais realistas, e sim cansativos e maçantes. Os personagens não têm o luxo de divagar tanto o tempo todo porque são PERSONAGENS DE PESSOAS, e a história não tem o luxo de se prolongar mais do que o necessário para cumprir sua função. Uma vez ou outra passa, mas nesse livro todo mundo fala assim o tempo todo. Outra coisa que todo mundo faz demais é falar palavrão. Oscar, Ellen, June, Zahra, Alex, Luna, Nora, Bea. Não escapa um (até a Catherine e o Henry). Apesar de eles estarem em um círculo social próximo, esse costume adquirido não se expressaria numa reprodução perfeita desses vícios, especialmente levando em conta que cada pessoa ainda é única, com um background, personalidade e educação individual. Pra ter uma ideia, contei 7 palavrões em uma só página. Se os personagens estão bravos ou coisa assim, tipo em uma discussão (e se palavrões fazem parte da forma expressão deles) eu entendo. Mas aqui eles os usam até para descrever objetos e dentro da narração. Ex do Alex descrevendo uma jaqueta: “É a [*****] de uma Gucci”. Eu também relevaria isso se fosse só ele usando palavrão fora dos momentos convenientes, pq poderia ser algo único e intencional, mas muitos outros personagens compartilham dessa característica. Incluindo a autora, aparentemente.
• Sugarcoat do nsfw.
Todo personagem é boca suja... até começar a se pegar, pq daí a descrição vira tão puritana e vaga que eu nem sei mais o que está acontecendo. Se vai escrever tanto hot quanto esse livro tem, no mínimo comprometa-se a fazer o trabalho completo. “Quando acaba”, “fazer”, “depois”, “assim que termina”. Por ex, pg 138: “Se eu soubesse que bastava isso para fazer você calar a boca, teria feito há séculos.” E, logo em seguida: “Vai se foder.” Fazer o quê? Beijar? Amassar? Sexo oral? Beijo grego? O QUÊ?? Ninguém usa palavras concretas para momentos íntimos, mas todo mundo adora soltar palavrão na hora do almoço, ou mesmo depois que a cena acabou. Mas ali, na hora, o leitor que lute para adivinhar se eles tão falando de posição de sexo ou xadrez.
• Capítulos enormes, resumo de acontecimentos e falta de cenas completas.
É chover no molhado, mas os capítulos realmente são longos demais. O problema nem é exatamente as cenas, mas a quantidade de cenas dentro de um único capítulo e a quantidade de descrição ao invés de cenas. Ex: quando a merda começa a bater no ventilador e eles precisam fingir que são hetero, a autora volta a desistir de escrever cenas. Temos descrições falando sobre como eles estão tristes, destruídos, desmotivados, sensação de desespero, ansiedade etc, mas nada de cenas mostrando isso através de ações e reações concretas. Algumas vezes chega a ser confuso, como por ex na pg 141, onde uma cena claramente chegou ao fim (ao ponto de se passar SEMANAS desde que ocorreu e já ser outro cenário) mas a autora continua escrevendo no mesmo capítulo?? Só de raiva eu ia lá e rabiscava “Capítulo X” entre as quebras de cena pra não me sentir mal de pausar a leitura no meio de um cap.
Outra coisa é que principalmente na introdução, a história raramente tem cenas com começo, meio e fim. São resumos de encontros, resumos de interações, resumos de acontecimentos. A cada parágrafo o evento muda e como ficamos em cada cena por poucas frases, não dá para entrar em detalhes sobre nada. Sentimentos, cenários, diálogos.. tudo permanece no raso pq não há tempo para aprofundar. França romântica. Hotel nos EUA. Os vários encontros vão virando uma coisa só porque não há uma delimitação de tamanho, e não há um núcleo temático e de conflito único para cada encontro, por isso depois fica difícil lembrar como eles foram de um ponto para o outro. Uma hora lá a autora até escreve uma LISTA de TÓPICOS de conversa entre o Alex e Henry. Tipo oi??? mulher escreve a cena completa e põe eles pra conversar ao vivo e não transar, só pra variar.
• Ahh o romance.
Várias vezes quando os personagens se encontravam e havia uma questão pendente, eles a resolviam com sexo. Ninguém conversava e quando pensavam um no outro quase sempre tinha a ver com partes do corpo. Mãos, boca, cintura, bíceps, oMbRoS LaRgOs (juro, alguém pfvr dá um “localizar e substituir” nesse último). Não me entenda errado, esse é um tema interessante… quando é mencionado e criticado. Ou seja, quando fica claro que o sexo como forma de resolução de problemas é, por si só, um problema para o casal; quando há um motivo que justifique essa fuga da comunicação direta. Isso não acontece aqui. Toda vez que eles saem juntos, o objetivo É transar escondido. Esse é o objetivo final dos encontros. E quando não é possível dar uma escapadinha, o único sentimento que permanece entre eles é, surpresa!, a vontade louca e delirante de transar. Por ex, algum tempo depois do primeiro encontro (sexual) deles, eles marcam de se ver de novo. Imaginei, portanto, que estava na hora de eles aprofundarem essa relação com um encontro fofinho, esquisito e romântico, ou no mínimo passaram tempo de qualidade na presença um do outro. Mas quando Alex vai ver Henry praticando polo, tudo que consegue pensar é na "bunda do Henry balançando na sela e suas coxas impulsionando o cavalo" ??? Será que não dá para apreciar o boy com orgulho ao invés de desejo pelo menos uma vez? A habilidade dele? A expressão relaxada? Saudade e borboletas no estômago? Tem um trecho que retrata muito bem essa dinâmica nada complexa dos dois: “...como se o único pensamento possível fosse o corpo de Henry e seu rosto corado, e todas as outras moléculas existentes não passassem de um mero inconveniente." Perfeito, Alex. Palavras suas. A parte triste é ver que o cara nem se deu o trabalho de entender como funciona algo que é importante para o Henry e que ele passa muito tempo da vida praticando. Alex estava concentrado demais o imaginando pelado e cavalgando. Ele próprio diz que não liga e que o esporte é uma piada. E aí, na troca de e-mails seguinte, adivinha qual é o tema? Isso, Alex elogiando a língua de Henry e admitindo que sente saudade… da boca dele. Em certo capítulo, Phillip diz umas coisas que afetam o Henry, e Alex nota. É agora, pensei, que eles vão dividir um momento de dor e conforto, conversar com honestidade sobre a pressão de ser um príncipe gay - e Alex vai aliviar essa pressão com sua companhia gentil e parceria silenciosa. O que eles fazem? Transam no almoxarifado. Na página 256 o Henry começa a chorar e a reação do Alex? Vem cá deixa eu te comer que logo logo passa. “As coisas por baixo da superfície. Sempre foi isso que Alex buscou” Superfície = roupa. Novamente, é o próprio Alex que enumera as prioridades: “Quero seu corpo e quero o resto de você também.”
Fiquei tentando decifrar qual foi a intenção dessa dinâmica. Bom, já que eles aparentam não ter muitos problemas de comunicação (exceto aquele um do lago, pode-se dizer que eles não fogem da DR), talvez o que esteja acontecendo aqui seja um “[*****] buddies turn something more”. Ou seja, os dois começam alegando que é só pelo sexo e acabam se apaixonando. Acontece que eles nunca alegaram isso. O Alex até admite que gosta do Henry na pg 98 e o Henry depois admite que sempre gostou dele. Mas então, se eles já tinham sentimentos afetivos, já tinham a maturidade de conversar, já tinham interesse a longo prazo, pq esses dois só tem cenas românticas lá no final e desperdiçam a etapa mais divertida de uma história de amor transando? Especialmente em um enemies-to-lovers, o charme está slow burn, no flerte, no processo de se conhecer e se entender, passar tempo juntos (por vezes forçado), e presenciar a evolução da intimidade. Mas a única evolução da intimidade em VBSA é que eles vão de sexo oral no primeiro encontro para sexo anal no segundo. Eles passam o segundo ato inteiro assim para, no terceiro, dizerem eu te amo a cada minuto. E como eu disse, tanto a autocompreensão de sentimentos por parte dos personagens quanto a declaração em si vem cedo demais. Se fosse um romance comum, ok, tanto faz. Mas isso é um suposto enemies-to-lovers. Não sei quais livros do tipo a autora anda lendo e tomou como referência, mas além do “enemies/rivals” acabar cedo demais aqui (e na minha opinião nem existir...), o “lovers” continua por tanto tempo que é como chutar cachorro morto. Chega um ponto onde, quanto mais você aperta a tecla do amor, mais ela perde estraga e perde o efeito. Toda vez que o casal repete que se ama e se beija com mil declarações, uma borboleta no estômago morre (não que eu tivesse uma para matar). Em um romance assim, o livro deveria acabar mais ou menos onde o conflito interpessoal do casal alcança o ponto mínimo. Se o casal se resolveu e ainda tem 100 pgs até o fim, as chances são de que o conflito dali para frente vai ser só interno e/ou externo, e a gente vai ter que aturar um domestic fluff super saturado e açucarado. E se eu quisesse isso, iria para o AO3. Outra coisa que me incomodou um pouco, e que eu nunca achei que fosse dizer, é que eles se provocam DEMAIS. Esse é o tipo de dinâmica que sempre me ganha em romances. Mas senhor… dá para contar nos dedos a quantidade de vezes que Henry e Alex tem uma conversa séria e honesta sem provocaçãozinha sarcástica e vai-e-vem aFiAdO.
• Falta de comunicação em casais fictícios ainda vai ser a causa da minha morteee.
Da pg 246 até a 262 o casal enfrenta um obstáculo tão mixuruca que ele poderia ter sido completamente descartado da história e ainda deixaria o livro mais barato para as trouxas como eu que que compraram na pré-venda. É o típico probleminha de comunicação que se arrasta por tempo demais e tá lá só pra encher linguiça. Àquela altura, os dois já estavam tentando fazer o relacionamento funcionar, já estavam tentando ser honestos e jogar limpo, então pq guardar aquele segredinho bobo e fazer todo aquele drama? Se ao menos a causa fosse algo proporcional a consequência… mas não, marmanjo de 23 anos fugindo da cena e sumindo por semanas pq tava com medo admitir os sentimentos? Ah plmdds, os dois já estavam namorando e planejando o futuro juntos (eles tavam literalmente na casa do sogro !!!). E o Alex, que ia dizer eu te amo mas no primeiro problema de casal começa a questionar seus sentimentos kkkkk. Aí quando eles finalmente discutem, o Henry culpa o Alex por ser egocêntrico e não perceber que o problema não era ele, e sim o próprio Henry. AMG, VC TEM BOCA PRA QUÊ? Foi você que sumiu e agora a culpa é do Alex por não adivinhar o que passa na cabeça do príncipe? Se fossem dois adolescentes eu nem diria nada, mas estamos falando de filhos de líderes mundiais, diplomatas super inteligentes. Tenha paciência.
• Antagonistas.
Que clichê, não basta o vilão fazer coisas vilanescas o tempo inteiro, ser completamente intolerante em todos os aspectos, não receber uma gota de dimensão e empatia, ele também é abusador. Sério, quando essa revelação foi feita eu já não ficaria surpresa em ver ele enrolando o bigode e dando risada. O mesmo também pode ser dito da rainha, a mulher não sente nada além de repulsa pelo diferente e tudo que ela quer é controlar o resto da família. Ela começa assim e termina assim.
Ai, chega. Eu já falei tanta coisa que vou até pular a conclusão. Mas é isso, Vermelho, Branco e Sangue Azul é uma anomalia superestimada. Casey conseguiu a proeza de me fazer odiar um livro que tinha absolutamente todos os tropes que eu amo kkkk. Não entendo o hype e estou com saudade de ler um enemies-to-lovers que preste :c