Linest 10/09/2022
Uma leitura cansativa, mas interessante
Eu lembro de ter lido O Ateneu aos meus 16 anos, por um acaso achei o livro na biblioteca da escola e a sinopse tinha me interessado, então peguei para ler. Não tinha a idade certa pra obra que é desnecessariamente densa e repetitiva, mas eu havia gostado do Sérgio como personagem e continuei lendo até o fim, mas sem absorver muito. Achei legal, mas era isso.
Essa semana resolvi escutar o audiobook, tenho hoje 27 anos e realmente, ler (no meu caso, escutar) esse livro com mais bagagem me ajudou; a leitura ainda é penosa, cansativa, mas o livro é bom, o personagem de Sérgio é pessimista, crítico, hipócrita, rebelde e até mesmo não confiável, afinal vemos as atitudes de outros personagens pelo seus olhos, mas eu gosto de como ele é sarcástico ao falar do diretor do Ateneu, a mistura de desencanto e carinho das memórias de Sérgio faz da narrativa algo agridoce e até triste, e o fato de muito ter sido baseado nas experiências do próprio Raul Pompéia traz pro livro um ar de veracidade pela descrição detalhada de algumas cenas que são marcantes para o personagem. O Ateneu é uma prisão, e a forma como perto do final o personagem crítica a ideia do que é um internato, um lugar cruel cheio de desigualdade e hipocrisia baseada em sua posição na classe social é uma reflexão deliciosa, junto com o amargor da jornada que Sérgio teve no colégio.
É por momentos como esse que, apesar da narrativa entediante em certos momentos, O Ateneu é um dos meus clássicos brasileiros favoritos.
Admito que uma coisa que me impressionou na adolescência foi a homoafetividade descrita no Ateneu, onde meninos até mesmo faziam casais como um acordo de proteção, na época eu tive pouquíssimo contato com literatura LGBTQ+ e esse livro me cativou por isso, e agora, já sabendo quem eu sou, esse detalhe é ainda mais especial, principalmente se vendo a época que foi publicado, e ter não apenas a afetividade entre os rapazes em destaque, mas a própria homofobia e violência contra essas "amizades" ilegais no Ateneu faz com que, pra quem é LGBTQ+, o livro tenha um peso diferente. Ler Sérgio como um rapaz gay no armário, que não se aceita (como o próprio Raul) traz para o livro um ar mais dolorido e uma visão interessante da fase onde um menino se torna um rapaz e então, no fim, vendo sua juventude queimar, um homem.
Enfim,vale a pena ler o livro, sendo que vi o audiobook como uma opção mais palatável e acessível para quem não tem tanta paciência para uma escrita rebuscada e excessiva.
O Ateneu é um belo livro, melancólico e direto, mas doce como a nostalgia da juventude.